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Ela poderia ter se conformado com o título de Princesinha do Mar e aproveitado a fama, que não é pequena. Mas, acostumada a ser cantada em prosa e verso e admirada pelos mais variados ângulos, Copacabana tratou logo de se reinventar (mais uma vez) para não decepcionar na comemoração dos seus 120 anos, na próxima sexta-feira. Depois de um período de mais baixos do que altos, quando tiroteios em favelas da região podiam ser ouvidos até mesmo por quem estava na praia, o bairro experimenta uma paz há muito tempo esquecida. Diante da pacificação do Pavão-Pavãozinho e da Tabajaras, que começou nos últimos dias de 2009, moradores do asfalto puseram "cidade partida" na prateleira das expressões em desuso.

A aposentada Rita Fernandes, de "70 anos e meio", como faz questão de frisar, é um exemplo de como a gregária Copacabana, que sempre acolheu e viu desfilar por suas ruas os mais variados tipos, de turistas e boêmios a meninos de rua e prostitutas, está cada vez mais calorosa. Diante da queda da violência - o número de roubos na região despencou de 160, em maio de 2007, para 68 no mesmo mês deste ano -, Rita se animou a explorar a vizinhança. Aluna de uma academia de dança de salão no asfalto, agora ela evolui ao ritmo do forró e do tango em bailes de todas as favelas da região.

- Já subi no Pavão-Pavãozinho, no Cantagalo. Há pouco tempo, eram tantos tiros que eu nem passava perto. Copacabana melhorou muito, agora não há mais áreas de exclusão - diz Rita.

Faixa exclusiva de ônibus é elogiada

Exclusão de pessoas não há, mas um outro tipo de segregação tem sido celebrado no bairro - o de carros de passeio nas faixas laterais do lado direito da Avenida Atlântica e da Rua Barata Ribeiro. Copacabana foi o primeiro local do Rio a ganhar o BRS, um corredor exclusivo para ônibus e táxis com passageiros e, desde o ano passado, quando o sistema foi implantado, os moradores comemoram.

- Melhorou muito a minha vida. Levava quase duas horas para chegar ao Centro de manhã. Agora, em uma hora já estou quase na porta do trabalho - diz Naira Figueiras, moradora do Posto 6.

Segundo a Secretaria municipal de Transportes, o tempo de travessia da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, a mais tumultuada do bairro, caiu de 23 minutos, em média, para 12. Cerca de cem coletivos saíram das ruas. Para o vice-presidente da Associação de Moradores de Copacabana, Tony Ferreira, a conta é outra, mas não pior:

- Na hora do rush, levávamos 40 minutos para percorrer a avenida. Agora, a metade. Faz enorme diferença na qualidade de vida.

Por falar em vida, a tida como fácil ficou mais difícil para quem vive da prostituição. Com a demolição da boate Help, a Avenida Atlântica deixou se ser, em toda a sua extensão, um bas-fonds à beira-mar.

- Não é possível acabar com a prostituição, mas agora ela se concentra no entorno da Praça do Lido, não tem mais oferta em toda a orla. Isso melhora a impressão que os turistas têm. Também não vemos mais pivetes em grupo assustando as senhoras. Copacabana está em uma nova fase - diz Tony.

No lugar da boate, vai surgir o novo Museu da Imagem e do Som, que, com um projeto arquitetônico arrojado e um endereço de fazer inveja, promete virar outra grande atração. Orçado em R$ 88 milhões, o MIS, que terá 9,8 mil metros quadrados de área construída, oito andares, subsolo com boate, cinema a céu aberto e restaurante panorâmico, já está com quase todas as fundações prontas. De agora em diante, a obra vai acelerar, promete a secretária estadual de Cultura, Adriana Rattes::

- No ano que vem, ele será inaugurado. Copacabana também vai receber um novo Teatro Villa-Lobos, destruído por um incêndio. Devemos ampliar os lugares, de 400 e poucos para 700, com a construção de um balcão.

No clima de renascimento do charme de Copacabana, novos empreendimentos têm surgido. Na divisa do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, com o Cantagalo, em Ipanema, a pousada de Lígia Mattos faz enorme sucesso entre estrangeiros que desejam se hospedar numa autêntica favela carioca. Os sete quartos, cada um com diárias a R$ 130, estão ocupados por pessoas de passaportes de países bem diferentes: Irã, Espanha, Austrália, Dinamarca, Noruega, Itália e Suécia.

- Em 2007, inaugurei e fechei em dois meses. Fiquei com medo dos tiroteios, imagine se um hóspede tivesse problemas. Agora pude reabrir e virou um sucesso - conta Lígia.

Sucesso também têm sido as novidades gastronômicas do bairro, como a Boulangerie Guérin e os chocolates, sorvetes e, principalmente, os macarons que derretem na boca da Paradis, aberta pelo chef francês Pierre Cornet-Vernet, que comandou em Paris restaurantes como o da sede da Maison Christian Dior.

- Gosto de Copacabana, aqui tem vida, tem mistura. Assim como muitos bairros franceses, que saíram da moda e depois ficaram bons de novo, Copacabana está voltando.

Desconfiada de tantos elogios ao bairro, a equipe do GLOBO resolveu procurar Horácio Magalhães, presidente da Sociedade de Amigos de Copacabana. Sempre de olho nos problemas da região, membro do Conselho de Segurança local, ele costuma elaborar dossiês com queixas para entregar às autoridades. Mas até ele é só alegria:

- Muita coisa melhorou. O único grande problema que temos são os ambulantes. De dezembro para cá, eles se multiplicaram - diz Horácio.

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