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A pacificação espontânea da Vila Torres coincide com o momento em que a sigla UPP – Unidade de Polícia Pacificadora – se tornou tão popular no Brasil quanto a do INSS. Milhares de brasileiros acompanharam a tomada militar de favelas cariocas, inaugurando uma nova modalidade de combate ao crime organizado, cujo maior trunfo é liberar as comunidades do jugo dos traficantes.

A UPP, lógico, virou remédio e levou o crime a mudar de táticas. Depois de levas de traficantes serem flagrados fugindo pelas beiras, sem camisa e de chinelo de dedo, viu-se que era hora de me­­lho­rar as relações com a "turma da geral". Essa mudança de relacionamento entre criminoso e cidadão comum, de modo a garantir a continuidade do tráfico, pode estar repercutindo em áreas onde não há unidades pacificadoras. Há notícias dessa "resposta condicionada" em favelas de São Paulo. Em hipótese, os criminosos da Vila Torres seguiram a tendência e propagaram ao ventos a tal "convenção de paz no shopping".

"Ainda que seja uma artimanha dos traficantes, a redução da violência é um alívio para as comunidades. O pessoal da Torres tem mesmo o que festejar. Mas é muito cedo para fazer afirmações. A hora é de observar. As UPPS são clonagem do modelo colombiano – e os homicídios voltaram a crescer na Colômbia", analisa o sociólogo Pedro Bodê, do Centro de Estudos de Segurança Pública e Direitos Humanos da UFPR. Houve uma trégua na Colômbia, mas entre 2009 e 2010 o número de homicídios cresceu 177%, segundo dados oficiais. Em 2009, as taxas voltaram a 94 homicídios por 100 mil habitantes em Medelin.

O pesquisador, uma referência nacional no assunto, chama atenção para o alto custo da ação violenta de traficantes nas favelas, seja em armamento, manejo do território e demais intimidações. Manter a comunidade cativa é um crime que não compensa, como se pode ver no Rio de Janeiro, palco de comoventes rendições de populares diante dos tanques, desmoralizando milicianos e bandidos.

"Não se pode comparar os nível de tráfico na Vila Torres aos dos morros cariocas, mas é bem possível que não atirar mais seja uma maneira de manter o posto", reforça Bodê. O caso da vila, aliás, é bem particular. Nenhuma comunidade é tão noticiada quanto essa – dada sua antiguidade, proximidade com o Centro, vizinhança com a PUCPR e Fiep, e sua rede de relações sociais com a cidade. Se ficar fora do boletim policial daqui para frente vai ser um alívio para os moradores. E muito mais para os traficantes.

Em tempo. Na Vila das Torres ninguém nomina e aponta contraventores com o dedo. Perguntar se o fim dos tiroteios equivale ao fim do tráfico é receber o silêncio como resposta. O momento é de euforia e de discursos pacifistas em qualquer esquina. A ponte sobre o Belém, na qual alguns ativistas pintaram "Paz", em homenagema um jovem assassinado, virou a Bastilha local. Há alguns céticos, claro. Mas duvidar de que os dias melhores chegaram, dizem, é ser um desmancha-prazeres.

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