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Juvenal Cardoso, 78 anos, com as filhas Jandira e Cenira Cardoso e os netos Vinícius e Cauã: após o diagnóstico de Alzheimer, a família recebeu o pai de braços abertos | Christian Rizzi/ Gazeta do Povo
Juvenal Cardoso, 78 anos, com as filhas Jandira e Cenira Cardoso e os netos Vinícius e Cauã: após o diagnóstico de Alzheimer, a família recebeu o pai de braços abertos| Foto: Christian Rizzi/ Gazeta do Povo

Planejamento

Preparar-se é a melhor solução

Apesar de a velhice ser inevitável, nem todos estão preparados para envelhecer. O Estado não conta com estrutura e profissionais qualificados para atendê-los; a sociedade não tem uma cultura de respeito e valorização dos mais velhos; as famílias, que muitas vezes atribuem a responsabilidade a apenas um dos familiares e mesmo os idosos não planejam de que forma poderão administrar a própria idade avançada.

Como ensina o geriatra Márcio Borges, uma família bem unida e orientada consegue se planejar e dividir as tarefas. "Cada idoso dependente precisa junto dele de pelo menos mais duas pessoas, até três. Isso requer dinheiro e principalmente disponibilidade, preparo e senso de responsabilidade", completa. "Temos que acabar com essa ideia de que idoso é chato, ranzinza. Algumas pessoas são assim, e em qualquer idade. Isso não é característica de todos os mais velhos."

Dificuldades

Um pai ausente, que quando mais jovem não se permitia ficar mais tempo com os filhos, ou aquele que abandonou a família um dia, cita a psicóloga Fernanda Gomes Ribeiro, certamente terá dificuldades de ser bem aceito e cuidado pelos filhos. "Além do ranço cultural de desvalorização do idoso, é preciso levar em consideração o relacionamento familiar. O idoso também recebe na velhice o que deu no passado. Quando isso acontece, é preciso superar os traumas e cicatrizar as feridas, algo muitas vezes difícil e que leva tempo."

A dica de ambos os especialistas é saber se preparar para a velhice e se perguntar "como quero ser tratado quando envelhecer? Sou um bom pai, uma boa mãe, um bom marido, uma boa esposa?" Além disso, é preciso se planejar financeiramente e fazer valer sua opinião sobre como deseja ser cuidado, em quais condições e quem gostaria que fosse seu cuidador. Isso se faz conversando e mesmo relacionando por escrito as diretivas pessoais. "Assim, se algo acontecer e a dependência chegar, os familiares saberão como agir. Envelhecer desta maneira é uma grande conquista", orienta Borges.

Após separação, idoso voltou para a família

Quando a decisão é tomada em conjunto, a solução torna-se mais fácil. O exemplo é o da família de Juvenal Cardoso, 78 anos. Ex-trabalhador rural e pai de oito filhos, há um ano mora com uma das cinco filhas. Portador de doença de Alzheimer, ele é completamente dependente. "Meu pai precisa de ajuda para tudo. Procuro fazer o me­­lhor para que ele se sinta bem. E, sempre que preciso, divido as tarefas com as outras irmãs, seja nos cuidados, para passear ou arrumar alguma distração. Tudo é feito com amor e carinho. Pai é um só", diz Jandira.

Separado há 21 anos da primeira mulher, Juvenal morou com outra esposa no Rio Grande do Sul. Assim que apresentou os primeiros sinais da doença voltou a morar com os filhos. "A segunda esposa dele não tinha condições e não quis mais viver com ele. Sem rancor, a gente conversou e decidiu de que forma cuidaria dele", conta. De volta ao convívio com os filhos, Juju, como é chamado também pelos netos e bisnetos, mesmo com um pouco de dificuldade para falar fez questão de dizer que está sendo bem tratado. "Gosto daqui. Estou bem."

Foz do Iguaçu - "Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade." O artigo 229 da Constituição Federal de 1988 atribui tanto obrigações dos pais em relação aos filhos quanto destes aos pais quando na velhice. Esta responsabilidade foi reforçada com a edição da lei federal 10.741 de outubro de 2003, que criou o Estatuto do Idoso.

Apesar de ter uma legislação que serve de referência para outros países, questões culturais relacionadas ao cuidado de idosos ainda estão longe de ser superadas, mesmo diante de uma realidade de envelhecimento da população. O Brasil tem hoje 21 milhões de pessoas com mais de 60 anos, 12% do total de habitantes. Dentro de duas décadas, de cada quatro brasileiros, um terá mais de 65 anos. A faixa etária que mais cresce é a formada por pessoas com mais de 80 anos. A expectativa é a de que em 2025 haja nove milhões de brasileiros neste grupo.

Entretanto, como aponta o geriatra e editor de conteúdo do site "Cuidar de Idosos", Márcio Borges, o que se vê na prática é um despreparo geral: de quem envelhece, dos familiares, da sociedade e do próprio Estado. "As responsabilidades são conjuntas e deveriam ser divididas conforme a competência de cada um. O Estado e a sociedade não fazem a sua parte, sobrecarregando a família, atitude que é replicada dentro de casa."

O Estatuto do Idoso estabelece que o cuidado dos mais velhos é de responsabilidade prioritária – não exclusiva – da família. Se o idoso não tem família, o Poder Público decidirá se ele pode se cuidar sozinho ou se precisa de ajuda da comunidade ou mesmo se deve mudar para uma casa de repouso. No Brasil, há cerca de 3,2 mil Instituições de Longa Perma­­nência para Idosos, particulares ou filantrópicas. "O número de vagas é insuficiente e o preço, muitas vezes, é inviável."

Também não são raras as situações em que dois ou mais idosos, sejam irmãos, primos ou amigos, decidem morar juntos para terem companhia. A solução é recomen­­dada desde que todos tenham certa autonomia. "No Brasil, quase todos os cuidadores familiares são mulheres. Destas, metade tem entre 50 e 70 anos. Ou seja, elas também precisam de cuidado."

Os casos mais comuns são aqueles em que o escolhido para cuidar do mais velho – uma das filhas, neta, sobrinha, nora, quase sempre mulher – acaba tendo que fazer tudo sozinho. "Essa tarefa precisa ser dividida, pois o idoso é um ente da família, não alguém que tenha laços familiares só com o que tem mais tempo, paciência, condições de cuidar e que muitas vezes nem chegou a ser consultado sobre sua disponibilidade", diz a psicóloga Fernanda Gomes Ribeiro. Ela lem­­bra que apenas contribuir finan­­ceiramente não é suficiente. "É preciso agir de forma que ninguém fique sobrecarregado ou seja culpado por algo que aconteça."

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