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Segurança

Contrabando encontra 3 mil “brechas” no Lago de Itaipu

Segundo levantamento da PF, a cada 500 metros, em média, há um ponto da represa usado para o envio de produtos ilegais do Paraguai para o Brasil

Apesar de ter melhorado nos últimos anos, a estrutura da Polícia Federal para fazer frente às quadrilhas de traficantes e contrabandistas que atuam na fronteira é considerada insuficiente | Christian Rizzi/ Gazeta do Povo
Apesar de ter melhorado nos últimos anos, a estrutura da Polícia Federal para fazer frente às quadrilhas de traficantes e contrabandistas que atuam na fronteira é considerada insuficiente (Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo)

A cada 500 metros, existe uma clareira, picada ou trilha por onde é possível descarregar mercadorias contrabandeadas do Pa­­ra­­guai para o Brasil. Esse é o cenário nos 1.350 quilômetros de margens do Lago de Itaipu, na Costa Oeste do Paraná, entre Foz do Iguaçu e Guaíra. Ao todo, são 3 mil pontos clandestinos usados por pelo menos 30 quadrilhas de traficantes e contrabandistas, segundo mapeamento feito pela Delegacia Especial de Polícia Marítima (Depom), da Polícia Federal (PF), nos últimos cinco anos.

Assista aos vídeos de perseguições com helicóptero da Receita Federal

Para fazer frente à criminalidade que ocorre nos 16 municípios cortados pelo lago (15 paranaenses e um sul-mato-grossense), a PF conta com cerca de 300 policiais nas delegacias de Foz do Iguaçu e Guaíra, mas só a minoria atua diretamente na fiscalização do lago. O efetivo reduzido é apontado como a principal dificuldade da polícia na região.

Estima-se que para patrulhar toda a extensão do Lago de Itaipu (170 quilômetros em linha reta) seriam necessários 200 agentes. Mas o número de policiais que efetivamente participam desse tipo de ação é bem menor. Em Guaíra, por exemplo, há pouco mais de 40 policiais federais. Destes, 14 atuam em operações e apenas oito estão lotados no Depom e fazem patrulhamentos no Lago de Itaipu. Os demais trabalham no setor de migrações, passaportes e serviços administrativos. Em Foz do Iguaçu a situação não é muito melhor: o número de policiais exclusivos do Depom não passa de 14.

Já as quadrilhas que atuam na região são numerosas: chegam a ter 100 integrantes, segundo a PF. O delegado responsável pelo Depom de Guaíra, Rodrigo Ro­­drigues Freitas, diz que a estrutura da PF na cidade melhorou nos últimos anos, com a abertura do Depom. Mas ele admite que a situação ainda é crítica. O motivo é a dificuldade em atrair agentes às cidades de fronteira – geralmente pequenas e sem estrutura.

Com efetivo em falta, a polícia não consegue conter a abertura diária de novas picadas. Enquanto umas são desativadas, outras são abertas. "É sempre esta guerra: eles abrem e nós fechamos", relata o delegado Freitas.

Ousadia

A reportagem da Gazeta do Povo percorreu trechos do lago e constatou a ousadia das quadrilhas. Alguns pontos clandestinos são usados como depósitos a céu aberto para esconder caixas de mercadorias. Outros, onde a degradação ambiental é avançada, têm clareiras com espaço suficiente para uma carreta manobrar. O chefe do Depom de Foz do Iguaçu, Augusto Ro­­drigues, diz que muitos pontos foram abertos por pescadores, caçadores, mas com o tempo passaram a ser usados pelos criminosos.

Algumas quadrilhas usam até trator para abrir a mata. Para conter a ação dos criminosos, a PF, com apoio da Itaipu Bi­­na­­cional, já fez plantio de árvores nas clareiras para recuperar as áreas degradadas. Do lado paraguaio, onde a fiscalização não é acirrada, o quadro é bem mais tranquilo: a polícia brasileira identificou cerca de 15 passagens usadas para a saída de mercadorias ilegais.

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