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Apesar de ter melhorado nos últimos anos, a estrutura da Polícia Federal para fazer frente às quadrilhas de traficantes e contrabandistas que atuam na fronteira é considerada insuficiente | Christian Rizzi/ Gazeta do Povo
Apesar de ter melhorado nos últimos anos, a estrutura da Polícia Federal para fazer frente às quadrilhas de traficantes e contrabandistas que atuam na fronteira é considerada insuficiente| Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo

Desafio

Polícia precisa enfrentar uma rede de informantes numerosa e ágil

Com fiscais e policiais em falta, as forças de segurança enfrentam mais um desafio para combater as quadrilhas que agem na fronteira: uma rede criminosa de informantes numerosa e ágil. Pela Receita Federal do Brasil (RF), cerca de sete servidores são lotados para operações de campo, três em Foz do Iguaçu e quatro em outras unidades que se revezam. Pela Polícia Federal (PF) e demais corporações, incluíndo a Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar e Guarda Municipal, o total destacado para operações não passa de 150.

Esse grupo é responsável por enfrentar, todos os dias, um exército de pelo menos 500 pessoas envolvidas na movimentação de contrabando e tráfico na barranca do Rio Paraná – inclusive crianças e adolescentes recrutados no Paraguai. São barqueiros, carregadores, olheiros, informantes. Alguns se espalham em uma área de até um quilômetro das margens do Rio Paraná para informar, via rádio, aos integrantes da quadrilha, sobre os passos dos agentes da PF e da RF.

"A ação é bem difícil. Eles têm informantes entre a Avenida Tancredo Neves [que dá acesso à Itaipu] até a barranca do rio", reclama o auditor da Receita Ivair Hoffmann. Os integrantes das quadrilhas se comunicam também por telefone celular e têm acesso às conversas de policiais e auditores – provavelmente porque invadem as frequências de rádio das polícias e da Receita.

Rio Paraná tem portos estratégicos para o crime

Os 21 quilômetros da barranca do Rio Paraná em Foz do Iguaçu – entre a hidrelétrica de Itaipu e o Marco das Três Fronteiras, nos limites entre Brasil, Paraguai e Argentina – são considerados estratégicos para o contrabando e o tráfico de drogas no Brasil. Lá, o transporte é feito dia e noite e por isso o trabalho da polícia não pode parar.

Os pontos, já mapeados pela PF, estão no bairro Porto Belo, passando pelo Jardim Jupira e Ponte da Amizade – todas áreas limítrofes ao Paraguai. Na sequência há picadas e pequenos portos, batizados de Pulo, Carolina, Barba, Eva, Areial, Escadinha, Porto do Ivo, entre outros. Em algumas dessas áreas, só a polícia entra. Quem não é do local é ameaçado e forçado a se retirar.

Os portos da ilegalidade estão em meio a três favelas, colônias de pescadores, três clubes náuticos e o Espaço das Américas – auditório situado no Marco das Três Fronteiras proxima a sede da Marinha. Cada quadrilha atua em um ponto ou reveza-se em alguns deles. "Cada um manda em um pedaço e tem a própria segurança", diz o auditor da Receita Federal (RF) Ivair Hoffmann.

Monitoramento

As corporações policiais e a RF fazem operações constantes no local, mas a travessia no Rio Paraná e no Lago só é contida quando há ações contínuas com apoio do Exército. Em terra, o monitoramento das quadrilhas que transportam mercadorias pelo lago é marcado por perseguições. Com o uso de um helicóptero, que fica na fronteira em caráter temporário, a RF tem tirado de circulação muitos contrabandistas e traficantes, mas muitos ainda continuam atuando.

Com informações do helicóptero, fiscais perseguem em terra carros e vans que deixam a barranca com mercadorias. A movimentação de contrabandistas, próximo ao centro de Foz do Iguaçu, coloca em risco até mesmo moradores. Carros carregados de muamba não respeitam semáforos e trafegam na contramão. Para despistar os fiscais, as quadrilhas refugiam-se em casas, garagens e até mesmo mansões situadas nos bairros de Foz do Iguaçu. (DP)

A cada 500 metros, existe uma clareira, picada ou trilha por onde é possível descarregar mercadorias contrabandeadas do Pa­­ra­­guai para o Brasil. Esse é o cenário nos 1.350 quilômetros de margens do Lago de Itaipu, na Costa Oeste do Paraná, entre Foz do Iguaçu e Guaíra. Ao todo, são 3 mil pontos clandestinos usados por pelo menos 30 quadrilhas de traficantes e contrabandistas, segundo mapeamento feito pela Delegacia Especial de Polícia Marítima (Depom), da Polícia Federal (PF), nos últimos cinco anos.

Assista aos vídeos de perseguições com helicóptero da Receita Federal

Para fazer frente à criminalidade que ocorre nos 16 municípios cortados pelo lago (15 paranaenses e um sul-mato-grossense), a PF conta com cerca de 300 policiais nas delegacias de Foz do Iguaçu e Guaíra, mas só a minoria atua diretamente na fiscalização do lago. O efetivo reduzido é apontado como a principal dificuldade da polícia na região.

Estima-se que para patrulhar toda a extensão do Lago de Itaipu (170 quilômetros em linha reta) seriam necessários 200 agentes. Mas o número de policiais que efetivamente participam desse tipo de ação é bem menor. Em Guaíra, por exemplo, há pouco mais de 40 policiais federais. Destes, 14 atuam em operações e apenas oito estão lotados no Depom e fazem patrulhamentos no Lago de Itaipu. Os demais trabalham no setor de migrações, passaportes e serviços administrativos. Em Foz do Iguaçu a situação não é muito melhor: o número de policiais exclusivos do Depom não passa de 14.

Já as quadrilhas que atuam na região são numerosas: chegam a ter 100 integrantes, segundo a PF. O delegado responsável pelo Depom de Guaíra, Rodrigo Ro­­drigues Freitas, diz que a estrutura da PF na cidade melhorou nos últimos anos, com a abertura do Depom. Mas ele admite que a situação ainda é crítica. O motivo é a dificuldade em atrair agentes às cidades de fronteira – geralmente pequenas e sem estrutura.

Com efetivo em falta, a polícia não consegue conter a abertura diária de novas picadas. Enquanto umas são desativadas, outras são abertas. "É sempre esta guerra: eles abrem e nós fechamos", relata o delegado Freitas.

Ousadia

A reportagem da Gazeta do Povo percorreu trechos do lago e constatou a ousadia das quadrilhas. Alguns pontos clandestinos são usados como depósitos a céu aberto para esconder caixas de mercadorias. Outros, onde a degradação ambiental é avançada, têm clareiras com espaço suficiente para uma carreta manobrar. O chefe do Depom de Foz do Iguaçu, Augusto Ro­­drigues, diz que muitos pontos foram abertos por pescadores, caçadores, mas com o tempo passaram a ser usados pelos criminosos.

Algumas quadrilhas usam até trator para abrir a mata. Para conter a ação dos criminosos, a PF, com apoio da Itaipu Bi­­na­­cional, já fez plantio de árvores nas clareiras para recuperar as áreas degradadas. Do lado paraguaio, onde a fiscalização não é acirrada, o quadro é bem mais tranquilo: a polícia brasileira identificou cerca de 15 passagens usadas para a saída de mercadorias ilegais.

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