Conflito
Chorume contamina lençol freático
Todos os anos, 240 milhões de litros de chorume do Aterro da Caximba chegam ao Rio Iguaçu. Resultado do apodrecimento do material orgânico, o líquido é motivo de conflito entre a prefeitura de Curitiba e o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e razão de reclamação da comunidade e ambientalistas. A primeira fase do aterro, usada entre 1989 e 2004, não apresenta impermeabilização eficiente e, por esse motivo, pode existir contaminação do lençol freático, como se pôde ver na garrafa de água mostrada pelos líderes comunitários.
Em abril deste ano, a Gazeta do Povo publicou matéria mostrando que o chorume oriundo do aterro contamina as cavas do Rio Iguaçu. Na reportagem, a prefeitura admitiu que o chorume deixava as estações de tratamento com índices ambientais de monitoramento superiores aos padrões estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), mas o trabalho de mistura realizado pelas cavas fazia com que o líquido estivesse próximo das exigências ao ser despejado no Rio Iguaçu. Em 2008, contudo, seis laudos do IAP mostravam que as condições apresentadas pelo líquido estavam acima dos padrões estabelecidos. (VB)
Líderes comunitários da região da Caximba pedem o encerramento do Aterro o mais rápido possível sem a extensão de um ano prevista no plano de encerramento com a reconformação geométrica (reestruturação dos maciços de lixo). Os integrantes da Aliança para o Desenvolvimento Comunitário da Caximba (Adecom) Jadir Silva de Lima e padre José Antônio da Cunha, além do presidente da Associação de Moradores do Campo do Santana, Luiz Carlos Cavichioli, foram ouvidos na noite de ontem pela Comissão Especial do Lixo da Câmara Municipal de Curitiba.
"Existem alternativas para o lixo. Há aterros licenciados em Mafra e na Lapa. Não há necessidade de estender o uso da Caximba", critica Silva de Lima. "Se é possível gastar com a reconformação geométrica, por que não se pode usar o dinheiro para dividir a destinação do lixo a outros locais?", questiona o padre José. De acordo com eles, o aterro foi instalado em uma área isolada da cidade, mas hoje está muito próximo, dificultando a vida da comunidade. "O lixo está na cozinha das pessoas. É preciso pensar as consequências sociais da extensão de uso do Aterro da Caximba", diz o padre.
Para exemplificar os problemas causados à comunidade e ao meio ambiente, eles levaram à reunião duas garrafas: uma com água retirada de poços artesianos e outra das cavas do Rio Iguaçu. A primeira tinha o aspecto comum do líquido. A segunda, por outro lado, apresentava coloração preta, contendo aspectos de mistura com chorume (veja box). "Segundo o IAP, a primeira fase do Aterro (usada entre 1989 e 2004) não apresenta boa impermeabilização", diz Silva de Lima. "Por esse motivo, pode existir contaminação do lençol freático. Como existem ramificações, a população da Caximba pode estar bebendo água misturada com chorume", acrescenta.
Avaliação
Presidente da Comissão Especial, o vereador Roberto Hinça (PDT) avalia o encontro como positivo. "Não há nenhuma informação que não conhecíamos, mas é importante manter esse contato com a comunidade", diz. Uma das propostas da reunião foi organizar uma audiência pública com a população da localidade para conhecer dos próprios protagonistas os problemas enfrentados. "É fundamental a comunidade participar desse processo", opina o vereador Pedro Paulo (PT).
Integrante da bancada de oposição da Câmara, Pedro Paulo sugeriu estudo próprio da Câmara sobre a reconformação geométrica. "Vou pedir uma análise independente", diz. A solicitação do parlamentar se deve aos questionamentos realizados pelos líderes comunitários quanto à confiabilidade do estudo.
Prazo
Fevereiro é o prazo máximo para se concluir a licitação do lixo e escolher a área onde será implantada a nova usina, segundo Roberto Hinça. O atraso dessas definições deve criar nova dificuldade na questão do lixo de Curitiba e região metropolitana, que, hoje, recebeu prazo de um ano com a decisão judicial. "Estamos a um passo da solução, mas há muitos interesses econômicos em jogo", diz Hinça. Os valores envolvendo o uso da indústria do lixo por 20 anos se aproximam de R$ 1 bilhão.
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