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Há 3 mil anos, os habitantes do Vale do Indo desenvolveram uma interessante teologia pautada na reencarnação. Por essa perspectiva, compartilhada pelo Hinduísmo e pelo Budismo, o mundo é um local de compensação. A evolução espiritual, então, funcionaria a partir de uma equação: ao agir mal, o indivíduo contrairia um débito (o carma) a ser pago na próxima encarnação; ao agir bem, saldaria um débito cármico de uma vida anterior e poderia renascer mais próximo da libertação. Um processo dificultoso porque, em uma mesma vida, acertamos e erramos uma barbaridade. Um processo longo, a menos que, como entende o Budismo, seja possível quebrar a corrente.

Ao acompanhar a política brasileira, concluo, misturando esotericamente teologia e sociologia, que nosso processo civilizatório é uma espécie de processo cármico. E que pagamos pelos erros de cinco séculos. Nada, vale ressaltar, relacionado à evolução espiritual, mas à evolução civilizatória.

Nosso processo civilizatório é uma espécie de processo cármico. Pagamos pelos erros de cinco séculos

Voltando a Nelson Werneck Sodré, Caio Prado Junior e Sérgio Buarque de Holanda, percebo como nasceu a nossa corrupção. Ela viria do Portugal do século 13, consolidado como reino antes de consolidar uma nação, o que teria feito com que, por algum tempo, fosse uma espécie de “grande domínio familiar”. Teria vindo, também, da política de ocupação do Brasil a partir de 1530, em um esquema de loteamento cujos mandatários eram empreendedores que assumiam a gestão pública em troca de lucros com a exploração do pau-brasil, da cana-de-açúcar e da escravidão.

Escravidão, aliás, que constituiu um carma multissecular responsável pela formação de uma elite soberba e desumana, de um povo forçado à miséria pela violência e de um fazer político calcado no favorecimento familiar e no compadrio.

Em síntese: pagamos hoje, e continuamos a gerar carmas, pelos erros do passado. Uma situação pantanosa, cuja solução demanda outros tantos séculos ou, então, medidas definitivas. Uma delas reside na manifestação da indignação com vigor, mas sem estupidez. Outra, que me parece mais “teológica” por causa dos esforços relacionados, nasce do envolvimento com a política. Todos reclamam, mas ainda são poucos os que se unem para ingressar na política; a maioria despreza a propaganda eleitoral, quando deveria examiná-la com atenção. Poucos, enfim, são os que acompanham o trabalho de seus representantes ou nem sequer lembram de seus votos.

O processo cármico, ensinam os hindus e os budistas, só pode ser quebrado por um processo de consciência. E é um processo de consciência, tenho comigo, que vai nos fazer sair dessa situação. Vale a pena tentar.

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