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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

O olhar crítico não me deixa aceitar facilmente os modismos. Consumo apenas o que apresenta alguma função para mim, nem que seja uma função simbólica. Quanto à informática, sou mais receoso ainda. Usando computador desde 1992, estou na minha quarta máquina. Ou seja, fico em torno de cinco anos com um computador – uma verdadeira eternidade nos tempos atuais. Já fiz várias tentativas com o notebook, mas ainda não me animei. Não gosto de carregar bolsas ou mochilas, o computador portátil atrapalharia minha mobilidade. Em compensação, voltei a ter comigo cadernos e canetas. Para um escritor, tais instrumentos ainda substituem um computador. E, quando preciso acessar a internet, há sempre uma lan house na esquina. Não sei usar câmera digital, tenho dificuldade com caixas eletrônicas, com controle remoto e tudo mais.

Esta pessoa avessa às novas tecnologias é o mais novo viciado no Twitter. Faz um mês que venho me dedicando a ler e a postar micromensagens.

Sou de uma contradição imensa. Defensor do livro impresso, crítico da sociedade da superação tecnológica, tornei-me o que se chama por aí de tuiteiro, e hoje faço parte da tuitosfera. Dependo dessa droga, injetada em pequenas doses em nossa corrente sanguínea – não se pode exceder o limite de 140 caracteres.

Já me perguntaram o que me levou a esta que é a sensação do momento. Muitos usam o Twitter para se informar, saber da última notícia. Mal começa a chover em São Paulo e aqui na roça já fui alertado para o perigo de uma nova enchente. Outros usam para divulgar o seu trabalho, postam algo apenas quando têm uma novidade sobre o único assunto importante do mundo, eles mesmos. E há ainda aqueles que fazem o diário de vidas banais, tipo "estou indo agora ao banheiro", como se isso fosse um grande furo de reportagem. Há exageros, é claro, mas acompanho tudo, principalmente as dicas culturais e tenho a sensação de viver entre pessoas especiais. Escolho quem acompanhar em função do que fulano pode me fornecer em termos de informação e de reflexão.

Mas o que mais me interessa mesmo neste suporte é a possibilidade de fazer/consumir literatura. Sendo, desde sempre, leitor de aforismos (e tendo me dedicado no varejo a este gênero), encantou-me a possibilidade de praticar a brevidade, resgatando do cotidiano (pessoal ou jornalístico) pequenas iluminações. São nanocontos, ideias, ironias, resenhas etc. Tento sempre investir em recursos literários, sem me render ao simples pipilar biográfico, fazendo deste espaço uma extensão do caderno de notas, do diário.

Sinto-me como se eu estivesse em meio a muitos amigos, todos conversando ao mesmo tempo. E essas amizades vão crescendo; repassamos coisas interessantes, produzimos a partir do estímulo de outros posts, usamos de forma mais filtrada a internet, seguindo sugestões de várias pessoas etc. Trata-se de um consumo tribal de textos. Todo mundo lendo todo mundo. Há, é claro, as crueldades próprias do meio. Se você fala algo mais ácido, há uma imediata diminuição do número de seguidores. Então, da mesma forma que você está fazendo amigos, está também perdendo. O bom é que ficam apenas aqueles que de fato guardam interesses em comum.

Com o Twitter, estou pensando em comprar um netbook, compacto e leve, com acesso permanente à internet. Se esta mania encanta até os casmurros, é porque ela veio mesmo para revolucionar os conceitos de comunicação.

A titular da coluna, Marleth Silva, está em férias e volta dia 6 de fevereiro.

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