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Rua Comendador Araújo no início do Batel, em fotografia feita em 1906 | Acervo Cid Destefani
Rua Comendador Araújo no início do Batel, em fotografia feita em 1906| Foto: Acervo Cid Destefani
  • A fotografia é de 1948 e mostra a casa dos macacos no centro do Passeio Público. Era a atração maior que divertia a infância de então
  • Mercadinho Provisório do Batel, instalado na Praça Theodoro Bayma. Foi demolido em 1937
  • Os colonos das redondezas de Curitiba tinham como ponto de reunião e de comércio o Largo da Ordem, aonde vinham com suas carroças. Foto de 1938
  • Atração maior do centro da cidade na Praça Tiradentes: a Catedral. Em foto de 1928. Em 1947, ganhou uma ampliação lateral
  • A Estação da Estrada de Ferro tinha em seu entorno vários hotéis e casas de comércio. Entretanto, eram os humildes carroceiros que transportavam suas pequenas cargas pela cidade. Foto de 1940
  • A sede do Banco do Brasil, na Praça Tiradentes. Em fotografia de 1942, quando estava sendo iniciada a sua demolição

Noutro dia, durante um chopinho amigo, surgiu, entre vários papos, a indefectível pergunta, a mim dirigida sempre que procuro um pouco de calmaria no meu lazer: "Como era a cidade do teu tempo, oh veio!"

Lá toca o velho aqui a descarregar lembranças dos tempos idos. Naquela ocasião, final dos anos quarenta e começo dos anos cinquenta, a cidade era pacata, beirando os 200 mil habitantes. Muita rapaziada forasteira vinha estudar na Universidade do Paraná, angariando para a cidade o título de Capital Universitária. A Casa do Estudante, que ficava na Avenida João Pessoa, atual Luiz Xavier, tinha hóspedes vindos dos mais remotos cantos do Brasil. Muitos desses universitários aqui se formavam e acabavam casando e se fixando definitivamente em Curitiba.

Durante o papo, a memória foi buscando exemplificar como eram as coisas do meu tempo. Nascido e criado no bairro do Batel, a poucas dezenas de metros da nascente do Rio do Ivo, ao lado do campo de futebol do Juventus, quase em frente do bosque da Cervejaria Providência. Desde os 6 e 7 anos de idade, já fuçava por todos os cantos. No Ivo, ia capturar, nas então águas límpidas, os barrigudinhos para aprisioná-los em vidros, arremedos de aquários. No bosque da Providência, estavam as delícias das frutas como amoras, pitangas, cerejas, araticuns e guabirobas.

Na Avenida do Batel, o barulho dos bondes, das carroças de colonos, lenheiros, padeiros e leiteiros juntavam-se ao tropel sonoro das ferraduras dos cavalos. As horas do início do turno de trabalho pela manhã, do almoço e do fim do expediente eram marcadas pelos apitos das fábricas. Os domingos iniciavam com a ida à missa, almoço com macarrão feito em casa acompanhado de galinha ensopada e sobremesa, que tanto podia ser um pudim ou o invariável sagu com vinho.

Após o almoço, os chorados trocados para a entrada das intermináveis matinés nos cines Broadway e Curitiba; isso dependendo do nosso comportamento durante a semana. A vizinhança toda se conhecia e muitas vezes se reuniam em frente das residências abancadas em cadeiras, trocando longos papos ao entardecer. Assim íamos vivendo o nosso tempo de piá. Aula pela manhã no Grupo Escolar; à tarde, cumpridas as tarefas, um trêne de futebol no campinho do morro do Hospital Militar. No máximo ficava acordado até as 9 da noite.

Nas horas de folgas, perambulava pelo bairro e vizinhanças. O olhar curioso ia registrando tudo quanto era novidade. Em junho, a diversão era correr atrás dos balões que coalhavam o céu. Em agosto, era tempo de aproveitar os ventos e empinar raias; jogar bolinhas de búrico ou então disputar figurinhas, principalmente as das Balas Zequinha, no bafo ou no tique. Assim ia-se vivendo, uma vida simples e saudável, numa cidade então cheia de jardins e quintais. Até quando chegou, sem data marcada, o progresso; e a poesia daquela vida desapareceu, junto com o meu tempo de piá.

Pois é! Aí está um pouquinho da história do veio aqui. Uma história que se funde com a cidade e suas imagens nos últimos setenta e vários anos. Vamos a relembranças da Velha Curitiba, através de fotografias do passado, imagens que são a razão da existência desta página de nostalgias:

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