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Falta de oportunidades empurra jovens de Piraquara para a criminalidade

Ocupando a 88.ª posição nacional e quinta estadual no ranking do Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros, com 59,5 homícidios gerais por 100 mil habitantes, Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, chama a atenção pelos casos de homícidios de jovens. Na população da faixa etária entre 15 e 24 anos, a cidade salta para a 26.ª posição nacional e segunda estadual, com 145,6 homicídios por 100 mil habitantes.

"Enfrentamos a desestruturação familiar, a falta de perspectiva profissional e pessoal, o tráfico de drogas e a ineficiência do poder público. E a grande vítima disso é o jovem", diz Maria Eliete Darienzo, conselheira tutelar do município.

Principal responsável pelo abastecimento de água da Grande Curitiba, Piraquara conta uma série em entraves para a instalação de indústrias. O efeito desses empecilhos pode ser verificado na comparação com a vizinha Pinhais, de população semelhante. Pinhais emprega cerca de 10 mil pessoas na indústria. Já em Piraquara pouco mais de 1,5 mil pessoas trabalham no setor.

"Faltam vagas e oportunidades", afirma a secretária do Conselho de Segurança (Conseg) do município e presidente da Associação de Moradores do Jardim Orquídeas e Guarituba Pequeno, Maria Aparecida Leonel. Segundo ela, no entanto, o problema não é apenas econômico. No Guarituba e no Jardim Holandês, bairros que juntos contam com cerca de 45 mil moradores e são responsáveis pela maioria das ocorrências policiais da cidade, falta "estado" em tudo: não existe asfalto, saneamento e luz elétrica. Faltam postos de saúde e escolas e a polícia aparece pouco. "É um cenário propício para que o jovem caia na criminalidade", ressalta Maria Aparecida.

O aposentado Hélcio Luiz de Araújo, de 52 anos, conhece bem essa situação. Para evitar que os filhos – de 10, 12 e 18 anos – sigam o caminho trilhado por tantos vizinhos de bairro, ele adota um estilo "linha-dura". "Aqui tem meninos de 12 anos com arma na mão. Por isso eu estou sempre em cima. Cobro a ida deles para a igreja e para a escola. Fico de olho nas companhias e não deixo eles saírem de casa à noite."

Guilherme Voitch

O aumento populacional somado a um efetivo policial pequeno seria a causa do crescimento de mortes violentas em duas das cidades paranaenses com médias altas de homicídios, segundo apontou o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros, da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI). São elas: Tunas do Paraná, no Vale da Ribeira, 2.ª colocada no estado e 14.ª nacional, com 86,8 homicídios por 100 mil habitantes; e Rio Bonito do Iguaçu, no Centro-Oeste, 3.ª colocada estadual e 21.ª nacional, com 79,3 homicídios por 100 mil habitantes.

Segundo a prefeita de Tunas do Paraná, Nalinez Zanon (PMDB), o período da pesquisa (2002–2004) coincide com o boom populacional registrado na região a partir de 2002, quando o trecho da Estrada da Ribeira até Tunas foi asfaltado. Com isso, a extração de madeira aumentou, atraindo pessoas de várias regiões, o que fez triplicado a população, de 3,9 mil habitantes para 12 mil. "Como o emprego era fácil e não exigia qualificação, vieram muitos homens solteiros e com problemas com álcool", revela.

Moradores fazem relatos de brigas de homens embriagados, que por motivos torpes, como ciúmes ou pequenas dívidas, sacam de revólveres e facas. Um exemplo ocorreu em 23 de dezembro. Ao ver a namorada com outro homem em um bar, um rapaz o esfaqueou na rua principal. O assassino fugiu, mas voltou três horas depois e quase esfaqueou outro homem, quando foi preso.

O delegado de Bocaiúva do Sul, também responsável por Tunas e Adrianópolis, Germino Marques Bonfim, afirma que o efetivo é insuficiente. Em Tunas há apenas dois soldados da Polícia Militar, um sargento-gestor e um escrivão da Polícia Civil. Além deles, dois investigadores que ficam em Bocaiúva têm de atender também as outras duas cidades, em uma área equivalente a seis vezes o tamanho de Curitiba.

"Há dias em que um policial sai daqui de manhã para entregar intimações e volta só no fim da tarde. Com isso, o trabalho de investigação fica parado", aponta Bonfim. Em 2005, a prefeitura de Tunas encaminhou ao governo do estado um pedido para implantação de uma delegacia, mas até agora não obteve resposta.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (Sesp) do Paraná diz que Tunas está longe de ser violenta. A Sesp cita nota técnica do próprio estudo que diz que "em municípios de pequeno porte podem existir grandes flutuações de um ano para outro. Alguns poucos homicídios ou um acidente de trânsito com vítimas fatais numa estrada elevam insuportavelmente as taxas".

Assentamentos

Em Rio Bonito do Iguaçu, em dez anos, a população dobrou com a instalação de três projetos de reforma agrária: Marcos Freire, Ireno Alves dos Santos e 10 de Maio. No três vivem cerca de 1,6 mil famílias, além de outras 300 em outros quatro acampamentos de sem-terra.

Segundo a polícia, 85% das mortes ocorrem nos assentamentos e acampamentos. Para o delegado adjunto da 2.ª Subdivisão Policial (SDP) de Laranjeiras do Sul, Marino Marcelo de Oliveira, a violência dentro dos programas de reforma agrária está ligada a vários fatores. "Seria prematuro dizer que a maioria dos homicídios acontece por disputa de terra. A violência tem sido desencadeada por motivos que vão desde desentendimentos entre famílias até questões fúteis", explica. No domingo, por exemplo, dois líderes do assentamento Marcos Freire se mataram numa disputa por um bolo.

A polícia ainda enfrenta a falta de efetivo. A Polícia Civil tem dois investigadores e um escrivão, enquanto a PM conta com seis homens. A delegacia não tem delegado e todos os inquéritos são repassados para a 2.ª SDP em Laranjeiras do Sul.

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