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Em Curitiba eles usam laranja e estão por toda parte (pelo menos na região central e adjacências), às vezes em três turnos, que cobrem as 24 horas do dia – como na Rua XV. Mesmo assim, são praticamente invisíveis para boa parte da população: "Às vezes a pessoa passa do teu lado e joga o papel no chão ali na frente", desabafa Sebastião Herculano da Silva, 46 anos, varredor de rua há 11 anos. Ele é um dos 1.150 profissionais da limpeza pública (entre varredores e coletores) que atuam na capital e que hoje comemoram o Dia do Gari. Juntos, esses trabalhadores recolhem 1,2 mil toneladas de lixo por dia.

Ex-servente de pedreiro, residente em Colombo com a mulher e três filhos, Silva faz ressalvas à fama que o curitibano tem de ser um povo educado e consciente no que diz respeito à limpeza urbana. "Alguns são, às vezes andam com o papel na mão ou na bolsa até encontrar um cesto de lixo, mas não é todo mundo não", observa. "O pior é quando você acabou de varrer um lugar, aí vira as costas e vê que já está cheio de lixo de novo", lamenta.

Outro Sebastião, o de Paula Rosas, 39 anos, também se queixa da falta de respeito. "Às vezes a gente encontra alguém que está de mal com a vida", explica ele, que mora com a mulher e duas filhas em Almirante Tamandaré e trabalha há seis anos como gari. "Eu até já apanhei de um punk. Pedi licença para passar com o carrinho, ele não quis dar, aí a roda do carrinho relou na perna dele e ele me deu um soco", conta. Mas o presente que Rosas gostaria de ganhar no Dia do Gari é um reforço no salário: "Podia melhorar um pouco, né?", avalia.

O rendimento bruto (incluindo adicional de insalubridade, vale-refeição e vale-alimentação) pago pela Cavo Serviços e Meio Ambiente S.A., a empresa responsável pela limpeza pública em Curitiba, é de R$ 839,17 para os varredores, R$ 972,71 para os coletores domiciliares e R$ 923,65 para os coletores especiais e operadores de roçadeira – sem contar o vale-transporte.

Mas nem tudo são queixas na atividade. Se Curitiba não tem um Renato Sorriso, o folclórico gari carioca que levanta a Sapucaí no carnaval, a capital paranaense conta com outros profissionais que esbanjam otimismo e satisfação com o que fazem. É o caso de João Ferreira, 45 anos, há quatro funcionário da Cavo, e que mora com a mulher em Almirante Tamandaré. Ele já foi auxiliar numa empresa transportadora e, antes de varredor, era porteiro. E prefere o trabalho atual: "Já estou bem acostumado. Gosto muito do meu trabalho", descreve.

Ferreira discorda dos colegas sobre a educação e o respeito do curitibano ("acho que 90% da população já se conscientizou"), e tem uma opinião no mínimo politicamente incorreta sobre a destinação do lixo: "enquanto tiver gente sujando, jogando lixo no chão, o nosso emprego está garantido", sentencia. Mas faz um pedido aos "sujões": "amassem os papéis e panfletos antes de jogar, porque as folhas lisas são mais difíceis de varrer." Os dias de chuva também são complicados. "Quando chove muito não tem varrição, mas assim que pára a gente já vem para a rua. E se está tudo molhado não dá para varrer direito e a gente tem de pegar com a mão", explica.

Dinheiro

Mas o que deixa gari feliz da vida é achar dinheiro, como já ocorreu várias vezes com José Carlos Bueno, 48 anos, casado, pai de cinco filhos, que trabalha desde os 40 com limpeza urbana. "Já encontrei R$ 10, R$ 20, mas a maior quantia que já achei foi ‘cinqüentão’, aqui na Praça Rui Barbosa", conta. "Aproveitei para comprar uma jaqueta para a minha mulher, porque estava perto do aniversário dela", diz. Como mensagem aos colegas no Dia do Gari, Bueno vai na veia: "O negócio é caprichar cada vez mais, que também fica melhor para a gente."

Serviço: Coletores e varredores da Cavo vão ministrar palestras hoje, em escolas públicas, sobre conscientização e preservação ambiental.

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