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Criança observa cruzes deixadas em frente ao palco do massacre: psicólogos recomendam dizer sempre a verdade | Ricardo Moraes/Reuters
Criança observa cruzes deixadas em frente ao palco do massacre: psicólogos recomendam dizer sempre a verdade| Foto: Ricardo Moraes/Reuters
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Bono Vox lamenta o crime

O vocalista da banda irlandesa U2, Bono Vox, lamentou a tragédia em Realengo, que terminou com 12 crianças mortas, durante encontro com a presidente Dilma Rousseff ontem no Palácio da Alvorada, em Brasília. "Esse é um dia muito triste para o Brasil", lamentou. A banda está no país para uma série de apresentações. De acordo com o blog do Palácio do Planalto, a banda conversou ainda com a presidente sobre o programa de combate à pobreza extrema e as ações de combate aà Aids. O encontro com a presidente foi solicitado pelo líder do U2. Bono Vox lidera a Fundação ONE, que tem ações para países da África. O objetivo do músico é conhecer ações do governo brasileiro.

Repercussão

O ataque na escola de Realengo foi destaque nas capas dos principais jornais do mundo ontem:

The Wall Street Journal (EUA)

- "Ex-aluno mata 12 em tiroteio no Rio"

The Guardian (Reino Unido)

- "Tiroteio no Brasil: 12 crianças mortas em tumulto em escola"

El País (Espanha)

- "Matança em colégio no Rio"

Clarín (Argentina)

- "12 crianças são assassinadas em escola no Rio de Janeiro"

La Nación (Agentina)

- "Massacre em colégio no Rio: 13 mortos"

Recuperação

Trauma exige terapia em grupo

Osny Tavares, com agências

Além dos 12 mortos e 12 feridos, o ataque à Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste do Rio, deixa como vítimas uma comunidade de aproximadamente 450 estudantes, professores e funcionários. O trauma causado a essas pessoas, cujas vidas ficaram em risco na manhã da quinta-feira, vai demorar para ser curado. Nesse caso, o acompanhamento profissional de psicológos será fundamental para devolver às vítimas a capacidade de viver normalmente, sem traumas ou receios.

Maria Elizabeth Haro, integrante da comissão de psicologia escolar e educacional do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR), acredita que os atingidos pelo drama, e em especial as crianças, precisarão de terapias em grupo. "A primeira etapa é acolher os sentimentos das vítimas e permitir que elas expressem tudo o que estão sentindo. Em termos coletivos, as famílias devem abrir espaço para conversa e estipular alguns rituais de despedida, cerimônias que simbolizem a tristeza com a perda", recomenda.

Ela avalia que a comunidade escolar vai demorar para voltar ao normal. "Os profissionais envolvidos no tratamento psicológico precisam conversar com os adolescentes e os funcionários, criando um consenso para que a escola volte a ser um ambiente alegre e descontraído. Não se pode botar uma pedra, como se nada tivesse acontecido", alerta.

Na avaliação do psiquiatra e professor do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Universidade Estadual de Campinas Antonio Carvalho de Ávila Jacintho é possível que as crianças apresentem sintomas de estresse e depressão, mas nem todas reagirão da mesma forma, nem é possível prever o tempo que cada uma levará para retomar a vida normal.

"As respostas de cada criança são muito particulares. Uma criança que tem funcionamento mental mais próximo da normalidade e estrutura familiar mais presente terá prognóstico de reação melhor frente a essa situação traumática. Uma criança que tenha fragilidade, fobia, algum tipo de transtorno, pode ter maior dificuldade em elaborar esse processo. Mas para ambas é preciso um tempo para elaborar o que aconteceu’’, compara.

A chacina no Rio produziu imagens chocantes de choro, desespero e consternação. Sempre que tragédias como essas ocorrem, pais e professores se veem diante de um desafio: como tratar um assunto tão delicado com as crianças, que muitas vezes acompanham as cenas pelos meios de comunicação. A dica de especialistas é clara: não negar o fato, falar a verdade e contar que o episódio foi uma exceção.A psicóloga Gesimary de Santi Azevedo, especialista em psicoterapia de crianças e adolescentes, orienta pais e educadores a só tratar do assunto quando houver al­­gu­­ma dúvida da criança. "O adulto pode entender [o fato] de uma forma e a criança de outra. Por isso é importante que a dúvida apareça. Quando ela surgir, é preciso ter calma e conversar sobre o que aconteceu, sempre falando a verdade sobre o fato."

Integrante da Comissão de Educação do Conselho Regional de Psicologia do Paraná, a psicóloga Bárbara Olsen explica que negar o fato não ajuda em nada. Ela sugere um espaço de discussão e expressão, no qual as crianças possam externar medos, fantasias e dor a respeito do que aconteceu. Isso poderia ser feito por meio de desenhos, debates, redações e cartas.

Para Bárbara, é importante que professores tomem cuidado para não criar uma atmosfera ainda maior de pânico e insegurança. "É crucial deixar muito claro para as crianças que o que aconteceu no Rio de Janeiro foi uma exceção, não é algo que ocorre sempre, não é um fato cotidiano."

De acordo com Araiê Berger, psicóloga especialista em estresse pós traumático, é imprescindível que haja diálogo tanto na escola quanto em casa. "Este acontecimento que chocou o Brasil deixa no ar uma sensação de vulnerabilidade e pânico. Porém, é importante ter cautela na forma de abordar o tema para que isto não gere mais sofrimento e aversão dos alunos em relação à escola", diz.

Ambiente escolar

O coronel Douglas Dabul, comandante da Patrulha Escolar Comunitária e do Programa de Resistência às Drogas no Paraná, diz que é natural que o tema apareça no ambiente escolar. Ele orienta que os profissionais expliquem que o fato foi raro e resultante de um comportamento doentio de uma pessoa que não estava bem mentalmente. Outra sugestão é que as escolas fiquem atentas ao entra e sai de pessoas.

No Colégio Estadual Brasílio Vicente de Castro, em Curitiba, professores discutiram o fato entre si e fizeram um comparativo com a banalização da violência que acontece na escola, segundo o diretor Marcos Antônio da Silva. Ele diz que ontem ouviu vários comentários sobre a situação de alunos e viu pais apreensivos. Na próxima se­­mana, a escola pretende fazer um minuto de silêncio e promover conversas com os alunos.

Já a diretora da Escola Atuação, Esther Cristina Pereira, percebeu que os alunos não fizeram muitos questionamentos. Nas duas salas de aula em que foi demonstrada preocupação, professores falaram sobre raiva, nervosismo, depressão e a importância do diálogo.

Terapeutas da prefeitura atenderão alunos em casa

Todas as crianças e adolescentes que estudam na Escola Municipal Tasso da Silveira receberão acompanhamento de psicólogos em casa. A escola ficará fechada por uma semana. "Nes­­ta segunda-feira (11), vamos abrir para atender professores e funcionários. Vamos trabalhar o emocional deles", explicou on­­tem a secretária municipal de Edu­­cação, Cláudia Costin.

Ao lado do ministro da Edu­­cação, Fernando Haddad, ela disse que a instituição de ensino continuará aberta a to­­dos os ex-alunos. "A grande proteção de uma escola é a comunidade. Não vamos nos fechar. Um porteiro armado não teria evitado o que aconteceu. Foi uma fatalidade. Não existe proteção possível contra um psicótico", afirmou.

Haddad disse que é preciso superar este estado de choque ."As crianças estão feridas espiritualmente. Há um luto intenso. As perdas são irreparáveis", disse. A subsecretária de Assistência Social do município, Fátima Nascimento, disse que o acompanhamento psicológico dispensado às crianças sobreviventes e às famílias das vítimas será feito "por tempo indeterminado". São 40 profissionais à disposição, que irão trabalhar também no fim de semana, fazendo visitas domiciliares.

Papa envia mensagem a famílias

O Papa Bento XVI enviou mensagem de solidariedade às famílias das crianças mortas por um atirador na Escola Municipal Tasso da Silveira. A mensagem foi encaminhada ao arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta, e repassada ao governador do Rio, Sérgio Cabral. Na mensagem, Bento XVI deseja que as crianças que ficaram feridas se recuperem rapidamente e convida todos os cariocas a dizer não à violência. Na próxima quarta-feira, o arcebispo dom Orani Tempesta celebra missa às 9 horas em homenagem às vítimas, no pátio da escola onde ocorreu o massacre.

Em nota divulgada na quinta-feira, dom Orani lamentou o ocorrido e disse rezar pela dor de todos que foram vitimados, pais, familiares e amigos. "Peço ao Senhor Jesus, neste tempo de Quaresma, que a todos conforte, e envio também uma bênção especial, pedindo a Deus que tal fato não volte a acontecer em nossa cidade".

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