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Veja que a reportagem do Fantástico entrevistou três jovens infratores

"Ele ergueu a mão e desceu o murro mesmo. Eles são muito jovens. É o que mais impressiona na gente". O desabafo é de uma das vítimas da chamada "gangue dos meninos" em Cuiabá, capital de Mato Grosso.

Neste mês, o bando fez uma série de assaltos em Cuiabá. Só um posto de gasolina foi roubado seis vezes em 14 dias pelo mesmo grupo. O circuito de segurança registrou a violência dos adolescentes.

"Você espera isso de uma criança? Nunca. Você olha assim, você não acredita na hora que está vendo isso", diz um funcionário.

Em 12 de janeiro, dois menores entram armados na loja de conveniência do posto e anunciam o assalto. Enquanto um dá cobertura, o outro rouba todo o dinheiro do caixa e também pacotes de cigarro. A funcionária não reage, mas, mesmo assim, é agredida.

Em 24 de janeiro, pouco depois das 6h20, os funcionários novamente fazem tudo o que os assaltantes mandam. Uma mulher até abre os braços, mostrando que não vai reagir. "É uma pressão na gente, não param de falar um minuto, gritando, eu vou matar, eu vou matar".

O mesmo adolescente que já tinha agredido uma funcionária participa do roubo. Ele se aproxima da atendente. Olha se ela carrega algo de valor... e dá um soco. "Me chamou de vagabunda e me agrediu na hora. Ele achou que eu estava escondendo dinheiro dele", diz a funcionária.

No dia 26, dois dias depois, a quadrilha volta a atacar. Entre os reféns, há uma criança. Sem saber de nada, uma cliente entra na loja e é dominada pelo adolescente flagrado nos assaltos anteriores. Armado, ele pega o celular da mulher e a empurra. Na sequência, bate com violência no rosto.

Na última terça-feira, a polícia encontrou os três jovens infratores que aparecem nas imagens. Eles têm 15 anos e estão internados num abrigo da capital matogrossense. Quase a metade dos adolescentes do lugar participou de roubos.

Ao "Fantástico", os três alegaram que foram agredidos, na delegacia, por policiais civis e militares. "Apanhamos demais. Spray de pimenta no olho", diz um dos adolescentes.

O coronel da PM Osmar Lino Frias nega e diz que "isso é um meio de defesa deles pra tentar desconstituir o nosso trabalho". O delegado Adalberto Antônio de Oliveira também diz desconhecer qualquer caso de tortura ou violência a qualquer pessoa.

Os três adolescentes cresceram juntos. Foram colegas de escola, no bairro Alvorada, em Cuiabá. De acordo com a polícia, o principal problema dessa região é o tráfico de drogas.

Os pais admitem que os menores detidos fumavam maconha com frequência. "Esses meninos entram nessa vida não é por necessidade, é pelas drogas", afirma uma das mães.

Para Lenice Silva dos Santos, superintendente do abrigo para menores do estado, "juntando a desestrutura familiar com o envolvimento com as drogas esse é o perfil que nós temos nas unidades socioeducativas do estado".

Crescimento

Segundo a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o número de jovens infratores que passam por internação no país aumentou. Em 2006, 10.469 menores foram internados. Em 2007, 11.443 e no ano passado, 11.734.

"Há realmente a questão do jovem querer se firmar, querer aparecer para o seu grupo social. Então, o crime é a maneira de dizer: eu estou aqui, eu existo", diz Berenice Giannella, presidente da Fundação Casa-SP (antiga Febem).

Mas, para o coronel Osmar Lino Farias, há outros fatores. "Hoje, nós já temos visto crianças com 11, 12 anos que já estão envolvidas com o crime e sempre tendo um adulto por trás".

Em São Paulo, estado com o maior número de internos - cerca de 5,2 mil -, um adolescente de 14 anos é acusado de matar uma médica, no mês passado.

Durante um assalto, Nadir Oyakawa, de 54 anos, não abriu o vidro do carro e buzinou, para avisar os sobrinhos do perigo. Um mês depois, o menor que atirou na médica foi entregue à polícia pela própria mãe.

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