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A aplicação de fumacê custa caro para as prefeituras | Christian Rizzi / Gazeta do Povo
A aplicação de fumacê custa caro para as prefeituras| Foto: Christian Rizzi / Gazeta do Povo

Reforço

Além de se prevenir, municípios precisam de ajudinha de "São Pedro"

As ações de prevenção nem sempre são suficientes para evitar epidemia de dengue, alerta o geógrafo Francisco Assis Mendonça, professor da UFPR. Segundo ele, enquanto o Brasil não desenvolver um mecanismo de controle viral da doença – como vacina – a população estará sempre à mercê do efeito das condições climáticas.

"A dinâmica espacial das epidemias de dengue mostra que elas resultam não tanto de uma ação eficaz de saúde e de controle, mas de causalidades climáticas e de circulação do vírus", explica Mendonça, que estuda o ambiente urbano e as condições de dengue no Paraná há vários anos. Segundo ele, as condições climáticas de grande parte do estado favorecem a proliferação do mosquito: umidade e temperaturas acima de 20 graus. Graças às baixas temperaturas, a região de Curitiba não costuma registrar surtos da doença.

Mendonça faz parte do Serviço de Alerta Climático de Dengue do Laboratório de Climatologia da UFPR, que monitora as condições mais propícias para a proliferação do mosquito da dengue durante o ano inteiro. "Até 2011, o Paraná não registrava casos de dengue no inverno, mas isso mudou a partir de 2012", diz o professor.

Com as temperaturas mais baixas típicas desta época do ano, o número de casos de dengue começou a baixar no Paraná: em maio eram 39 municípios em situação de epidemia e 11 deles tiveram menos notificações no começo de junho. O arrefecimento da doença, porém, não é motivo para deixar de lado as ações de combate ao mosquito transmissor. Ações estão sendo planejadas para evitar surtos da doença na próxima temporada de calor.

Na reunião do Comitê Intersetorial para o Controle da Dengue, realizada em 3 de junho pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), foi definido o calendário para que as regionais de saúde façam a supervisão dos municípios entre os meses de junho e julho e outubro e novembro. "O trabalho preventivo tem de ser feito o ano inteiro. Não dá para esperar o período de alta temporada para agir", afirma o superintendente de Vigilância em Saúde da Sesa, Sezifredo Paz. Ele destaca que a proliferação de mosquitos no outono e no inverno é mais lenta, mas ainda há risco.

Em Paranavaí (Região Noroeste), a prefeitura está alerta para evitar que ocorra uma epidemia como a do ano passado, quando a cidade foi a terceira mais atingida no Paraná. A incidência de dengue na cidade chegou a 12 mil casos por 100 mil habitantes, muito acima do que já é considerada situação epidêmica: 300 casos por 100 mil.

Na verdade, a situação foi ainda pior, explica o secretário municipal de saúde de Paranavaí, Agamenon Almeida de Souza. "Os casos notificados oficialmente foram 10 mil, mas só ficou neste número pois era impossível registrar todos. O Ministério da Saúde estima que houve pelo menos 30 mil casos."

Agora, Paranavaí teve apenas 55 notificações. A diminuição de casos reduziu também a despesa pública. No ano passado, a cidade gastou em torno de R$ 3 milhões com a dengue. Em 2014, o valor não passou de R$ 20 mil, diz o secretário de Saúde. "Em época de epidemia, se usa muito o fumacê, que só pode sair às ruas de manhã ou de noite. Por isso há um gasto muito alto com hora extra de funcionário", explica Souza. Atualmente só são feitas ações de prevenção e fiscalização, com custo baixo.

Escolas

Em Paranavaí, as principais armas na luta contra a dengue foram os estudantes. "Só conseguimos controlar a epidemia de verão de 2013 quando começaram as aulas. As crianças receberam orientações dos professores e acabaram fazendo um verdadeiro mutirão, cuidando para que suas casas permanecessem limpas, sem acúmulo de água parada", conta Souza. Os alunos também produziram cartazes e saíram em passeata pelas ruas de suas comunidades, alertando toda a vizinhança, diz o secretário.

População deve agir nos locais mais atingidos

Os boletins mais recentes da dengue no Paraná mostram que Marilena, Região Noroeste, com 7.100 habitantes, está com o índice mais alto de incidência da doença na temporada 2013/2014: 12,3 mil casos por 100 mil habitantes. Em números absolutos, foram 1.065 casos notificados. "Muitas pessoas transitam nos municípios próximos e vêm aqui. Isso prejudica o controle", diz a secretária municipal de saúde do município, Lúcia Watanabe Souza.

Lúcia afirma que o poder público realizou várias ações, como limpeza das galerias pluviais e de placas de sinalização, que acumulam água. "Mas as pessoas precisam ajudar, elas têm dificuldade de entender que é preciso sempre limpar os terrenos e evitar a água parada", conta. O município aprovou agora leis que preveem multa aos moradores que não realizarem a limpeza de suas propriedades.

O geógrafo Francisco Assis Mendonça confirma que é difícil conscientizar a população. "O brasileiro sempre pensa que as coisas ruins não vão acontecer com ele, que nunca terá a doença. Só começa a ter mais consciência quando ele ou alguém da família fica realmente doente", observa. Segundo ele, o poder público sozinho não tem condições de lidar com problemas de saúde pública, como a dengue. "É preciso a colaboração de todos."

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