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Esforços para conter o desmatamento batem de frente contra aumento da migração na região, ligada principalmente à mineração | Lalo de Almeida
Esforços para conter o desmatamento batem de frente contra aumento da migração na região, ligada principalmente à mineração| Foto: Lalo de Almeida

Discussão

Pesquisadores divergem sobre efeitos para floresta

Pesquisadores argumentam que, além de permitir aos migrantes elevar o padrão de vida, a migração para cidades em países tropicais pode reduzir a perda da floresta em função do despovoamento de determinadas áreas rurais, possibilitando que a floresta tropical volte a crescer. Já outros sustentam que a migração pode aumentar o desflorestamento ao permitir a criação de gado, já responsável por desmatar grandes porções da floresta, ao adquirir terras de propriedade de pequenos agricultores.

O elevado crescimento populacional em algumas cidades na Amazônia intensifica um processo de urbanização que vem avançando há décadas. Há mais de 20 anos, a maioria da população da região amazônica brasileira vive em áreas urbanas.

"É ótimo as pessoas estarem deixando a pobreza, mas uma coisa que precisamos compreender quando isso acontece é que existe uma maior demanda por recursos", afirmou Mitchell Aide, professor de biologia da Universidade de Porto Rico, cuja pesquisa mostrou que o desmatamento aconteceu em maior escala que o reflorestamento na Amazônia brasileira na década passada.

A Amazônia é vista há tempo como uma vasta colcha de floresta entremeada por postos ribeirinhos avançados. Porém, o explosivo crescimento das cidades na selva está virando essa visão de pernas para o ar e alarmando cientistas, enquanto uma série de novos projetos industriais transforma a Amazônia na região brasileira de crescimento mais rápido.

A tórrida expansão das cidades na floresta tropical é visível em lugares como Parauapebas, que, em uma geração, passou de um vilarejo de fronteira obscuro com brigas de gangues a uma área urbana dispersa dotada de shopping center com ar-condicionado, condomínios fechados e uma concessionária vendendo picapes Chevy.

Cientistas estão estudando o progresso e se concentrando nas demandas sobre os recursos da Amazônia, a maior área de floresta tropical remanescente do mundo. Embora as autoridades brasileiras tenham historicamente visto a colonização da região como uma questão de segurança nacional – o governo militar construiu estradas para a floresta sob o lema "ocupar para não entregar" –, o desflorestamento na Amazônia está entre as principais causas das emissões de gases do efeito estufa do planeta.

O Brasil se afastou da colonização, mas políticas que regularizam reivindicações de terra por grileiros ainda atraem imigrantes para a Amazônia. E embora o país tenha recentemente feito progresso para conter o desmatamento, em grande medida aplicando leis para a extração de madeira e criando áreas florestais protegidas, biólogos e outros pesquisadores do clima temem que o aumento agudo da migração a cidades da região, agora contando com uma população aproximada de 25 milhões de pessoas, poderia afetar tais ganhos.

"Mais população leva a mais desflorestamento", disse Philip M. Fearnside, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, em Manaus, cidade amazonense a registrar o maior crescimento entre as dez maiores cidades brasileiras entre 2000 e 2010. Segundo estatísticas governamentais, o número de moradores subiu 22%, chegando a 1,7 milhão.

Das 19 cidades brasileiras a dobrar de população na última década, de acordo com o último censo, dez estão na Amazônia. Em conjunto, a população da região aumentou 23% naquele período; o Brasil como um todo cresceu somente 12%.

Vários fatores estão estimulando esse crescimento, entre eles famílias maiores e os altos níveis de pobreza na Amazônia em comparação com outras regiões que atraem pessoas para trabalhar nas cidades. Embora a taxa de natalidade do Brasil tenha caído para 1,86 filho por mulher, uma das mais baixas da América Latina, a Região Amazônica detém o índice mais alto do país, com 2,42.

Projetos energéticos e industriais são chamariz

Sinop, cidade de 110 mil habitantes no Mato Grosso, cresceu cerca de 50% na década passada enquanto sojicultores expandiam suas operações. Incentivos fiscais à indústria promovem o crescimento em Manaus e cidades-satélite, como Manacapuru e Rio Preto da Eva. O setor madeireiro ainda é o maior responsável pelo crescimento das cidades ao longo da BR-163, importante rodovia amazônica agora em processo de asfaltamento.

Em outras partes da Amazônia, o grande incentivo para o veloz crescimento das cidades provém de projetos energéticos e industriais. A construção de dezenas de usinas hidroelétricas, incluindo barragens extensas que causaram protestos, atrai trabalhadores braçais do país inteiro a cidades como Porto Velho, em Rondônia, e Altamira, no Pará.

Mineração em alta

Em Parauapebas, também no Pará, uma mina de ferro a céu aberto oferece milhares de empregos. Planos para novas minas, em grande parte apoiados por previsões de demanda robusta da China, têm atraído muita gente em busca de trabalho a este pedaço da Amazônia. Desde o Censo de 2010, estima-se que a população local tenha subido para 220 mil habitantes, contra 154 mil, em 2000.

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