A expressão acima, "no bico do corvo", geralmente é usada quando alguém está numa pior. Quando os negócios vão mal ou então foi encontrada alguma coisa que incrimine alguém numa mutreta. Outras tantas vezes a mesma procede quando alguém exerce um cargo que oferece algum perigo. A história que se segue aconteceu com este escriba e foi uma das tantas em que estivemos no "bico do corvo".

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O culpado pela remexida em nossa memória é o velho amigo Luiz Renato Ribas Silva, que acaba de publicar um livro sobre o Prado paranaense, mais especificamente sobre os cronistas de nosso turfe nas mais diversas épocas. O título do livro é "Esses cronistas super-heróis e suas mancadas maravilhosas".

O Luiz Renato conta em textos irreverentes mil peripécias acontecidas com o pessoal de imprensa que participa, tanto agora como no passado, nos episódios ocorridos nos prados, quer em Curitiba como em outras localidades. Para os que gostam de saber coisas das cocheiras, o aludido livro é deveras interessante.

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Percorrendo as páginas do livro do Ribas, surgiu em nossa lembrança um fato ocorrido há quase meio século e do qual participamos. Era o fim do ano de 1958, ou até podia ser o começo do ano seguinte. Estava o escriba aqui iniciando seus primeiros passos na imprensa, mais precisamente na Gazeta do Povo, como repórter-fotográfico. Éramos dois e a correria era braba: polícia, acontecimentos locais, coluna social, política, futebol e também o turfe.

Naquele tempo o cronista dos cavalinhos era o saudoso Apeles de Ferrante e que sempre queria ilustrações diferenciadas das comumente publicadas pelos outros jornais. O telefone da redação toca no meio da tarde: "Chamem o fotógrafo". Era o Apeles. "Olha, caiu um raio no Haras Miraldo, lá na Campina Grande Sul, e morreram vários cavalos. A missão: fotografar a tragédia eqüina".

O tempo estava péssimo, chuva, máquina fotográfica a tiracolo, montamos na lambreta com destino ao haras fatídico. Estrada da Graciosa, reta do Palmital, chuva e lama. Foi uma empreitada daquelas. No dito haras ficamos sabendo que o raio matador havia caído três dias passados. Percorreu pelo encanamento da água das cocheiras individuais e matou sete potros puro-sangue e mais o reprodutor Draksar.

A incumbência era fotografar os animais mortos, que o Apeles julgava ainda estarem nas cocheiras. Não estavam. O capataz nos indicou um capão de mato distante a quase um quilômetro, as carcaças dos cavalos estavam ali. Abaixo de chuva, vamos lá, crepúsculo e tempo fechado e mais o mato fechado onde a iluminação para fotografia era manga de colete.

Pelo tempo em que estavam mortos, os cavalos estavam inchados a ponto de estourar. Fazendo aqueles milagres que somente as horas de apertos produzem, conseguimos fotografar aqueles presuntos cavalares. Já era noite alta quando conseguimos entregar duas cópias das malditas fotos ao chefe da redação, José Muggiatti. "O que é isto?" Explicações, os fatos, quem pediu as fotos, tudo detalhado. Espetacular espinafrada, onde já se viu fazer uma viagem daquelas para fotografar animais mortos? O que estavam pensando ser o jornal? Brincadeira? Por pouco a carreira jornalística do degas aqui não se encerrou naquele dia há quase meio século. A cavalhada ficou para o pasto dos urubus e foi quando pela primeira vez nos sentimos no "bico do corvo". Daquela data em diante procuramos evitar os pedidos fotográficos do velho e bom Apeles.

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A informação sobre o nome do Haras Miraldo quem forneceu foi o turfista Dimas Mehl Andrusko. Esta nostalgia pessoal veio à tona graças ao livro do Luiz Renato Ribas Silva e quem desejar um exemplar pode entrar em contacto com: www.cavalolouco.com.br.

Ilustramos a Nostalgia deste domingo com as seguintes fotos: o antigo Prado Curitibano no Guabirotuba em 19 de outubro de 1913, aparece na imagem maior. Na segunda foto o Hipódromo do Guabirotuba em 1939. Na terceira imagem o mesmo hipódromo lotado de público para o Grande Prêmio Paraná de 1950. Encerramos com a ilustração onde aparecem jornalistas junto a um automóvel no Prado Curitibano em 18 de agosto de 1912. São eles: 1 Odorico Maciel, do Diário da Tarde. 2 Rubens Assumpção de A República. 3 Raul Gomes, da Folha da Manhã. 4 Pedro Eugênio de Freitas, de A República. 5 Oscar Martins Gomes, da Folha da Manhã.