CPI terá acesso às caixas-pretas de Airbus

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Brasília – A CPI do Apagão Aéreo na Câmara terá acesso aos dados contidos nas caixas- pretas do avião da TAM, que caiu há dez dias em Congonhas. Três dias depois de dizer que as informações não seriam repassadas aos deputados federais, o chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), brigadeiro Jorge Kersul Filho, mudou de idéia ontem. Ele prometeu agendar na semana que vem uma reunião fechada para revelar o conteúdo do material.

Kersul Filho declarou que havia sido "mal-interpretado" durante a entrevista coletiva de terça-feira. "A lei diz que a CPI pode ter acesso. Assim que a comissão necessitar de informações estaremos à disposição", afirmou ontem, durante depoimento no Congresso. O militar também ressaltou que, ao contrário do trabalho feito por outros órgãos, o Cenipa realiza investigações que busquem "recomendações praticáveis de prevenção" e não culpados.

A possibilidade de conhecer os dados dividiu os parlamentares. Para Fernando Gabeira, é preciso ter responsabilidade. "Que sirva de exemplo o que fez o Efraim Filho (DEM-PB) em Washington. Por mim, formularíamos as questões que realmente precisam ser esclarecidas e esqueceríamos os detalhes", disse. Efraim Filho esteve nos EUA para acompanhar a transcrição das informações das caixas-pretas e, mesmo sem ter certeza, afirmou que o piloto do Airbus não tentou arremeter.

Já Ivan Valente (PSol- SP) comemorou. "Por muitos anos os militares ficaram com informações essenciais para os brasileiros e nunca divulgaram. Nesse caso de agora, tem que ser diferente. Eu quero saber do conteúdo das caixas para evitar novos acidentes, não por sensacionalismo."

Congonhas

Kersul Filho fez várias revelações sobre a situação da pista em que ocorreu a tragédia. Disse que, durante uma reunião no dia 28 de dezembro de 2006 entre integrantes da Infraero, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), do controle de tráfego aéreo, de sindicatos e de empresas que operam no aeroporto, chegou-se à conclusão de que os transtornos provocados pela formação de poças d'água na pista iria provocar um acidente grave. "A solução era a reforma total", explicou. A obra ocorreu, mas logo depois da reabertura da pista um avião da Pantanal também teve problemas no pouso, na véspera do acidente da TAM. A aeronave teve problemas no trem de pouso, mas o brigadeiro não soube esclarecer qual era a causa, nem colocar a culpa na pista.

Ele considerou improvável que a falta do grooving – ranhuras que permitem o escoamento da água – tenha sido a principal causa do o acidente. Até porque, segundo ele, apenas garoava no momento em que a aeronave caiu e a espessura de água na pista era cinco vezes menor que o máximo tolerado (3 milímetros). Também minimizou o fato de que o reversor (sistema de frenagem) da turbina direita do avião estava sem funcionar. O aparelho, para o militar, funciona apenas como um elemento adicional de segurança.

Kersul Filho também afirmou que problemas em aeronaves são comuns "de tempos em tempos". "Vai haver um novo acidente, não tem como fugir. Uma máquina é construída prevendo falhas." Pouco antes, entretanto, declarou que os "fatores humanos" são preponderantes em relação aos materiais nas causas dos acidentes.