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O Centro de Tradições Gaúchas (CTG) de Santana do Livramento, a 495 km de Porto Alegre, planeja manter o casamento gay marcado para o próximo sábado (13) mesmo após o incêndio que atingiu o local na madrugada desta quinta-feira (11).

A manutenção da cerimônia depende, porém, de uma vistoria dos bombeiros. Além do casamento gay, outros 28 casais heterossexuais realizarão um matrimônio coletivo. O fogo tomou conta justamente do palco do CTG, onde seriam realizadas as cerimônias.

O casamento gay no CTG Sentinelas do Planalto gerou polêmica porque desagradou o MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho) por entrar no calendário dos festejos da Semana Farroupilha e por ocorrer em um Centro de Tradições.

Se depender da vontade de Gilbert Gisler, 47, e Deise Gisler, 45, patrões (espécie de chefes) do CTG, o casamento será feito lá mesmo.

Deise conta que mais de cem voluntários se prontificaram para limpar o local afetado pelas chamas para que o Corpo de Bombeiros autorize mais uma vez a realização do evento.

"O que nos conforta e nos mantém em pé é o apoio da comunidade. Santana do Livramento está manchada por esse ato de vandalismo, ato cruel, ridículo", diz Deise.

A revolta é motivada pela suspeita de que o incêndio tenha sido criminoso. Há cerca de um mês, uma funcionária do gabinete de Gilber, que também é presidente da Câmara Municipal, atendeu uma ligação com ameaças. "Disseram que, se continuássemos com o casamento gay, colocariam fogo no CTG. Mas nunca passou pela nossa cabeça que colocariam de fato", conta Deise.

Além disso, pelo menos duas testemunhas afirmam ter visto pessoas portando garrafas - provavelmente com produto inflamável dentro - em volta do CTG na hora do incêndio.

"Uma vizinha viu uma pessoa com carro branco, tem a placa anotada e tudo. Segurava um galão, uma garrafa com gasolina, acredito. Outra testemunha viu outra pessoa em uma moto", conta Deise.

Pouco antes do incêndio, Deise e Gisler estavam no CTG, que fica em frente à casa da família. Eles finalizavam os preparativos para o casamento. Fizeram um churrasco e um violeiro tocou canções para embalar o trabalho misturado com celebração.

"À meia-noite e meia atravessamos a rua, ligamos o alarme do CTG. Deu cinco minutos e o alarme começou a disparar. Quando vimos, o CTG estava em chamas", relata Deise. A mulher conta que ficou com medo que atingisse sua casa. Um dos filhos do casal, de 16 anos, também estava no CTG antes do incêndio.

A polêmica

O casamento coletivo é uma iniciativa da juíza Carine Labres, 34, que abriu a inscrição também para casais gays.

Por ser em setembro, quando é comemorada a Semana Farroupilha em todo o Rio Grande do Sul, a juíza sugeriu que a celebração fosse em um CTG. O único centro que aceitou foi o Sentinela do Planalto.

Mas o MTG, órgão disciplinador e orientador ao qual os CTGs são filiados, foi contra. "Casamento de hétero, de associados ao MTG, de tradicionalistas, sim, concordamos. Mas esse casamento [gay] é fora da nossa realidade", disse Rui Ferreira Rodrigues, 61, presidente da Associação Tradicionalista de Santana do Livramento e conselheiro do MTG.

Em julho, um comunicado oficial assinado pelo presidente do MTG, Manoelito Savaris, dizia: "Oriento a que todos os tradicionalistas que no interior dos galpões e nos ambientes em que se realizam as atividades tradicionalistas, cada um procure se portar segundo o seu gênero, ou seja, os homens tenham posturas masculinas e as mulheres, posturas do sexo feminino, tudo segundo a tradição".

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