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Ana Carolina Oliveira: estresse agudo causado pelas lembranças da morte da filha | Zanone Fraissat/Folha Imagem
Ana Carolina Oliveira: estresse agudo causado pelas lembranças da morte da filha| Foto: Zanone Fraissat/Folha Imagem

Depois de dois anos, a espera de Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella, chegou ao fim com o encerramento do julgamento de Anna Jatobá e Alexandre Nar­­doni, condenados na madrugada deste sábado. Mas o resultado do processo não muda em nada a dor pela morte violenta da filha Isa­­bella. Quem passa por um trauma desse tipo não tem um tempo para assimilar a perda, como ocorre quando alguém próximo falece de uma doença. Ter um filho assassinado pelo próprio pai não é o curso natural da vida, por isso, a superação é mais difícil e esquecer a dor é impossível. Depois de feita justiça, os parentes da vítima precisam se preparar para nova realidade, que não envolve mais a luta para que os culpados sejam punidos.

Especialistas afirmam que não há como prever qual será a reação do indivíduo depois de uma perda. No caso de Ana Carolina Oliveira e de outras pessoas que lutam por justiça para parentes mortos, o fim do julgamento pode iniciar um período de segundo luto. Isso porque durante o processo, a pessoa é obrigada a relembrar todos os fatos. No caso da mãe de Isabella, a defesa dos réus pediu que ela ficasse isolada para uma eventual acareação com Ale­­xandre Nardoni. Ana Carolina passou mal e foi diagnosticada com estado agudo de estresse. "Foi crueldade deixá-la relembrar a morte da filha sem o apoio da família. Nessa hora, os familiares são essenciais", diz a psicóloga Ana Paola Lubi. Ela explica que, em casos como esses, há o surgimento do estresse pós-traumático e a indicação é a terapia.

O psiquiatra Dagoberto Re­­quião explica que em situações como a vivida por Ana Carolina é comum que a pessoa fique com um alto nível de estresse e ansiedade enquanto aguarda a punição dos culpados. "Depois desta fase é preciso uma nova adaptação, pois será uma nova realidade. A expectativa de justiça é superada", diz. Ele explica que depois da morte, o luto dura entre 6 e 7 meses, quando o indivíduo tenta retomar a vida. "Mas em casos assim há o agravante do inesperado. Quando o parente está idoso ou doente, a morte se assemelha ao curso natural da vida".

Em situações de mortes violentas é comum que pessoas próximas à vítima tenham uma série de problemas, entre eles estresse pós-trauma, depressão, síndrome do pânico e queda da imunidade, que culminam em um abalo físico e emocional. A terapia, laços familiares e de amizade, atividades de lazer e retorno à rotina são algumas das saídas indicadas para superar a perda.

Há casos de pessoas que conseguiram se adaptar e se tornar resilientes ao fazer da sua dor uma luta. "Ajudar o próximo é uma forma de ajudar a se curar", diz a psicóloga Cleia Oliveira Cunha. Ela cita como exemplo as Mães de Maio, movimento de mulheres argentinas que se uniram para conseguir notícias de seus filhos desaparecidos durante a ditadura no país. É uma forma de resiliência. "A rede de apoio é fundamental. Quanto maior o isolamento, mais difícil o enfrentamento de determinadas situações".

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