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Estratégia: "Tráfico precisa sofrer no bolso"

Adotar uma "visão capitalista" de repressão deve ser a tônica do combate ao tráfico, segundo o ex-secretário antidrogas de Curitiba e delegado da Polícia Federal (PF) Fernando Francischini. Segundo o delegado, um dos responsáveis pela prisão do traficante colombiano Juan Carlos Abadia, não adianta apenas prender os grandes chefes. "Ele vai continuar comandando o tráfico de dentro da cadeia. É preciso confiscar bens, bloquear contas. Tirar o poderio econômico", afirma.

O delegado cita como exemplo a prisão do traficante colombiano. "Em uma ação conjunta com Colômbia e Estados Unidos, foram confiscados 400 imóveis e 300 lingotes de ouro", afirma Francischini. A operação que culminou na detenção de Fernandinho Beira-Mar também é lembrada. "Ali o Beira-Mar teve seus laranjas identificados e a conta deles bloqueada. Aí pesa o aspecto econômico", diz.

Guilherme Voitch

Rio de Janeiro - O diretor-geral da Polícia Fe­­deral, Luiz Fernando Corrêa, disse que a explosão do consumo de crack no Brasil é resultado do sucesso de uma política mundial de repressão contra a cocaína. Sem citar dados estatísticos ou estudos que comprovassem a informação, Corrêa afirmou que o aumento do controle dos insumos necessários para o refino da cocaína nos últimos anos resultou na elaboração de um subproduto, o crack, que passou a ser oferecido pelas quadrilhas de traficantes.

"O crack, por incrível e contraditório que pareça, é um sinal de sucesso de uma política mundial de repressão. Tem diminuído o acesso ao cloridrato (cocaína pronta para o consumo) e aí surge um subproduto tão maléfico e tão perigoso (como o crack). E as quadrilhas vão se adequando a esse mercado", afirmou o diretor-geral da PF, em entrevista coletiva ontem, após a abertura da 27.ª edição da International Drug Enforcement Conference (Idec), a maior conferência mundial antidrogas, que ocorre no Rio.

Corrêa explicava sua tese de combate ao tráfico de drogas, baseada na corresponsabilidade entre países produtores e consumidores, quando relacionou a explosão do consumo do crack à diminuição da produção de cocaína. Segundo ele, as dificuldades impostas pela repressão fez com que as quadrilhas de traficantes buscassem uma alternativa. "Essa dificuldade gera um produto, uma pasta básica de baixa qualidade", afirmou.

Mercado

As afirmações do diretor-geral da PF surpreenderam a cientista social e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, Silvia Ramos. "Não sei de onde ele tirou isso. Essa declaração não procede em relação a todos os estudos internacionais combinados com a nossa experiência empírica no Brasil", disse.

Segundo ela, a entrada do crack é resultado da falência total da atividade do controle da venda de drogas e da ampliação dos mercados dos traficantes. "Todos os estudos mostram que no mundo inteiro, e isso não é diferente no Brasil, o crack tem a ver com economia. É uma criação de opção de consumo de droga para uma parte mais pobre da população", afirmou Silvia Ramos.

Na avaliação do titular da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) da Polícia Civil do Rio, Marcus Vinícius Braga, a explosão do crack realmente está mais ligada à realidade de mercado do que a uma questão de dificuldade de produção. "Só aumentou o crack por causa da repressão ao tráfico da cocaína e maconha em operações em favelas. É uma questão de comércio", afirmou o delegado.

Pela manhã, Corrêa defendeu a corresponsabilidade de países produtores, de trânsito e consumidores no enfrentamento mais eficaz dos problemas derivados das drogas. Segundo ele, o objeto é evitar a estigmatização dos dois primeiros grupos de países, entre os quais os da América do Sul, para que suas populações não sejam prejudicadas. "Não pode ter protagonismo, e sim cooperação. Não pode ter imposição de conceitos, e sim cooperação na construção desses conceitos", afirmou.

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