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Malu Gomes, do Conseg, com policiais e guardas municipais na Eufrásio Correa: praça ocupada inibe a violência | Walter Alves/Gazeta do Povo
Malu Gomes, do Conseg, com policiais e guardas municipais na Eufrásio Correa: praça ocupada inibe a violência| Foto: Walter Alves/Gazeta do Povo

População tem alternativas para denunciar

A aproximação entre a população e as forças de segurança ajuda a resolver um impasse estatístico gerado pela falta de denúncias. Muitas vezes os moradores ficam descrentes em relação à eficiência da polícia e acabam não reportando os crimes às autoridades. No bairro Água Verde, o Conseg passou a utilizar mídias sociais para dialogar com os moradores e criou um canal para a informação de roubos e assaltos. Os dados são repassados para a polícia. "De forma geral, as pessoas não se sentem bem no ambiente da delegacia. Conse­­guimos criar um vínculo entre a vizinhança", comemora José Gil de Almeida, presidente do Conseg Água Verde.

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Projeto piloto de Paranavaí usa internet

Maringá - A Polícia Civil de Paranavaí, Região Noroeste do estado, descobriu uma forma de combater o crime e o tráfico por meio da inter­­­­­­net. Em um site chamado Edenúncia, lançado há duas semanas, qualquer pessoa pode entrar e fazer um comunicado sobre pontos de tráfico, roubo, pedofilia, pirataria e homicídios.

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Pelo mundo

Diferentes cidades do mundo deram exemplos de como a população pode ajudar a diminuir a violência:

Barcelona

Durante os Jogos Olímpicos de 92, a cidade criou um sistema de "zeladoria" de ruas. Grupos de estudantes se organizaram para informar turistas, cuidar da limpeza do espaço público e comunicar a polícia sobre ocorrências de roubos e assaltos. O impacto na diminuição da criminalidade foi imediato.

Londres

A London Neighbourhood Watch Association (LNWA) criou um sistema de vigilância comunitária que tem um quinto das moradias de Londres cadastradas. O representante de cada região tem contato direto com a polícia e sua identidade não é revelada. Qualquer pessoa pode se inscrever. Se os moradores aceitam participar do programa, há uma espécie de treinamento feito pela própria polícia.

Nova York

Na década de 90, o prefeito Rudolph Giuliani implantou a conhecida política da tolerância zero, que visava combater qualquer tipo de delito, desde os pequenos como pichações até assaltos no metrô. Na época, pequenas infrações eram a principal reclamação dos nova-iorquinos. A criminalidade diminuiu, mas há quem diga que a política foi discriminatória e racista.

Há quinze dias, uma mulher mostrou a importância da participação do cidadão para a segurança pública, ao denunciar uma execução praticada por policiais militares em São Paulo. Ela estava num cemitério da capital paulistana quando presenciou o assassinato e ligou para a PM informando a placa da viatura. Confrontada pelos policiais, não recuou. O exemplo mostra que, ainda que esse setor seja responsabilidade do Estado, a população pode ajudar. E exemplos de que essa postura apresenta bons resultados não faltam, em iniciativas como a organização de moradores em prol da vigilância comunitária, criação de formas alternativas de informar crimes e cuidado com o espaço público.

Para especialistas, o envolvimento da comunidade torna as políticas de combate à violência mais eficientes. Experiências mostram que quando os vizinhos se articulam, cuidam do espaço público e fazem uma vigilância no bairro, a tendência é a queda no número de crimes. Outra aposta é unir a comunidade e a polícia, o que ajuda a quebrar estereótipos negativos e estimula a construção de uma cultura de paz.

Professor do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação de Administração da Universidade Federal do Paraná, Ramiro Gonçalez argumenta que o envolvimento da sociedade em qualquer ação do Estado é importante. Mas, apesar de ser uma atividade que deve ser realizada em parceria, o problema é que a população às vezes não encontra respaldo. "Acredito que o cidadão pode voltar a confiar no Estado. Sou otimista, acho que conseguiremos reconstruir esta ponte." Contudo, ele diz que não pode haver ingenuidade. "Somen­­­te a sociedade não resolverá a questão da segurança pública, mas há medidas que podem contribuir e acabar com a passividade."

Para o antropólogo Luiz Edu­­­ardo Soares, autor dos livros Cabeça de porco e Elite da tropa, quando o cidadão participa do esforço coletivo e ajuda, por exemplo, a manter a rua limpa, tem relações humanas positivas e valoriza laços de confiança. Ele ressalta que, apesar de a segurança ser um tema complexo e, em última instância, dever do Estado, é possível pensar na responsabilidade de cada um em construir coletivamente uma cultura de paz e de respeito.

A questão da segurança pública entrou na pauta do cidadão comum e com a proliferação de organizações não governamentais deixou de ser um assunto restrito ao Estado. Hoje instituições como Afroreggae, Viva Rio e Fórum Bra­­­sileiro de Segurança Pública passaram a fazer análises estatísticas, projetos culturais e até mesmo formação policial. Tião Santos, coordenador da Viva Rio, afirma que a partir da primeira Conferên­­cia Nacional de Segurança Pública, realizada em 2008, o tema ganhou destaque. "A sociedade tem interesse porque é quem mais sofre com a insegurança."

Santos sugere quatro ações para o cidadão. A primeira é conhecer a temática da segurança, seguida por cobrar do Estado que esta seja uma área alvo de grandes investimentos. O terceiro ponto é o desarmamento. "As armas da criminalidade são furtadas do cidadão que comprou legalmente", argumenta. Por fim, o coordenador da Viva Rio diz que é importante denunciar os crimes.

Alternativas

Em Curitiba há várias proposições dos cidadãos. No bairro Boqueirão, por exemplo, 28 moradores da Rua Azis Surugi se organizaram, trocaram telefones e e-mails e fizeram um rodízio para manter uma praça próxima sempre limpa e sem pichações. O organizador do movimento é Alexandre Bruel Stange, capitão da Polícia Militar. "O que me mobilizou como cidadão foi perceber que a união pode ajudar na prevenção de crimes." A cada mês há uma reunião mensal entre os participantes e a integração comunitária faz com que um vizinho vigie a casa do outro. A iniciativa deu tão certo que já está sendo levada para outras ruas.

Na região central da capital, moradores e comerciantes reclamavam da falta de segurança e de­­­ci­­­diram agir. O problema se agravou, segundo a população, após a instalação de uma estação-tubo na Rua Lourenço Pinto. Um grupo de pessoas resolveu se mobilizar e, com a criação de um Conselho Comunitário de Segurança (Conseg), passou a fazer uma articulação com o poder público. Em pouco tempo a parceria resultou na revitalização da Praça Eufrásio Correa. "Reunimos entidades de vários segmentos e criamos o Projeto Abrace a Praça", diz Malu Gomes, presidente do Conseg da área central. Um ponto importante executado pelo grupo foi a ocupação da praça. Antes, o local ficava abandonado, mas passou a ser um ponto de encontro depois da revitalização.

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