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Em Foz do Iguaçu, muitos usuários rejeitam atendimento em centro especializado | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Em Foz do Iguaçu, muitos usuários rejeitam atendimento em centro especializado| Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo

Vício

Mãe pede ajuda para tratar dos três filhos dependentes

Viúva, a dona de casa Adriana Schmoeller, 52 anos, moradora de Cascavel, trava uma batalha diária contra o crack há oito anos. Dos seus seis filhos, três são usuários. Em estado mais grave, um deles começou a roubar objetos de casa para revender e comprar a droga.

A mãe não pode pagar uma clínica de desintoxicação e não consegue vagas em comunidades terapêuticas da região, superlotadas. "As clínicas particulares pedem R$ 1,8 mil só para vir buscar e não tenho como pagar", diz.

Mãe de uma filha com deficiência, Adriana pede às autoridades apoio para internar o rapaz, de 27 anos. Ela já recebe assistência da prefeitura de Cascavel. No entanto, nem mesmo o município consegue vaga para fazer o encaminhamento. A dona de casa diz que as companhias levaram os filhos a entrarem no mundo da droga. Os outros dois, um de 27 anos (gêmeo) e outro de 32, são usuários, mas não estão em estado tão grave, diz a mãe. Anteriormente, ela conseguiu vaga para os filhos em comunidades terapêuticas. "Eles têm melhoras e recaídas."

Dificuldades para internar dependentes e falta de estrutura e recursos para combater o consumo e o tráfico são alguns dos problemas enfrentados nas principais cidades do Paraná na luta contra o crack. Sem profissionais especializados e uma política definida para atender usuários, as "cracolândias interioranas" se proliferam.

Nas cinco maiores cidades do interior do estado – Londrina, Maringá, Ponta Grossa, Cascavel e Foz do Iguaçu – faltam clínicas para desintoxicação, leitos hospitalares e profissionais capacitados. A perspectiva é de que a luta anticrack se fortaleça a partir de um convênio assinado em maio por esses municípios com o governo federal. As ações estão previstas no programa "Crack: é Possível Vencer".

"Migração"

Por estar em uma região de fronteira, Foz do Iguaçu é uma das cidades que mais sentem os efeitos do consumo e tráfico da droga. Mas, além de se preocupar com os usuários locais, o município precisa dar conta da "migração" de dependentes que são atraídos pelo crack mais barato, adquirido diretamente do Paraguai – já foram identificados usuários de Curitiba, Paranavaí e São Paulo. O Secretário Municipal de Segurança Pública Cleumar Paulo Farias diz que a maioria dos usuários perambula pelo centro da cidade. Lá, cuidam de veículos ou pedem esmolas. Conforme relatos, os dependentes fumam de 20 a 30 pedras por dia. Cada pedra custa cerca de R$ 3. "A Guarda Municipal faz um trabalho de policiamento comunitário e tenta encaminhá-los para os Caps [Centros de Atendimento Psicossocial], mas nem todos querem", diz Farias.

Poucas vagas

Em Cascavel, a maior dificuldade é encontrar locais para encaminhar dependentes com menos de 18 anos, segundo o responsável pela Secretaria Municipal Antidrogas, Eugênio Rozzetti Filho. "Não há comunidades terapêuticas com vagas e nem leitos hospitalares", diz.

Pai de um dependente que já foi internado 18 vezes, Rozzetti diz que nos últimos quatro anos a prefeitura já atendeu mais de 2,5 mil famílias, a maioria com problemas relacionados ao crack. Para ele, é a família que precisa ser tratada. "As ‘cracolândias’ são só a ponta do iceberg. O problema está na família", salienta.

Em Londrina, o secretário de Saúde, Francisco Eugênio Alves de Souza, diz que o programa do governo federal é importante para a cidade porque alinha políticas do Ministério da Saúde com as ações municipais. Já estão previstas a construção de quatro unidades de acolhimento para fazer terapia em grupo.

Em Ponta Grossa, a Se­cretaria de Segurança Pú­blica pretende aplicar os recursos, inicialmente, na região de Uvaranas, bairro com maior concentração populacional onde há pelo menos duas "cracolândias".

Municípios irão receber R$ 52,3 mi

Os recursos do Programa Crack, é Possível Vencer serão distribuídos para as áreas de saúde, assistência social, segurança pública e capacitação de pessoal. Até 2014, a previsão de investimento nos municípios é de R$ 52,3 milhões. O aporte na área da saúde representa a maior fatia: R$ 33,8 milhões. Do total, R$ 9,3 milhões serão destinados a Londrina, R$ 8 milhões para Foz do Iguaçu, R$ 6,3 milhões para Ponta Grossa, R$ 5,3 milhões para Maringá e R$ 4,9 milhões para Cascavel.

O plano é oferecer consultórios de rua, unidades de acolhimento para crianças e adultos e 338 leitos em enfermarias, unidades de acolhimento e nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Droga (CAPs) – seis novas unidades serão instaladas.

Equipamentos

No setor da segurança pública, a Secretaria Nacional de Justiça vai investir cerca de R$ 12 milhões. No pacote, está previsto a capacitação de profissionais e aquisição de seis bases móveis, 120 câmeras de videomonitoramento, 12 viaturas, 12 motocicletas, 300 pistolas de condutividade elétrica e 900 sprays de pimenta. As bases móveis, cuja previsão de entrega é agosto de 2014, terão 20 câmeras de videomonitoramento fixo, dois carros, duas motos, 50 armas de condutividade elétrica e 150 sprays. A previsão é de que Londrina receba duas bases e as demais cidades uma cada.

As cidades paranaenses também serão contempladas com 29 Centros de Referência de Assistência Social (Cras), dez Centros de Referência Especializado em Assistência Social (Creas), cinco Centros para População em Situação de Rua e 450 vagas em abrigos. Os municípios receberão recursos de R$ 2 milhões, até 2014, dos quais R$ 600 mil são para Londrina, R$ 430 mil para Maringá, R$ 250 mil para Ponta Grossa, R$ 340 mil para Foz do Iguaçu e R$ 260 mil para Cascavel.

O estado do Paraná e a cidade de Curitiba aderiram ao programa em julho do ano passado com repasses de R$ 102 milhões.

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