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Assassinato de Eloá mobilizou a sociedade, mas a grande parte dos casos de violência contra a mulher fica impune. | Paulo Whitaker/Reuters
Assassinato de Eloá mobilizou a sociedade, mas a grande parte dos casos de violência contra a mulher fica impune.| Foto: Paulo Whitaker/Reuters

De cada dez mulheres assassinadas em São Paulo por pessoas conhecidas, sete foram mortas por parceiros ou ex-parceiros como maridos, noivos e namorados. Os dados tomam por base todos os boletins policiais de 1998, que registraram 285 homicídios de mulheres na cidade, e fazem parte da pesquisa de uma década de crimes contra mulheres feita pela socióloga Eva Blay.

O trabalho está no livro lançado recentemente Assassinato de Mulheres e Direitos Humanos. Eva analisou 600 boletins de ocorrência e casos de jornais, além de cem processos judiciais da última década para traçar um retrato da violência de gênero. Para ela, o que o que move esses atos é o ódio. "Ódio e vingança. Os homens se preparam para dominar e matar as mulheres", diz a socióloga, coordenadora científica do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero (Nemge) e professora aposentada da USP.

Ele critica a falta de punição dos criminosos. "A maioria deixa suas marcas na vítima. Em 50% dos casos, o indivíduo foge. Em 30% dos casos, os processos foram arquivados."

A delegada coordenadora das Delegacias de Defesa da Mulher do estado de São Paulo, Marcia Salgado, reforça o que dizem os estudos da OMS sobre a violência conjugal: depois dos primeiros tapas, ataques mais violentos virão. "Dificilmente o homem vai matar de cara. Ele ofende, xinga, quebra o prato de comida. Depois, vai bater para não deixar marca. E isso vai piorando. Na cabeça desse homem, ele está educando a mulher dele", explica a delegada.

Segundo a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, ligada à Presidência da República, o número de denúncias de cárcere privado no país feitas ao "Ligue 180" dobrou: de 70 registros, em 2007, para 134 de janeiro a setembro deste ano. Para a pesquisadora Lilia Schraiber, do Departamento de Medicina Preventiva da USP, as pessoas estão criando coragem para denunciar.

Lilia defende pesquisas que observam também os homens agressores. Os maridos hoje são alvo de projetos das próprias entidades de mulheres, que oferecem psicoterapia. "A violência conjugal é uma relação entre dois sujeitos e temos de entendê-los."

Numa pesquisa, um homem identificado como Vênus contou: "Quando ela estava grávida do meu filho, também bati, mas não na barriga. Bati nela grávida dos dois, mas, na barriga, só grávida da menina". Segundo Lilia, a taxa de agressão a mulheres grávidas fica em torno de 20% a 30% e pode chegar a 60% em casos de violência psicológica.

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