
Apesar do anúncio de tempos críticos para a economia, estamos levando uma vida aparentemente normal, como se a crise prevista seja a tal marolinha vislumbrada pelo Lula. A crise que vivenciei, e me lembro muito bem dela, foi durante a guerra de 1939 a 1945. Não existia gasolina, os automóveis circulavam a lenha e a carvão, que produziam o gasogênio; o pão era feito de fubá e outras misturas, a farinha de trigo que existia era contrabandeada da Argentina, que se mantinha neutra no conflito mundial.
O câmbio negro imperava, e muitos especuladores ficaram ricos. Mantimentos eram racionados, não existia açúcar, era usado o mascavo e o melado produzidos em Morretes como adoçantes, o próprio mel servia para adoçar café, chás e outras bebidas. O Brasil era e é o grande produtor de cana e penava-se pela falta do açúcar. Tais mercadorias, quando apareciam, eram racionadas e o povo fazia filas imensas para adquirir uma pequena quota. A borracha, outro grande produto nacional, era mandada para o esforço de guerra, os pneus para os automóveis vinham de contrabando também da Argentina e eram negociados no câmbio negro.
Apesar de todo o sofrimento, a maioria da população continuava bem alimentada. As colônias que cercavam Curitiba forneciam mantimentos extraídos de suas roças. A farinha de centeio substituía, até certo ponto, a farinha de trigo, era usada para o fabrico das broas pretas, que eram uma especialidade polaca e alemã. Enquanto a guerra comia solta na Europa, passávamos bem por aqui, com algumas faltas, é claro que, no entanto, não diminuiu o nosso peso nas balanças.
Ao fim do conflito em 1945, as coisas foram voltando ao normal, e os tempos festivos, que nunca pararam de existir, ganharam intensidade. Reuniões sociais intensificaram-se, bailes, quermesses e outros ágapes afins demonstravam que realmente teríamos paz e harmonia.
O mês de dezembro sempre foi considerado como o tempo de fechar com chaves douradas o ano que se finda. Os indefectíveis banquetes de fins de ano reúnem alunos formandos, funcionários de autarquias e empregados de indústrias e do comércio, que se presenteiam através dos ditos amigos secretos. Quem faz a grande festa em Curitiba são as churrascarias e os restaurantes, os preferidos no segundo item são os de Santa Felicidade cujo movimento de fim de ano é deveras impressionante.
Tempo de festa natalina e de fim de ano. Ao grande público são oferecidas festividades diversas, principalmente apresentações artísticas em que se destaca o oferecido no Palácio Avenida, espetáculo criado há quase vinte anos pelo extinto Bamerindus. Em algumas praças da cidade, são montadas feiras que vendem artigos próprios à data. A todos esses eventos, o povo comparece tanto para apreciar como também para participar.
Para ilustrar a Nostalgia deste domingo, separamos algumas fotografias de acontecimentos festivos ocorridos em Curitiba através dos anos. Mostramos o povo reunido na Praça Tiradentes em 1904, por ocasião da inauguração da estátua do Marechal Floriano o primeiro monumento erigido na cidade. A população lotando a Rua XV de Novembro para aclamar o famoso Tiro Rio Branco, em um de seus aplaudidos desfiles na década de 1920. Da Rua XV daqueles tempos, restaram somente velhas fotos como lembranças.
Outro lugar freqüentado pelo curitibano, na década de 1940, era o Pavilhão Carlos Gomes, na esquina das ruas Marechal Floriano e Pedro Ivo. A fotografia mostra soldados do Exército comparecendo a uma apresentação artística levada ao palco pelos então famosos Irmãos Queirolo. Também na Praça Tiradentes, eram comuns as missas campais realizadas em frente da então Catedral. Tais festividades religiosas eram prestigiadas por grande número de fiéis (a foto é de 1940).
Nos finais de anos, as grandes lojas de Curitiba promoviam as chegadas de seus Papais Noéis com direito a desfile em carros aberto pela cidade. Os estabelecimentos eram enfeitados mostrando a competição comercial que existia entre eles. Na fotografia feita em dezembro de 1953, vemos a desaparecida loja Prosdócimo. Ainda temos a foto da festa de Natal promovida pelo governo no final da década de 1950, na Praça Tiradentes, onde aparecem o Dr. Beltrão e dois Velhinhos do Natal ladeando a primeira-dama, dona Hermínia Lupion, junto a duas meninas. Fechamos as ilustrações com uma foto atual dos Festejos Natalinos no Palácio Avenida.









