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Brasília – A Aeronáutica submetia os controladores de vôo a uma carga de trabalho excessiva, antes do acidente entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em 29 de setembro, para compensar a falta de infra-estrutura do sistema de controle de tráfego. A revelação foi feita ontem pelo comandante do Centro de Controle de Vôo de Manaus (Cindacta-4), coronel Eduardo Antônio Carcavallo Filho, em depoimento à CPI do Apagão Aéreo da Câmara. Ele admitiu que, antes da colisão entre o avião da Gol e o Legacy, os operadores de vôo controlavam mais de 14 aviões ao mesmo tempo – limite das regras de segurança.

"A prática de um controle maior era corriqueira, cotidiana e aceita pelos controladores", disse Carcavallo. Esta é a primeira vez que um oficial da Força Aérea Brasileira (FAB) reconheceu que os sargentos tinham sobrecarga de trabalho. "Quando o tráfego aumentava, eles (os controladores) preferiam trabalhar com um pouco mais de tráfegos a chamar o pessoal que estava na sala de descanso", afirmou o comandante do Cindacta-4. "Mas, depois dos acidentes, resolveram trabalhar estritamente em cima das normas." O comandante do Cindacta-3 (Recife), coronel José Alves Candez Neto, também ouvido pela CPI, observou que os controladores passaram a emitir mais relatórios de situações de perigo depois do acidente. Antes da colisão, eram relatados nove ou dez casos por mês. Depois, o número saltou para 22 por mês. Apesar disso, os dois comandantes ressaltaram que o espaço aéreo é seguro e coberto por radares.

Carcavallo negou que os operadores estejam fazendo uma mobilização para prejudicar o sistema. "Não existe greve de controlador. O que existe é uma preocupação muito grande com o que pode acontecer em função de eles terem sido indiciados", observou. Os sargentos adotaram a nova postura depois que o Ministério Público Federal resolveu indiciar três controladores – que estavam de serviço no Cindacta-1 (Brasília) no dia do acidente – por crime de homicídio culposo e um operador por crime doloso. "Quem vai querer ser controlador já que é crime doloso?", indagou o deputado Miguel Martini (PHS-MG), ex-operador de vôo.

Tanto Carcavallo quanto Candez concordaram, sem fazer comentários.

Os dois comandantes ainda se posicionaram contra a criação de um adicional salarial para os controladores de vôo. "Se eu privilegio um setor, que trabalha tanto quanto outro, estarei sendo injusto. O sistema funciona com todos; não só com controladores", argumentou Candez Neto.

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