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Vídeo | Reprodução / Paraná TV
Vídeo| Foto: Reprodução / Paraná TV

O metrô atropelou o sistema de transporte urbano da capital paranaense. Foi um acidente grave. Desde novembro do ano passado, quando o evento "Curitiba sobre Trilhos" tirou do buraco a proposta de implantar trens subterrâneos na cidade, o povo da capital se vê às voltas com uma espécie de conversa de maluco. De um lado, fala-se pelos cotovelos do futuro metrô da linha Norte–Sul, que liga o Pinheirinho ao Santa Cândida; de outro, da Linha Verde, corredor urbano que está sendo implantado na antiga BR-116. Uma vai custar R$ 1,2 bilhão e precisa de sete anos para ser concluída. A outra está orçada em R$ 121 milhões – 10% do projeto do trem – e está prevista para maio de 2008.

"Ué! Mas não é na tal da Linha Verde que vai passar o metrô?", pergunta a cozinheira Maria Helena Lima de Oliveira, 60 anos, usuária do Terminal do Santa Cândida, enquanto espera um alimentador. Sua dúvida é mais comum do que se imagina. Basta puxar conversa em qualquer estação-tubo para confirmar. Mas as pesquisas são feitas tratando metrô e ônibus como se fossem Vênus e Marte. Logo, não apontam a "confusão de conceitos" que esgota a paciência do usuário.

Ano passado, por exemplo, a Gazeta do Povo, em parceria com o instituto Paraná Pesquisas, averiguou junto a 700 entrevistados que 64% dos curitibanos aprovam a idéia do trem. O índice é alto, surpreendeu o Ippuc e deu um empurrão numa conversa que vinha da gestão anterior – conversa com a qual a prefeitura já gastou estimados R$ 5 milhões. Esse é o preço atual dos estudos de viabilidade do metrô. Ao mesmo tempo, a Urbs se baseia numa pesquisa da própria prefeitura que aponta 80% de satisfação com o transporte urbano – perdendo apenas para a coleta do lixo. É um dado animador. Enquanto isso, há homens trabalhando. Na Linha Verde, apressando o projeto que mexe com o trânsito, mas ainda não desembarcou nas cabeças.

Dois projetos, duas conversas. Até aí, nenhum problema. Seria natural não fosse o fato de que tamanha ansiedade atrapalha o "eleitorado" e, como se diz em conversa fiada, tira atenção do essencial: o destino do sistema de ônibus de Curitiba, sobre o qual se assenta o planejamento da cidade. A suposição de que tanto holofote em cima do metrô do Ippuc fez sombra na Urbs não é confirmada por ninguém, obviamente. "O Ippuc trabalha com projetos, com o amanhã. Nossa tarefa, na Urbs, é o dia-a-dia", diz o engenheiro Paulo Afonso Schmidt, 47 anos, presidente da Urbs. Como o metrô subiu no ranking de assuntos nas últimas duas semanas, a presidência do Ippuc entende que já se pronunciou o bastante a respeito e não respondeu ao pedido de entrevista para essa reportagem, feita durante duas semanas.

A próxima parada da conversa acaba sendo, naturalmente, com a Urbs. Ali, o metrô representa uma linha a mais de transporte urbano. É "continha de mais" – como se dizia no grupo escolar: restam outras 390 linhas com as quais se preocupar. Venha a galope ou venha a bala, os trens subterrâneos não vão substituir as rotas convencionais, nem colocá-las em segundo plano, já que o número de destinos da população não cabe nem na mais completa linha de metrô da face da Terra. Não é tudo. Embora o metrô pareça uma intervenção definitiva, o sistema de ônibus vai ter de continuar se reinventando para atender a uma população que cresce 2,2% ao ano em Curitiba e 2,6% na região metropolitana, de acordo com projeções da própria prefeitura.

Os números são mesmo assustadores. Tanto que levam milhares de curitibanos a suspirar pelo metrô enquanto choram pela Curitiba perdida dos paralelepípedos e carroças vindas de Santa Felicidade. Apenas pelo eixo Sul passam 260 mil passageiros por dia – 38 mil nas horas de maior movimento. É quase uma cidade de Ponta Grossa inteira. Sozinho, o castigado Terminal do Pinheirinho administra diariamente 115 mil passageiros – um mar de gente que na maioria das vezes faz filas, em outras, se acotovela; em algumas, parte para a ignorância, como a Gazeta registrou em matéria no segundo semestre de 2006.

Caso se pense na quantidade, parece mesmo ter chegado a hora de enfurnar a população por baixo da terra. Mas é de consenso que o problema não se resolve de forma tão simplista. Não se trata de levar gente, mas de entender para onde é mesmo que elas vão. "Menos de 30% dos usuários querem ir ao Centro. E 60% dos passageiros que pegam a linha Norte-Sul se renovam antes de chegar à Praça do Japão", ilustra Paulo Schmidt, chamando atenção para a equação mais difícil de todas – a de que destino a população toma pelo meio do caminho. Está aí um problema que o metrô não pode resolver, apenas remediar. Com muito menos, quem enfrenta o "busu" todos os dias também resolve. Com jeitinho. Com fila. Ou com cotovelos a postos.

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