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Primeiro livro

Onde tudo começou...

O lançamento da obra "História do Paraná", em 1899, marcou de vez o nome de Romário Martins como um dos principais historiadores do estado. Lançado originalmente com 250 páginas, dobrou de tamanho na 2ª edição, publicada em 1937. Porém, em 1888, Romário já havia registrado as primeiras linhas sobre a trajetória histórica do Paraná com a obra "Combate do Cormorant", que narra o conflito ocorrido em Paranaguá no ano de 1850 devido à perseguição de um navio inglês a três outros suspeitos de transportarem escravos. Naquela época já estava em vigor a Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico de negros para o Brasil.

O livro "História do Paraná" foi a primeira obra que compilou toda a história do estado em um volume único. "Ele inaugurou a história do estado", resume o historiador Luis Fernando Pereira.

Para a também historiadora Maureen Javorski, que pesquisa a vida e obra de Romário Martins, os registros servem até hoje como referência sobre a história estadual. "Todos os outros historiadores que surgiram após ele se basearam no que ele fez para continuar as pesquisas sobre o Paraná. Se não fosse ele, todo o trabalho teria que começar praticamente do zero", salienta Maureen.

Apesar de em alguns momentos dos livros, ele criar mitos – como o descanso de Dom Pedro II debaixo de um pinheiro em 1880 na Estrada da Graciosa –, a obra de Romário marcou o começo de uma recuperação da história do estado. "Esses mitos faziam parte daquele período, mas os fatos importantes ele conseguiu recuperar com muitas pesquisas", afirma Pereira.

      Criar identidade para um território que mal conhecia seus limites geográficos foi o desafio de Romário Martins, figura das mais influentes na história e na cultura do Paraná. Autor de quase 30 obras, ele foi um ufanista em busca de registrar a trajetória paranaense. Em 2014, celebra-se o 140º aniversário do nascimento de Romário Martins.

      Nascido em 1874, na rua Mato Grosso (hoje Comendador Araújo), em Curitiba, ele era o único filho do casal José Antônio e Florência. Ambos eram viúvos quando se conheceram e trouxeram dos casamentos anteriores um total de quatro filhos. Aos 10 anos, com a morte do pai, abandonou temporariamente os estudos e foi aprender o ofício de tipógrafo em uma oficina da capital. Retornou ao colégio e concluiu o então 2º grau. O sonho de cursar uma faculdade no Rio de Janeiro ou em São Paulo naufragou. A condição financeira da família não permitia que ele fosse morar fora da capital paranaense.

      A solução foi colocar em prática o que havia aprendido como tipógrafo em 1889 no jornal Dezenove de Dezembro. Em pouco tempo assumiu o posto de redator, escrevendo em periódicos da cidade, nos primeiros passos como jornalista.

      Em 1895, aos 21 anos, já era secretário de redação do Diário do Paraná. Passou também pelos jornais Quinze de Novembro, Diário do Comércio, A Tribuna, entre outros. Em seus artigos chegou a usar diversos pseudônimos, como Oiromar e Mario Rotins.

      Trajetória

      Romário demonstrou gosto pela história e foi encarregado pelo governo paranaense de pesquisar arquivos sobre o Paraná em São Paulo e no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Em 1902, foi nomeado diretor do Museu Paranaense, cargo que ocupou durante 25 anos. Antes, em 1900, foi um dos fundadores do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense. No mesmo ano, havia sido eleito sócio correspondente do Instituto Histórico Brasileiro.

      Foi eleito deputado estadual para o biênio 1904-05, sendo reconduzido ao cargo mais sete vezes. Como legislador, Romário criou leis que estabeleceram diversos símbolos que fazem parte até hoje da vida paranaense. Com seu trabalho, foram estabelecidos a bandeira e o brasão do estado e leis que regularam o corte de madeira e estabeleceram o reflorestamento. Ele ainda propôs o dia 29 de março de 1693 como data do nascimento de Curitiba.

      A morte de Romário Martins em Curitiba no ano de 1948 não apagou o legado construído por ele em 74 anos. "Sua vida foi dedicada ao Paraná. Com muita pesquisa, ele contribuiu para a formação da história paranaense e para a elaboração de símbolos que remetem ao estado", afirma a historiadora Maureen Javorski.

      A invenção das tradições locais

      Não há como falar em Romário Martins e não remeter ao Movimento Paranista, cujo auge ocorreu entre as décadas de 20 e 30. Ele foi um dos principais líderes de um movimento que buscou criar uma identidade para o estado. Queria também mostrar ao Brasil que o progresso existia no Paraná. Apontar que o estado tinha uma história e, principalmente, que possuía identidade. Para isso, era necessário forjar e até mesmo inventar algumas tradições.

      Nesse contexto, os intelectuais do Paranismo – que também contava com João Turin, Zaco Paraná e Lange de Morretes, entre outros – fizeram com que o pinheiro e o pinhão virassem símbolos do estado, ao lado da ave gralha-azul. "Pinheiro existe também em Santa Catarina, mas coube a eles criarem esse símbolo para o Paraná", afirma a historiadora Maureen Javorski.

      Romário, juntamente com intelectuais, literatos e pintores, assumiu ainda a heterogeneidade étnica como característica local. Consolidado em 1889 como estado (antes era província), o Paraná ainda aprendia a lidar com a chegada dos quase 100 mil imigrantes. Com o paranismo, a identidade cultural se tornou uma colcha de retalhos dos costumes europeus. Afinal, o estado transformava-se, naquele período, em um verdadeiro xadrez étnico, com ucranianos, italianos, russos e poloneses.

      O próprio termo paranista foi utilizado por ser mais amplo que paranaense. Ou seja, não precisava ser nascido no estado para se sentir membro dele. "Mas, essa aceitação dos imigrantes foi complexa. Os descendentes lusos-brasileiros não aceitavam que alemães, por exemplo, participassem do ramo comercial. Romário aceitava a presença e a cultura europeia, mas tinha que ser cada um na sua. Os imigrantes, por exemplo, deveriam ficar mais presentes em colônias rurais", explica Luis Fernando Pereira, autor do livro Paranismo – o Paraná inventado. Dentro do movimento também havia a publicação da revista Ilustração Paranaense, que procurava mostrar o Paraná em franco progresso econômico.

      Lendas

      Elemento fundamental para o Paraná ter identidade era ter o registro de sua trajetória. Coube a Romário Martins se empenhar na divulgação da história e do folclore do Paraná. "Muitas lendas foram forjadas por ele, assim como os demais símbolos. Para isso, ele se baseou nas histórias orais", diz Maureen Javorski.

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