• Carregando...
Elaine fez o transplante mais comum no país, o de rim. Ainda assim, afirma que teve sorte de ficar apenas nove meses na fila de espera: “Sei, pela experiência de outros, que poderia ter demorado muito mais” | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Elaine fez o transplante mais comum no país, o de rim. Ainda assim, afirma que teve sorte de ficar apenas nove meses na fila de espera: “Sei, pela experiência de outros, que poderia ter demorado muito mais”| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Comunicar à família é suficiente para ser doador

A Campanha Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos, lançada no último domingo tem o objetivo de tornar a doação de órgãos menos burocrática. Com o slogan "A Vida É Feita de Conversas. Basta uma para Salvar Vidas", a campanha pretende mostrar à população que comunicar à família a intenção de ter seus órgãos transplantados já é suficiente para se tornar um doador. Não é mais preciso deixar o desejo por escrito ou registrado nos documentos, desde que os familiares se comprometam a autorizar a doação por escrito após a morte.

Embora tenha havido uma melhora expressiva na quantidade de transplantes realizados no país, a lista de espera diminuiu apenas 1% entre dezembro de 2008 e julho deste ano. No fim do ano passado, havia 64,4 mil pacientes à espera de um órgão.

Esses números podem melhorar agora que não se tem exigido mais o cadastramento de doadores em vida, que muitas vezes atrapalhava o processo de doação. "Se você não manifesta em vida que é um doador, o fato pode levar a família a interpretar que quem não se cadastrou não queria doar", explica o médico nefrologista Miguel Carlos Riella. (JK)

  • Veja que o número de transplantes de coração e pulmão diminuiram no PR

Enquanto no Brasil o volume de transplantes de órgãos com doador falecido cresceu, em média, 24,3% no primeiro semestre deste ano, no Paraná o avanço no período foi de apenas 6%. Os dados são do Ministério da Saúde, que informa terem sido realizados 2.099 procedimentos no país, nos primeiros meses de 2009, 411 a mais do que no mesmo período do ano passado.

Com o desempenho abaixo da média nacional, o Paraná caiu da 4.ª para a 6.ª posição no ranking de estados que mais realizam transplantes. A queda se deve à melhora de resultados apresentados por outros estados.

De acordo com o Ministério da Saúde, os investimentos realizados pelo governo nessa área contribuíram com esse crescimento. Foram investidos cerca de R$ 824,2 milhões no ano passado. A ampliação do número de unidades habilitadas para a realização de transplantes nos últimos dez anos também ajudou a melhorar as estatísticas. Em 1999, existiam 140 unidades. Hoje, o número saltou para 532.

No total, o Paraná fez 115 transplantes na primeira metade de 2009, contra 108 no mesmo período do ano passado. O número fez o estado empatar com Pernambuco – que apresentou um aumento de 29% – e ficar atrás de São Paulo (988), Rio Grande do Sul (179), Minas Gerais (174), Santa Catarina (135) e Ceará (117). O Rio Grande do Sul e Minas Gerais, embora continuem no topo da lista, também tiveram queda no número de trans­­plantes, de 37% e 17% respectivamente.

Alguns estados do Norte e Nor­­deste do país registraram me­­lhoras expressivas. O Ceará, por exemplo, teve um aumento de 62% no número de procedimentos. Já o Amazonas, que no primeiro semestre de 2008 não tinha realizado nenhum transplante de órgão com doador falecido, fez 12 entre janeiro e julho deste ano.

De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), houve um crescimento de 20% de doadores efetivos no semestre, atingindo 8,6 por milhão de população (pmp). Durante o mesmo período de 2008, o número chegou a 7,2 pmp. Segundo a entidade, o crescimento de doadores foi obtido em 14 estados, incluindo o Paraná.

Rins

Segundo os dados nacionais, os transplantes renais de doador falecido tiveram o maior aumento, de 30,28%. Os de fígado vêm em segundo lugar, com um au­­mento de 23,1%. Já os transplantes de coração diminuíram 2% e de pulmão, 15%.

No Paraná, os transplantes de rim também são os mais frequentes. Em 2009, foram realizados 71 procedimentos com doador falecido, 15 a mais do que em 2008.

O estado, entretanto, continua com as maiores taxas de transplantes com doador vivo (21%). No semestre anterior, realizou 96 transplantes com doadores vivos, 25 a mais do que com doadores falecidos.

Os estudos revelam que, em comparação ao ano passado, houve uma redução de 3% de doadores vivos e um aumento de 20% de doadores falecidos em todo o país. Os índices apresentados pelo Paraná contrariam a tendência nacional. O objetivo da ABTO é justamente melhorar a captação de doadores cadáveres, aumentando a oferta desses órgãos. Só assim será possível equilibrar a lista de espera dos transplantes, já que o número de doadores vivos é muito mais limitado.

A técnica em enfermagem Elaine Aparecida Padilha, 47 anos, foi submetida a um transplante renal há pouco mais de quatro meses. Ela já nasceu sem um dos rins. O outro teve as suas funções comprometidas por causa da hipertensão. Ao contrário de muitos companheiros de hemodiálise, Elaine esperou apenas nove meses por um doador. "Sei, pela experiência de outros, que poderia ter demorado muito mais. Tive sorte porque a hemodiálise estava me causando muitos problemas, a minha única solução era realizar a cirurgia e esperar pelo órgão de um doador falecido", conta.

Exemplo

O nefrologista Miguel Carlos Riella, da Fundação Pró-Renal, acredita que, embora países como os Estados Unidos e a Espanha apresentarem número de doações acima de 20 e 30 pmp, muito maior que do Brasil, o maior problema do país não é a falta de doadores, mas sim a pouca agilidade do processo de captação de órgãos.

Ele cita o modelo utilizado por Santa Catarina como um exemplo a ser seguido. Riella conta que no estado vizinho ocorre a monitoração constante das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para identificar doadores em potencial, existe maior agilidade no diagnóstico de morte cerebral, bem como maior rapidez na retirada e no transporte dos órgãos. "Uma equipe dedicada, motivada e bem treinada também é essencial para poder otimizar o processo. No Paraná, tentamos criar uma Organização de Procura de Órgãos (OPO), um órgão auxiliar na captação de doadores, mas não obtivemos sucesso", lembra.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]