• Carregando...
Vila de Guaratuba, em 1908 |
Vila de Guaratuba, em 1908| Foto:
  • Vista de Guaratuba, em 1906
  • Porto de Guaratuba, em 1915
  • Guaratuba, vista da vila em 1935
  • Guaratuba em 1928, onde aparece a cadeia em ruínas

Exércitos de formosíssimos Guarás de viva cor escarlate atravessam em ordem marcial essas formosas baías, enramam-se nas verdes ramagens dos mangais, figurando ao longe grandes flores róseas, outros descem às praias figurando batalhões de um exército britânico.Quem escreveu isso, há cento e cinquenta anos, foi Antonio Vieira dos Santos, que é considerado o patrono da História do Paraná. Já o naturalista francês Auguste de Saint’Hilaire, ao visitar Guaratuba em 1820, descreveu algumas das ilhas daquela baía: As mais notáveis de todas estas ilhas são as dos papagaios, assim chamadas porque as espécies são, aí, comuns, também a dos Guarás, cujo nome é dos pássaros vermelho vivo, que constituem o mais lindo ornato desta parte do Brasil... Desde o mês de agosto até novembro eles se reúnem aí em grupos numerosíssimos; fazem ninhos toscos nos ramos do mangue, e sua produção seria prodigiosa se o vento não derrubasse grande parte dos ninhos, ou se as aves de rapina não devorassem grande número de ovos, e se os habitantes do lugar não os comessem. Quando se assustam os Guarás no tempo da desova elas abandonam seus ovos...O Guará é uma ave espécie de íbis e que, através do seu nome, faz parte da toponímia de muitas cidades do Brasil, incluindo aí a paranaense Guaratuba, cujo significado indígena quer colocar o lugar como: tuba, muito. Real­­mente a localidade daquele balneário foi tida como ambiente de procriação da ave. Principal­­men­­te pela sua peculiar alimentação, pequenos caranguejos que são ricos da substância caroteno-cantaxantina, que proporciona a cor vermelha de suas penas. A cantaxantina é usada na alimentação de canários belgas, geralmente brancos ou amarelos, transformando suas plumagens para rosa ou vermelha.

Já em 1778 as autoridades se preocupavam com o massacre dos guarás em Guaratuba, emitindo ordens de prisões contra os predadores, incluindo entre eles os alferes Gomes Marzagão e Carvalho Bueno, além de outros. Apesar disso, o extermínio continua pelo povo da vila. Já passados cinquenta anos das primeiras leis, novas posturas foram decretadas. Entretanto, o guará abandonou a região, fugindo dos caçadores implacáveis que os matavam para retirar suas plumagens, que eram remetidas para a Euro­­pa, onde eram usadas na confecção de mantos, além de dizimarem os ninhos para comer os ovos.

Há pouco mais de dois anos, tais aves começaram a aparecer na região, fato que os habitantes de Guaratuba receberam com regozijo. Afinal de contas, o pássaro-símbolo estava voltando: foram vistos 12 exemplares. Entretanto, eis que em maio deste ano aconteceu o pior. O biólogo Louri Kle­­mann Junior surgiu no pedaço com licença para matar espécimes da fauna local. Licenças, aliás, fornecidas pelo Instituto Am­­biental do Paraná e pelo Ibama. As vítimas seriam pássaros de outras espécies e não os guarás, que seriam encomendas do Museu de História Natural do Capão da Imbuia. O biólogo ma­­­tou dois guarás, dizendo ter se enganado. Confundiu-se o ilustre profissional. Que diacho de biólogo é esse que não conhece o que está procurando. Ati­­rador tão cego como o Mister Magoo? De mais a mais, animais empalhados o museu do Capão da Im­­buia já perdeu muitos. Na década de 1960, fotografei para uma revista os exemplares taxidermizados que pertenceram ao Mu­­seu Paranaense, doados para o Capão da Imbuia, onde foram colocados em caixas de vidros e espalhados ao ar livre, pelo bosque. Todos ficaram deteriorados.

É de se admirar que em pleno século 21 exista ainda gente com licença para matar animais em nome de uma ciência zarolha e que se empregue um dito cientista também com tal atributo. São coisas como esta que aconteceu em Guaratuba que nos faz duvidar da nossa própria cultura e educação.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]