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Deve ter dado para notar que alguns do nosso grupo ficaram em Berlim enquanto o resto voltou para os campos de morango perto de Königstein e da seleção. Aqui tivemos que mudar de hotel, de um na ex-Berlim oriental para um no centro da ex-Berlim ocidental. No tempo do muro a diferença entre as duas berlins era evidente. Cruzar o muro – do lado ocidental para o lado oriental, legalmente, ou de lá para cá, sob balas – era atravessar a fronteira entre dois mundos contrários. De um lado uma feérica vitrine do consumismo capitalista, do outro os rigores do coletivismo comunista. A Berlim oriental também era uma espécie de vitrine de virtudes socialistas, com sua ênfase em ordem e "kultur", ajudada pelo fato de os melhores museus e teatros e os prédios antigos mais preservados terem ficado para eles. Mas nada que pudesse competir com os anúncios luminosos e as promessas de prosperidade e alegria do lado ocidental.

E aconteceu uma coisa curiosa. Com a reunificação, os dois mundos não têm mais uma fronteira física, mas mantêm uma diferença que só pode ser descrita, na falta de um termo mais preciso ou menos aéreo, como de atmosfera. O lado oriental hoje tem as mesmas grandes lojas do lado ocidental (foram as grifes, não os trabalhadores, do mundo que se uniram numa irmandade internacional invencível), os mesmos grandes hotéis e o acesso a todas as alegrias ocidentais que o muro impedia, mas também tem um clima classudo, que o outro lado perdeu. Hoje o Kurfurstendamm, o centro mais luminoso da grande vitrine capitalista quando a cidade era dividida, parece decadente, enquanto o lado oriental se modifica sem perder o que antes era sobriedade depressiva e hoje é elegância. O lado oriental parece mais grã-fino, o ocidental mais proletário. O que não deixa de ser uma forma de vingança.

E é na revitalizada avenida Unter den Linden, que começa no portão de Brandenburg e entra pelo lado oriental, que os berlinenses hoje têm uma idéia do que era a Berlim do século 19, quando a chamavam de a Paris do Norte, e um modelo para o que toda a cidade pode ser no futuro.

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