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Vazão  intensa do rio Ivo fez abrir uma cratera na praça Carlos Gomes | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Vazão intensa do rio Ivo fez abrir uma cratera na praça Carlos Gomes| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Muitos curitibanos talvez nem imaginem, mas a cidade cresce sobre a água: é que, em nome do progresso e da expansão do espaço urbano, vários rios que cruzam Curitiba acabaram canalizados e, cobertos por concreto, fluem silenciosos e sujos sob os prédios.

Isso pelo menos até que o volume das chuvas desafie a capacidade de vazão de tanta água e os rios causem alagamentos, enchentes e, em casos mais extremos, o rompimento de trechos canalizados, como o Rio Ivo, que abriu uma enorme cratera na praça Carlos Gomes, no Centro de Curitiba, na manhã de quarta-feira (22).

“A velocidade e a força do curso da água de um rio canalizado têm maior potencial destrutivo do que a água que corre em curso natural. Além disso, quando se canaliza um rio, existe o risco de o canal não dar conta da vazão da água da chuva”, explicou Renato Eugenio de Lima, secretário do meio ambiente de Curitiba.

O rio mais curitibano

O rio Belém é o mais curitibano dos rios, pois ele nasce e morre dentro da cidade. Com extensão de 17 km, sua nascente fica no bairro Cachoeira; o curso atravessa a cidade de Norte a Sul e percorre vários bairros até desaguar no rio Iguaçu, no Boqueirão.

O curso de água passa pelo Parque São Lourenço, depois pelo Bosque do Papa e começa a ser canalizado no bairro Centro Cívico. Até 1977, o Belém corria às vistas de todo mundo ao lado da Avenida Mariano Torres. Obras de canalização desviaram o rio e o esconderam embaixo da Rua Tibagi. Foi a primeira grande obra de saneamento de Curitiba.

No ponto onde ele reaparece, ao lado da Rodoferroviária, podemos observar a foz de dois afluentes importantes que estão canalizados, o rio Ivo e o rio Juvevê.

Na cidade a maior parte dos rios não possui nome, sendo muitas vezes confundidos com valetas a céu aberto. O rio Belém possui 46 afluentes, sendo que os principais afluentes são: o rio Bigorrilho, que passa na Rua Fernando Moreira, rio Ivo, rio Água Verde, rio Juvevê, rio Vila Guaíra e rio Areiãozinho.

De acordo com Lima, embora a canalização de rios tenha sido um expediente bastante utilizado no passado, hoje não faz mais sentido enquanto mecanismo de planejamento urbano, seja porque é pouco eficiente para dar vazão à água da chuva, seja porque as obras de canalização podem interferir em áreas de preservação ambiental.

Segundo o secretário, um planejamento urbano mais moderno caminha na direção oposta e busca a “renaturalização” dos rios, técnica que consiste em tentar adequar a urbanização ao leito do rio. Como exemplo, ele cita um trecho do Córrego Gava, na divisa entre os bairros Mercês e Vista Alegre, que passou por obras de “descanalização”.

Além disso, hoje há o entendimento de que esse tipo de intervenção só deve ser autorizada quando há interesse público e social, e não apenas para otimizar a utilização de terrenos ou por motivos estéticos.

Curitiba possui vários rios quase que inteiramente canalizados. Entre os principais estão o Belém, canalizado desde o Centro Cívico até a Rodoferroviária; o rio Juvevê, famoso pelas enchentes, que percorre canaletas subterrâneas de 16 bairros; o Água Verde, que nasce próximo à avenida República Argentina e deságua no rio Guaíra, no fim da rua D. Pedro; e o Ivo.

Rio Ivo já deu outros sustos

O buraco que se abriu na praça Carlos Gomes não é o primeiro “susto” pregado pelo rio Ivo, que já foi o causador de muitas dores de cabeça e prejuízos por conta de enchentes que inundavam com frequência a região central de Curitiba até a década de 1990.

A primeira intervenção sobre o curso do rio aconteceu entre 1962 e 1967, na gestão de Ivo Arzua. Naquela época, a água cobria os carros estacionados na Praça Zacarias. Para resolver o problema, Arzua alargou o rio e o canalizou desde a nascente, na rua Visconde de Nacar, no Batel, até a praça Carlos Gomes, no Centro, passando pelas ruas D. Pedro II e Avenida Vicente Machado.

Em 1992, durante o mandato de Jaime Lerner, o trajeto subterrâneo “do Ivo” foi novamente desviado, dessa vez da rua Monsenhor Celso para o canal de vazão que corre pela rua Pedro Ivo – canal que percorre desde a Praça Osório, passando pela Voluntários da Pátria e Pedro Ivo até chegar ao Rio Belém. As enchentes voltaram a ocorrer.

Em 1995, quando Rafael Greca estava à frente da administração municipal, foi iniciada outra grande obra para controlar as águas subterrâneas do rio: embaixo da Avenida Vicente Machado, no trecho entre as ruas Coronel Dulcídio e Visconde de Nácar, foram construídos enormes recipientes de concreto para reterem o excesso de água do rio.

A galeria subterrânea da Vicente Machado foi novamente ampliada em 2013, já na gestão de Gustavo Fruet, para aumentar a vazão de água e prevenir enchentes. Entretanto, mesmo com as obras, ainda acontecem alagamentos, principalmente na esquina das ruas Carlos de Carvalho e Visconde de Nacar, o que indica falhas no sistema de drenagem.

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