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Ando encantado pelos grupos do Facebook que reúnem pessoas interessadas em compartilhar imagens antigas da cidade. Eles constituem uma verdadeira dádiva da sociabilidade digital, movimento digno de nota que congrega apaixonados de várias idades ao redor de nomes como “Antigamente em Curitiba”, “Curitiba Antiga”, “Curitiba Antigamente” e “Curitiba Antiga – Fotos de Antigamente”. Partindo da alegria pura e simples de afirmar um pertencimento, daquela eterna busca, tão curitibana, pela própria identidade, esses grupos estão constituindo uma galeria que, tenho certeza, é capaz de angariar o respeito dos iconógrafos.

Em primeiro lugar, por seu volume, que chega às dezenas de contribuições por dia, relativas a locais e momentos aparentemente tão díspares quanto a Estrada do Assungui das primeiras décadas do século 20, o presépio da loja Hermes Macedo nos anos 70 ou a saída da “danceteria” Angel’s Flight nos anos 80. Isso sem contar os cartões-postais, mapas, ilustrações, ingressos, anúncios e pequenos filmes da velha cidade que evocam as “Passagens” de Walter Benjamin.

Grupos de compartilhamento de fotos antigas estão constituindo uma galeria capaz de angariar o respeito dos iconógrafos

Em segundo lugar, porque é oriundo de um conjunto pouco acessível aos investigadores, aquele repositório formidável de caixas de sapatos repletas de velhas imagens e álbuns pesadões sedimentados em armários e garagens – o precioso acervo do homem comum. Em terceiro lugar, pelo aspecto da perenidade e da democratização das imagens, que, quando digitalizadas e compartilhadas, ganham o mundo. Um processo de tecedura da memória que é enriquecido pelo compartilhamento de informações sobre a própria iconografia: muitas vezes, quem posta as fotos não tem certeza do local ou data, sendo acudido por outros participantes com respostas cujo grau de veracidade não deve ser desprezado.

Concluindo este relato de descoberta, sou tentado a me perguntar sobre o papel que esses grupos (que, vale observar, também existem em outras cidades brasileiras, como São Paulo, Belo Horizonte e Salvador) desempenham na construção das representações coletivas sobre o passado e sobre o próprio presente. Essas cadeias de imagens, pertencimento e discurso promoveriam um olhar mais crítico e amoroso para a cidade, um nativismo ingênuo ou um conservadorismo bairrista perigoso porque potencialmente excludente? Ou, simples assim, apenas bons momentos na internet? Um belo tema, enfim, para um cientista social.

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