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Vista do veículo incendiado  por moradores de Colombo revoltados com o assassinato de Valdiléia | Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo
Vista do veículo incendiado por moradores de Colombo revoltados com o assassinato de Valdiléia| Foto: Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo

Mau-cheiro e pilha de corpos

A violência dos fins de semana tradicionalmente faz filas de familiares no Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba. Mas há algum tempo, a demora chega a níveis insuportáveis em razão não só do tempo, mas também do mau-cheiro.

Segundo o funcionário de uma funerária que tem contrato com a prefeitura para enterrar indigentes, nesta segunda-feira (9) havia uma pilha de corpos em uma câmera fria. "Estão que nem cachorro lá. Tiveram que remover uns 20 corpos até encontrar o nosso", disse o homem, que prefere não se identificar. De acordo com ele, foram duas horas para encontrar o corpo que a funerária onde trabalha deveria providenciar o enterro, quando o normal é uma espera de no máximo 15 minutos.

Outra conseqüência é o mau-cheiro na instituição. Na tarde de sexta-feira (6), Simone Magalhães teve que fazer o trâmite para a liberação de um corpo. "Quase vomitei", afirma ela. "É um cheiro de podre com carniça terrível", descreve a aposentada Maria Cardoso Ortiz, que também esteve no IML.

O funcionário de um estacionamento ao lado do IML, que prefere manter o anonimato, diz que o cheiro chega até o seu local de trabalho de vez em quando. "Até os clientes reclamam", conta.

"Prefiro nem saber o que é esse cheiro", afirma uma funcionária do Instituto de Criminalística, cujo imóvel fica no mesmo terreno do IML.

A direção do IML é procurada há um mês pela reportagem da Gazeta do Povo para explicar o mau-cheiro que supostamente vem da instituição. Nesta segunda-feira, o porta-voz da instituição foi procurado para dar sua versão da demora na retirada de corpos, mas não foi localizado.

Pelo menos 47 pessoas tiveram mortes violentas na região de Curitiba no último fim de semana - considerando das 8h de sexta (6) até as 8h desta segunda-feira (9). O número mantem a média da semana anterior, quando 49 mortes foram registradas no mesmo período. Os dados, uma tabulação de informações das policias Militar e Civil, confirmam o aumento da violência em fevereiro. Os quatro fins de semana de janeiro tiveram média de 31,25 mortes violentas.

Comparando os dois períodos, há um crescimento nos falecimentos provocados por armas de fogo. Entre os dias entre os dias 6 e 9, foram pelo menos 25, 19% a mais em relação ao final de semana dos dias 31 de janeiro a 2 de fevereiro. Só em Curitiba, foram pelo menos 17 casos de homicídios neste fim de semana.

Dentre os registros de morte por arma de fogo, está o assassinato da manicure Valdiléia Costa e Silva, 32 anos, que morreu em um bar da cidade de Colombo, região metropolitana de Curitiba, por volta das 20h de domingo (8). Segundo populares informaram à Polícia Militar, o ex-marido dela teria efetuado vários disparos, matando Valdiléia e ferindo outras três pessoas que lá estavam. Indignados, as testemunhas do crime incendiaram o veículo do suspeito, que não foi encontrado pela polícia. Valdiléia é mãe de dois filhos.

Outra mãe de família morreu assassinada na noite de sexta-feira. Cilmara dos Santos, 34 anos, era separada do marido, pai dos dois filhos dela. Quando recebia a visita do marido que entregava o pagamento da pensão alimentar, a casa de Cilmara, localizada no bairro Abranches, em Curitiba, foi invadida por dois criminosos que efetuaram vários tiros diante das crianças. Cilmara morreu no local.

Agressão no Parque

No domingo a tarde a violência espantou os frequentadores do Parque São Lourenço, em Curitiba. O corpo de um homem foi encontrado em uma galeria de água com um grande ferimento na cabeça. O homem aparentava ter mais ou menos 35 anos.

Verdureiro assassinado

O verdureiro de 19 anos Wellington da Silva Elias, de Almirante Tamandaré, região metropolitana, estava desaparecido desde a tarde de sexta-feira. Foi encontrado por volta do meio-dia de segunda-feira morto com pelo menos cinco tiros na Vila Prado. O crime aconteceu no fim de semana, segundo a Polícia Civil. Sem antecedentes criminais, Elias foi descrito por familiares como uma pessoa tranquila, segundo a delegacia da cidade.

Outro jovem assassinado é o guardador de carros Maicon Ricardo Souza Leal, 16 anos. Ele levou dois tiros no bairro onde morava e trabalhava, o Portão, em Curitiba. Um motoqueiro foi visto por testemunhas fugindo do local do crime, de acordo com a Polícia Civil. Leal foi levado até o Hospital do Trabalhador, mas não resistiu aos ferimentos e morreu nesta manhã. "Não dormi direito essa noite. Ainda não consigo acreditar no que aconteceu", disse a vó do adolescente, a aposentada Carmem Simone Carvalho.

Latrocínios e reação policial

Três roubos de veículos acabaram em morte no fim de semana na região metropolitana de Curitiba. Em dois casos as vítimas morreram, o que caracteriza o crime de latrocínio, roubo seguido de morte. No outro, um assaltante morreu ao roubar um policial militar, que reagiu ao crime com tiros.

Os latrocínios que ocorrem em Curitiba são investigados pela Delegacia de Furtos e Roubos. Homicídios são de responsabilidade da delegacia homônima. Os crimes tanto de latrocínio quanto homicídio que ocorrem na região metropolitana de Curitiba passam a ser analisados pelas delegacias regionais.

Outros casos

Além das mortes por disparos, houve três que morreram em razão de ferimentos por arma branca. Sete pessoas não tiveram a causa morte preliminar clara, o que demandará análises aprofundadas do Instituto Médico Legal. Os estudos levam em média 30 dias.

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