Carnaval de 1902. Multidão lota a Rua XV de Novembro| Foto:
Plateia do Theatro Guayra na Rua Dr. Murici, em 1927
Crianças curitibanas em concurso de robustez, em 1940
Estádio Joaquim Américo em domingo de futebol, em 1949
Multidão de curitibanos na Avenida e Rua XV em 1943, na visita de Getúlio Vargas
Vista aérea do centro de Curitiba, em 1954

Recentemente, em conversa numa roda ali no bar do Maneco, surgiu uma troca de opiniões sobre o comportamento do curitibano nato. Tal assunto se prendeu ao fato de matérias abordadas pela mídia aproveitando o aniversário da cidade, que é comemorado hoje. Uma comemoração que bem pode sobrevir de um erro cartorial.

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A primeira notícia que se tem da fundação de Curitiba é de um comunicado de Eliodoro de Ébano Pereira feita ao rei de Portugal, informando que havia fundado as vilas de Curitiba e de Iguape, isto em 1654. Catorze anos depois, em 1668, Gabriel de Lara, atendendo a pedido de moradores, faz erigir o pelourinho, que significava a presença da justiça do rei.

Na ocasião, nomeia para assentar a justiça da vila o capitão povoador Mateus Leme. Durante vinte cinco anos, foi ele o interventor da cidade. Em 1693, com Mateus Leme já velho, o povo exigiu que se elegessem as justiças e a vereança. Portanto, a data de hoje está mais ligada à criação da Câmara Municipal do que a fundação da vila. O comentário acima o faço por entender a criação de Curitiba nas três etapas e nas datas apresentadas. Deixando de lado o nascimento da cidade, e pulando um bom tanto da sua história nesses últimos 355 anos, vamos a épocas mais recentes.

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É público e notório que Curitiba é uma cidade sem portas, é que nem coração de mãe, sempre cabe mais um, e mais um bom tanto de adjetivos para qualificá-la como grande acolhedora de ádvenas, o que não deixa de ser verdade.

Um indivíduo que nunca morou em Curitiba, mas em São Francisco da Califórnia, vem aqui e declara que as três cidades do mundo onde se vive melhor seriam: Roma, São Francisco e Curitiba. O dito forasteiro deu o mote para o seu patrício, que na ocasião tomava posse como prefeito da cidade e que mandou espalhar pelos quatro cantos do Brasil a condição decantada pelo bizarro californiano.

Se Curitiba alguma vez tivera portas, estavam elas arrombadas. Em três tempos a população duplicou. Quem não tinha futuro no seu rincão veio para não ter também aqui. Hoje, a cidade sofre o seu inchaço com seus mais de trezentos mil favelados. A própria segurança de seus cidadãos virou estatística com justificativas esdrúxulas de parte de quem devia garantir o bem-estar de todos.

Viajando no tempo, vamos até 1820, quando por aqui passou o sábio francês Saint’-Hilaire, que anotou em seus comentários o tipo físico do curitibano como sendo diferente de outros locais onde estivera no Brasil. Principalmente sobre as mulheres, considerando-as sociáveis e comunicativas.

Pouco tempo depois, Curitiba recebeu seus primeiros imigrantes – os alemães –, que começaram a entrar no Paraná em 1829. Quarenta e dois anos depois vieram os italianos e os polacos, isso em 1871. Com a miscigenação aos descendentes dos portugueses e espanhóis, foi sendo criado o curitibano de hoje em dia, que representa um pouco mais de um terço da população da capital.

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A queixa dos adventícios é de que o curitibano é uma pessoa fechada e de poucos amigos. Inclusive comentado como sendo um tipo de costumes excêntricos e que vive encastelado em sua casa, onde não recebe visitas. A espinafração vai por aí afora quando são analisadas as atitudes desse estranho ser: o curitibano.

Como eu sou curitibano e com mais de 70 anos de idade, posso informar que não éramos tão assim antigamente. Esse antigamente tem apenas meio século, lá pelos anos da década de 1950. A todos na cidade se conheciam, isto não quer dizer que cada um sabia o nome e o endereço do outro. O linguajar, o tipo físico, o respeito e a educação faziam e ainda fazem parte do modo de vida de nós, curitibanos. Curitiba, cidade sem portas!

Quando isto aconteceu, o curitibano começou a passar a tramela nas suas portas e tornou-se um chato na sua própria cidade, desapareceu das reuniões públicas, os clubes da classe média foram ficando desertos. Os usos e costumes vindos de outros rincões ficaram de fora, não ultrapassaram as nossas soleiras. Somos como os índios da tribo dos moicanos, os últimos sobreviventes de uma raça vivendo a modo próprio. Isto somos nós, curitibanos.

As fotografias que mostramos hoje dão uma pequena ideia do povo de antanho e como vivia até meados dos anos 50.