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Luciane com os dois filhos e o marido, Eliseu Loureiro: casal percebeu que um dos gêmeos tem autismo quando ele começou a se isolar e a fala não evoluiu. Irmão precisou de ajuda para aprender a conviver com o irmão | Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo
Luciane com os dois filhos e o marido, Eliseu Loureiro: casal percebeu que um dos gêmeos tem autismo quando ele começou a se isolar e a fala não evoluiu. Irmão precisou de ajuda para aprender a conviver com o irmão| Foto: Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo

Cansaço: Nível de estresse de soldado

O nível de estresse em mães de pessoas com autismo assemelha-se ao estresse crônico apresentado por soldados combatentes, segundo estudo feito com famílias norte-americanas e divulgado no Journal of Autism and Developmental Disorders. De acordo com a pesquisa, mães que convivem com o autismo dos filhos empenham por dia duas horas a mais com cuidados do que as mães de crianças sem a síndrome, e têm mais interrupções quando estão no trabalho.

Ao longo do dia, elas também apresentaram duas vezes mais probabilidade de estarem cansadas e três vezes mais chances de passarem por um evento estressante. Segundo os responsáveis pelo estudo, é desconhecido o efeito a longo prazo sobre a saúde física dessas mães, já que o elevado estresse pode afetar o nível de glicose, o funcionamento do sistema imunológico e a atividade mental.

Abandono é comum, mesmo sem diagnóstico

Crianças com casos mais comprometidos de autismo também sofrem com o abandono dos pais antes mesmo de serem diagnosticadas. Raphael Adriano de Oliveira, 26 anos, que tem o autismo clássico, foi abandonado com pouco mais de 1 ano de vida e acolhido por uma família com quatro filhos.

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Depoimento: Cachorro é igual a ter um filho com autismo?

Recentemente estive em São Paulo para um evento da indústria de cosméticos. Havia jornalistas do Brasil inteiro. Conheci quatro delas durante um jantar. Estávamos na mesma mesa e, conversa vai, conversa vem, logo elas começaram a mostrar o celular uma para a outra: eram as fotos de seus cachorrinhos. Nenhuma delas tinha filhos.

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  • Saiba mais sobre o autismo

"Quando se trata de autismo, parece que estamos começando a Medicina", diz o médico geneticista Salmo Raskin, presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica. Segundo ele, não há pais que não fiquem apavorados quando o filho recebe o diagnóstico de autismo, que não tem cura. "Existe o estereótipo e até o preconceito", diz. Para resolver isso, comemora-se hoje o Dia Mundial da Cons­cientização sobre o Autismo.

"Quem já ouviu falar em autismo imagina aquela criança sentada de frente para a parede balançando a cabeça, em outro mundo, e isso é assustador", diz Raskin. Hoje fala-se em transtorno do espectro autista, que tem um "leque" de possibilidades: a criança pode ter um alto comprometimento mental e outras síndromes associadas – e aí até caberia a cena descrita acima –, como pode ter pequenas dificuldades nas interações sociais e na comunicação, mas ter inteligência acima da média.

Se receber o diagnóstico de autismo pode ser desesperador, é fora do consultório que a batalha diária começa a ser travada – contra a doença e contra a falta de informação. "Na prática clínica observa-se que existe um incômodo ou angústia comum às famílias de pessoas com transtorno do espectro autista. Nem sempre o sofrimento é verbalizado ou claro, podendo causar até sintomas físicos nas pessoas que o vivenciam", explica Julianna Di Matteo, psicóloga da Associação para Valo­rização de Pessoas com Deficiência (Avape) e especialista em Terapia Cognitiva Compor­tamental pela USP.

Luciane Maria Janiski Loureiro, 32 anos, mãe dos gêmeos Rafael e Gabriel, 4 anos, começa a sentir as consequências das noites sem dormir, da má-alimentação, do estresse e da ansiedade. Além de Gabriel ter nascido prematuro, com baixo peso, e ter sido submetido a diversas cirurgias ainda bebê, há menos de dois anos ele recebeu o diagnóstico do autismo. "De repente, ele se isolou. Enquanto o irmãozinho começou a falar e a brincar com as outras crianças, o Gabriel ignorava todo contato e ficava deitado no degrau da escada por horas. A fala não evoluiu e os gritos eram constantes, assim como os problemas para dormir. Nunca sabíamos o que ele desejava e chorávamos junto por não sabermos nos comunicar", conta. Luciane e o marido, Eliseu, um corretor de imóveis de 36 anos, buscaram ajuda médica e hoje Gabriel frequenta uma clínica especializada. Mas, apesar de ver o filho se desenvolvendo me­­lhor, agora Luciane é quem precisa de ajuda. "Sempre enfrentei todos os desafios, com paciência e força, mas tenho crises de dor no peito, estresse, cansaço e problemas gástricos", diz.

A causa do estresse familiar não está apenas nos maiores cuidados que uma criança com o transtorno exige (veja quadro ao lado). Socialmente, conviver com o autismo ainda é um desafio. "Ir ao supermercado ou shopping era complicado, pois o Gabriel gritava e ouvíamos: ‘Nossa!’, ‘Que horror!’, ‘Que criança estranha!’, ‘Que falta de educação!’", conta.

Apoio

Famílias com caso de autismo deveriam receber apoio psicológico, pois apenas com familiares esclarecidos e unidos uma criança com autismo tem chances de se desenvolver, segundo a psicóloga Leda Fischer Bernardino, pós-dou­­tora em Tratamento e Prevenção Psicológica pela Universidade de Paris e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. "Os pais deveriam poder contar com atendimento individual e em grupos de apoio, pois é importante que eles possam entender o que acontece com o filho, como podem se relacionar com ele e, nos casos de intervenção precoce, como não desistir do contato significativo com o bebê. Se o casal não é ensinado a lidar com a situação de ter um filho com dificuldades especiais, até a vida conjugal fica seriamente perturbada", explica Leda.

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