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Curitiba – As pesquisas de genealogia genética, capazes de apontar as origens de cada ser humano, já são acessíveis a qualquer brasileiro que possa investir no mínimo US$ 99 e que esteja preparado para, em muitos casos, se surpreender com os resultados. O professor de Sociologia Política da Universidade Federal do Paraná, Ricardo Costa de Oliveira, coordenador do Projeto Brasil, de investigação da genealogia genética, diz que as pesquisas estão mostrando que toda população nacional é extremamente miscigenada e diversificada. "Não existe população pura, homogênea, em lugar nenhum".

Para Oliveira, a genealogia genética pode ser considerada hoje a principal ferramenta do conhecimento para combater o racismo. O homem tem a possibilidade de descobrir que todos pertencem a uma grande família. "A existência da raça branca e da raça negra é uma invenção política. Não existe geneticamente", afirma o professor.

O Projeto Brasil começou no início deste ano. Formado por pesquisadores voluntários, ele faz parte da Family Tree DNA, uma empresa norte-americana de genealogia genética, considerada atualmente a maior do mundo. Ela já fez os testes para mais de 100 mil pessoas em todo o planeta. Por aqui, aproximadamente 80 brasileiros se submeteram à pesquisa. Os resultados, se for do interesse do indivíduo, ficam disponíveis na internet. Segundo Oliveira, isso permite que as pessoas possam identificar parentes em todo o mundo. "Você pode encontrar pessoas de sua linhagem feminina e masculina em diferentes regiões", completa.

O professor menciona que outro mérito do Projeto Brasil é a recuperação do DNA histórico de populações indígenas que não existem mais. Um exemplo é o DNA Bandeirante (dos tupis) que continua vivo nos brasileiros e representa os índios do século 16. "O material genético vive nos brasileiros contemporâneos."

Dúvidas

Oliveira alerta que as pessoas interessadas em fazer a pesquisa devem estar cientes de que o resultado pode ser desagradável para "mentalidades conservadoras". Segundo ele, a investigação pode apontar casos de infidelidade, adoção e troca de crianças, por exemplo. À medida que o indivíduo vai avançando na pesquisa, ele pode perceber alterações que só seriam explicadas por estes eventos, diz o professor.

Também há casos de pessoas que ficam decepcionadas ao descobrir a grande diversidade e a diferença étnica presentes em sua família. São casos de negros que têm antepassados europeus e brancos com antepassados africanos.

Algumas dúvidas históricas também podem ser sanadas pela genealogia genética. Oliveira lembra das especulações sobre a possibilidade de o ex-presidente dos Estados Unidos Thomas Jefferson (1801 a 1809) ter tido filhos com uma escrava negra. As pesquisas mostram que os descendentes masculinos da família dele tem o mesmo haplótipo (seqüência numérica) dos descendentes da escrava. Esta informação indica que eles realmente tiveram filhos, explica o professor.

Interesse de cientista

Oliveira é professor de Sociologia Política da Universidade Federal do Paraná e doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas. Ele explica que tem interesse na genealogia genética como cientista social. O professor conta que há mais de 15 anos tem se dedicado a pesquisar a genealogia documental. "Identifiquei mais de 1.500 dos meus antepassados ", afirma. E desde o fim do ano passado Oliveira tem estudado a genealogia genética.

Ele descobriu que o seu haplogrupo é o J1b. Ele explica que descende de grupos que viveram na Natólia Oriental e no Cáucaso e de lá migraram para a Europa Ocidental. O professor defende a hipótese de que houve uma migração tribal dos alanos do Cáucaso para a Península Ibérica durante a queda do Império Romano.

Projeto Genográfico

A Family Tree DNA é a empresa que faz os testes para o Projeto Genográfico (Genographic Project), realizado pela National Geographic Society e a IBM. Trata-se de uma pesquisa que pretende retraçar a história da migração da espécie humana. O projeto vai usar análise sofisticada de amostras de DNA, em laboratório e computadorizada, de centenas de milhares de pessoas, incluindo representantes de populações nativas e representantes da sociedade em geral, para mapear o povoamento da Terra.

Liderado por Spencer Wells, PhD, explorador-residente da National Geographic, um grupo de cientistas internacionais e pesquisadores da IBM vão coletar amostras genéticas, analisar os resultados e elaborar relatórios a respeito das raízes genéticas dos seres humanos contemporâneos.

Os cientistas vão montar dez centros espalhados pelo mundo. Espera-se que o projeto revele detalhes a respeito da história da migração global dos seres humanos e que leve a uma nova abordagem das conexões e diferenças que compõem a espécie humana.

O banco de dados público resultante do trabalho abrigará uma das maiores coleções de informações genéticas sobre a população humana jamais reunida e servirá como fonte de pesquisa para geneticistas, historiadores e antropólogos.

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