• Carregando...
A  Creche Mamãe Carolina em Foz do Iguaçu atende mais de 80 crianças em tempo integral | Christian Rizzi/ Gazeta do Povo
A Creche Mamãe Carolina em Foz do Iguaçu atende mais de 80 crianças em tempo integral| Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo

Escolha

Diferencial religioso também pesa na decisão por creches

Entre as 79 creches comunitárias conveniadas com a prefeitura de Curitiba estão duas mantidas pela mesma organização: o Centro de Ação Social Divina Misericórdia. As creches estão localizadas no bairro Sabará e Boqueirão e atendem juntas 340 crianças de 1 a 5 anos de idade. Apesar de estarem localizadas em regiões de grande vulnerabilidade social, servem famílias de quaisquer classes sociais.

"Entendemos que toda criança tem direito à creche. Na maior parte dos casos os pais precisam trabalhar e não têm com quem deixar o filho, mas temos casos de pais com mais condições financeiras que querem deixar a criança conosco por causa do diferencial religioso, de formação mesmo", explica Irmã Anete Giordani, gestora dos Centros de Educação Infantil Divina Misericórdia.

A responsável explica ainda que, além das 340 vagas, a lista de espera por uma matrícula nas creches é grande. "Nós temos vários encaminhamentos pelo Conselho Tutelar que acabam sendo priorizados." Trinta profissionais trabalham em cada uma das unidades. E, como o repasse da prefeitura é insuficiente para a manutenção dos espaços, eventos ajudam na captação de recursos. (EM)

  • A camareira Maria da Graça com a filha e a neta na creche

As primeiras creches surgiram no Brasil no fim do século 19. Naquela época, a proteção de parte dos hoje considerados direitos das crianças era garantida por entidades civis de cunho social e filantrópico como as mantidas por recursos levantados por organizações religiosas ou entidades de classe. As creches públicas vieram bem depois, por volta da década de 1940, no Rio de Janeiro e em São Paulo, quando se tornou definitivamente responsabilidade do Estado.

Independentemente do tipo de gestão, as creches viraram artigo de primeira necessidade, principalmente nas grandes cidades. Obrigadas a trabalhar fora para ajudar no sustento da casa, as mulheres de famílias pobres não tinham com quem deixar os filhos. Porém, mais do que abrigar as crianças, essas instituições passaram a exercer papel importante também na educação dos pais e na estruturação familiar, auxiliando, por exemplo, no combate à mortalidade infantil e na prevenção à violência.

Nascidas da iniciativa popular, em algumas cidades o número de creches comunitárias é maior que o de creches públicas, como em Porto Alegre (RS). A rede própria da capital gaúcha conta com 41 entidades que atendem 5 mil crianças. Já a rede conveniada é formada por 209 instituições com 15 mil crianças atendidas. Outras 6 mil aguardam por vaga. Os convênios entre o poder público municipal e as entidades assistenciais foram impulsionados pelo fim da Legião Brasileira de Assistência (LBA), em 1993.

Como observa a assessora do Departamento Comunitário da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, Joice Gonçalves dos Santos, cada instituição é autônoma e atua conforme as características da comunidade onde está instalada. "Isso tudo com acompanhamento dos recursos e assessoramento pedagógico para que atendam aos requisitos legais."

Contingente

Levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) contabilizou 1.531 centros municipais de educação infantil no Paraná e 1.127 creches particulares em 2011. Quanto às creches comunitárias e às administradas por entidades filantrópicas, não existem dados ou mesmo estimativas seguras.

A dificuldade em se precisar o número está no fato de muitas não serem reconhecidas. Somente em Curitiba seriam cerca de 80, com 10 mil crianças atendidas e outras 7 mil na fila de espera. Em Foz do Iguaçu, a camareira Maria da Graça Godoy ficou um ano na fila aguardando vaga na Creche Mamãe Carolina para a filha Lucimila, de 5 anos e a neta Vitória, de 3 anos.

Não fossem as creches comunitárias, afirma a Irmã Anete Giordani, presidente da Associação de Creches Comunitárias de Curitiba e gestora do Centro de Ação Social Divina Misericórdia, que administra duas creches conveniadas com a prefeitura, a fila de espera por uma vaga nas entidades públicas seria muito maior. "Mesmo com a rede conveniada, há muitas crianças sem assistência. Sem esta e outras iniciativas, a prefeitura teria problemas."

Além de reduzir o déficit, os custos e as responsabilidades também são divididos. "Curitiba não tem mais terrenos para construir novos centros de educação infantil. Do ponto de vista econômico, a rede conveniada é mais barata. Enquanto na rede pública uma criança custa R$ 800 por mês, com a metade desse valor fazemos o mesmo trabalho", diz a religiosa.

Campanhas são usadas para angariar verbas

Mantidas por organizações não governamentais, fundações e associações, as creches comunitárias de Curitiba contam com uma diretoria e pessoal administrativo formado basicamente por voluntários. Os educadores e parte dos demais funcionários são contratados. Em muitos casos, quase sem ajuda do poder público, a manutenção das instituições depende praticamente de doações e do que arrecadam com campanhas.

Segundo a Irmã Anete Giordani, presidente da Associação de Creches Comunitárias (ACC) de Curitiba, as 79 creches associadas têm buscado formas diversas de angariar os fundos necessários para cobrir os custos. Festas, bingos, rifas e a doação de pais que podem ajudar são as mais comuns.

Em Foz do Iguaçu, a Creche Mamãe Carolina, que este mês completou 31 anos, mantém dez funcionários e conta com cinco irmãs da Congregação Beneditina da Divina Providência para atender 80 crianças em tempo integral. Os custos anuais passam de R$ 250 mil, dos quais apenas 15% são cobertos pelo município. O restante vem de doações.

O mesmo ocorre com o Lar Escola Dr. Leocádio José Correia, que atende 160 crianças de famílias de baixa renda da região do bairro Santa Cândida, em Curitiba. Idealizado pela Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas, a entidade lança de tempos em tempos campanhas para arrecadações.

Qualidade

Quanto à qualidade dos serviços, a Irmã Anete Giordani garante que o investimento e o retorno têm crescido a cada ano. "Antes o trabalho das creches comunitárias se resumia a abrigar crianças. Com as mudanças na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a partir de 2006, a Secretaria de Educação passou a exigir mais profissionalização desses espaços, e os cuidadores e babás foram substituídos por educadores e professores formados. Hoje somos unidades de educação infantil."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]