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Máquinas recolhem destroços da construção que ruiu em Belém: edifício vizinho teve de ser evacuado | Tarso Sarraf/AE
Máquinas recolhem destroços da construção que ruiu em Belém: edifício vizinho teve de ser evacuado| Foto: Tarso Sarraf/AE

Outro lado

Construtor nega qualquer irregularidade

O proprietário da Construtora Real Class, Carlos Lima Paes, responsável pelo prédio que desabou, negou ontem que houvesse irregularidades na obra. O empresário, que é também engenheiro civil, afirma que o Real Class, de 34 andares e 60 apartamentos, tinha todas as autorizações necessárias e era alvo de avaliações constantes. "Não existe absolutamente nada irregular.Todas as etapas foram cumpridas na mais perfeita ordem. [A obra] nunca apresentou nenhum sinal de colapso", diz.

A fundação do edifício, possível motivo do desabamento, foi feita por duas empresas terceirizadas pela construtora, segundo Paes. Ele disse que é impossível, agora, precisar as causas da queda, até serem concluídos laudos técnicos. De acordo com o empresário, a construtora está dando apoio médico, psicológico e abrigo para os feridos ou pessoas que tiveram de deixar suas residências próximas ao local.

Mas algumas desses pessoas, que esperavam os donos da Real na saída da entrevista, afirmaram que a ajuda não chegou a eles. "É mentira. Eles são mentirosos", afirmou, gritando, o advogado Robert Zoghbi, dono de uma das casas que veio abaixo com a queda do prédio. Ele está alojado na casa de parentes.

Segundo Zoghbi, a obra estava "completamente irregular". "Minha casa tinha várias rachaduras [causadas pela obra]. A Justiça negou um laudo emergencial que eu pedi. E eles [construtora] moveram uma ação para que eu construísse uma proteção [contra detritos que caíam do prédio]", disse.

Folhapress

Um morto e dois operários desaparecidos é o saldo, até o momento, do desabamento de um prédio de 34 andares em construção, no sábado à tarde, em Belém. O balanço parcial é da Defesa Civil do Pará. O corpo de Maria Raimunda Fonseca dos Santos, de 67 anos, que morava em uma casa soterrada pelos escombros ao lado da construção, no bairro de São Braz, foi localizado pelos bombeiros às 4h10 da madrugada de ontem.O major Augusto Lima, responsável pelas equipes de buscas, informou que apenas Rai­­munda e um pedreiro estavam na casa na hora do desabamento. "O pedreiro correu para o quintal e conseguiu se salvar, mas ela foi para frente da casa, local onde caíram os escombros", explicou. O corpo de Raimunda estava embaixo dos destroços, na frente da residência.

Os operários José de Paula Barros e Manoel Raimundo da Paixão limpavam entulho quando o prédio caiu e estão desaparecidos. Os pedreiros Luiz Nazareno Lopes e Isaías Marques, inicialmente incluídos na lista de desaparecidos, foram localizados em suas residências. Eles disseram que haviam saído da obra minutos antes da queda do edifício. A técnica em enfermagem Marluce Castro Bacelar, que também aparecia na lista, ligou para a Defesa Civil e disse que estava em sua residência no momento do acidente.

Um prédio vizinho de 16 andares teve dois pilares atingidos durante a queda e foi evacuado pela Defesa Civil. Um dos pilares foi escorado pelos bombeiros e segundo técnicos não corre risco de desabamento. Os ocupantes dos apartamentos receberam autorização para retirar seus pertences, mas estão impedidos de retornar ao local até que um laudo seja feito sobre as condições do prédio. Moradores de casas próximas também estão na mesma situação. Muitos tiveram que ir para residências de parentes em outros bairros da cidade.

As causas do desabamento ainda não estão claras. Somente depois da remoção dos escombros e localização das vítimas é que a perícia começará a fazer seu trabalho. A hipótese mais admitida por engenheiros civis é de fragilidade das fundações para suportar um prédio de 34 andares. O engenheiro Raimundo Lobato da Silva, responsável pelo cálculo estrutural do prédio, admite a possibilidade de "falha geológica". Essa falha teria causado danos no estacamento, que não teria suportado a estrutura do edifício.

Segundo Silva, o solo de Belém é problemático. Há locais onde a camada é bem resistente em cima, mas por baixo é menos resistente. As estacas do prédio podem ter sido fincadas nessa camada pouco resistente, o que teria ocasionado a queda do prédio. Mas ele deixa claro que isso é somente uma "suposição". "Apenas a perícia poderá dizer o que de fato ocorreu", disse.

Denúncias

O governador Simão Jatene esteve três vezes no local e disse ter ouvido queixas de moradores vizinhos sobre problemas que o prédio vinha apresentando antes de cair. Um morador contou a Jatene ter feito várias denúncias ao Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) e à Delegacia do Trabalho sobre as condições da obra, mas nenhuma providência havia sido tomada.

Para Jatene, tudo o que ele ouviu precisa ser apurado e se for verdadeiro terão de ser tomadas providências para definir responsabilidades. O presidente do Crea, José Viana, disse que a responsabilidade pelo edifício é do engenheiro da obra e não do Crea.

A Justiça do Pará concedeu um mandado de busca e apreensão na sede da construtora Real. O objetivo é apreender documentos relativos à construção do edifício. A ação de busca e apreensão foi pedida pelo Ministério Público do Estado. A juíza Diana Cristina da Cunha Ferreira, plantonista no fórum criminal de Belém, determinou também que a polícia isolasse o escritório da construtora para evitar que os documentos sejam manuseados antes que o mandado seja cumprido pela polícia e peritos técnicos.

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