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Boa parte do contrabando do Paraguai para o Brasil está concentrado na Ponte da Amizade, mas uma das formas mais arrojadas de trazer muamba é utilizada em outra área da Tríplice Fronteira. Quadrilhas estão transportando mercadorias pelo Rio Paraná e pelo Lago de Itaipu para aumentar os ganhos e driblar a fiscalização das bagagens feita nas aduanas.

O caminho alternativo é usado principalmente à noite, longe das luzes da Receita Federal, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, entre outros órgãos de segurança que atuam na alfândega ou na cabeceira da ponte. Seu funcionamento requer uma logística apurada, em que cada participante tem uma função bem definida.

A rentabilidade do negócio seduz moradores vizinhos ao rio e atrai também quem quer aumentar renda à margem da lei. Para atravessar um notebook pela Ponte da Amizade, por exemplo, o laranja (como são chamados os que transportam a mercadoria como se fosse sua) cobra em média R$ 80. Já um barqueiro pede R$ 150 e faz o transporte pelo rio de uma caixa com dez aparelhos. Ou seja, aumenta – e bastante – a produtividade do contrabando.

O contrabando fluvial está concentrado em três pontos do Rio Paraná, que tem 20 quilômetros de extensão da barragem da Itaipu Binacional ao encontro com o Rio Iguaçu. Ele é feito na altura das favelas do Jardim Jupira e do Bambu e do bairro Porto Belo. A primeira é controlada por brasileiros, enquanto os outros dois locais reúnem brasileiros e paraguaios.

A informação é de um ex-atravessador, que aceitou falar sobre o esquema desde que mantido no anonimato. Ele trabalhou durante dois anos descarregando caixas dos barcos e levando-as para depósitos localizados nas proximidades do rio ou para os veículos que aguardam a mercadoria em ruas e avenidas próximas.

Ele aponta quem são os comandantes da rede ("Raimundo, Nica, Santa Cruz, Airê, Nego, Braz, Jaílson") e conta detalhes da travessia. Mostra ainda, sem nenhum receio, fotografias feitas por um ex-chefe. "Ela tirou fotos do trabalho para a gente guardar de lembrança."

Em uma das fotos, aparecem pessoas descarregando muamba de barcos em plena luz do dia. "Alguns homens estavam atrás desta pedra fumando maconha", relata o ex-atravessador, indicando com o dedo uma rocha na margem do leito. Em outra imagem, desta vez noturna, ele aparece segurando sete caixas. A Gazeta do Povo optou por não publicar as imagem para não haver o risco de identificação da fonte.

Estrutura

O contrabando fluvial usa barcos de até seis metros de comprimento, com capacidade para transportar 45 pneus ou 55 caixas de equipamentos. O percurso de um país ao outro é curto, cerca de 200 metros, e feito em cerca de cinco minutos. A autorização para a travessia é dada por rádio. Aí os contrabandistas entram em ação: são quatro equipes, com dez "mulas" cada, responsáveis por descarregar as caixas e levá-las aos veículos. Os principais itens contrabandeados desse modo são cigarro, eletrônicos e equipamentos de informática.

O ex-atravessdor garante que nunca soube de transporte de drogas ou armas. "As caixas eram lacradas, a gente nunca via o conteúdo." O carregador ganha R$ 1 para levar uma caixa de cigarro da barranca do rio até as avenidas de acesso ou R$ 5 para ajudar um grupo a subir a ladeira, de uns 150 metros. "Eu tirava mais de R$ 3 mil por mês, mas abandonei porque tava muito inseguro, às vezes tinha tiroteio", diz a fonte. Hoje, em um trabalho legal, ele recebe R$ 600 por mês sem "dever nada para a polícia".

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