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Se fosse traçado um mapa do tabagismo no Brasil, a Região Sul estaria coberta por uma nuvem de fumaça. Os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são os que consomem mais cigarros por dia. Estima-se que aproximadamente 13% dos fumantes da região fumem mais de 21 cigarros diariamente. No ranking nacional, Curitiba só perde para Porto Alegre. Enquanto 25,2% da população da capital gaúcha é fumante, na capital paranaense o índice fica em 21,5%. Além disso, de acordo com um levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca), os adolescentes curitibanos são os que mais fumam, em especial as meninas.

Da mesma forma que aumenta o número de fumantes, crescem também as evidências clínicas sobre os malefícios provocados pelo tabagismo. Acredita-se que hoje o cigarro mate mais do que a soma das mortes causadas por aids, drogas (cocaína, heroína e álcool), incêndios, acidentes de trânsito e suicídios. O fumo também é o principal causador da doença pulmonar obstrutiva crônica, que atinge cerca de 5 milhões de brasileiros.

Entretanto, largar o cigarro não é fácil. Embora 80% dos fumantes queira abandonar o vício, em média apenas 5% consegue. Destes, 1% volta a fumar dentro do período de um ano. "Mais importante do que falar dos males que o cigarro causa é mostrar para o paciente o que ele vai ganhar se deixar o vício", afirma o presidente da Sociedade Paranaense de Tisiologia e Doeças Torácicas, Rodney Frare e Silva. Segundo ele, depois de 10 anos de tabagismo, sentidos como olfato e paladar já ficam alterados. Além disso, com esse tempo de consumo já é possível detectar danos estruturais nas células da parede dos brânquios, o que pode significar o início de um câncer.

De acordo com a médica pneumologista e responsável pela comissão de tabagismo da Sociedade Paranaense de Pneumologia, Luci Bendhack, grande parte dos pacientes que procura ajuda são pessoas com mais de 40 anos e fumantes de longa data. "Costumamos falar que o primeiro passo para conseguir deixar o vício é querer parar. Sem estar convencido disso, o paciente não abandona o cigarro", afirma. Segundo ela, embora os medicamentos sejam distribuídos pelo governo, a primeira opção de tratamento é a terapia cognitiva comportamental, que implica a mudança de hábitos.

A médica e supervisora do Serviço de Psicologia do Hospital Erasto Gaertner, Rejane Arzua Pereira, diz que a maioria dos pacientes que participa do grupo de apoio do hospital relata que conseguiu ficar abstinente apenas por curtos períodos. Segundo ela, o que se percebe é que os fumantes fazem uso do tabaco tanto em situações prazerosas como em situações desagradáveis. "Muitas vezes eles associam o cigarro com atividades rotineiras, por exemplo, após as refeições ou simultaneamente à ingestão de café ou bebidas alcoólicas, por isso o tratamento implica em alterações na rotina", afirma.

O representante comercial Zacarias de Melo, 63 anos, está enfrentando o que os médicos dizem ser o período mais crítico para quem tenta se livrar do vício. Sem fumar há um mês, ele se diz convencido a não retomar o hábito. "Fumei durante 46 anos, mas chegou uma hora que já não agüentava mais aquele cheiro impregnado nas minhas roupas", conta. A preocupação com a saúde também pesou na decisão. Zacarias sofreu um enfarte no ano passado. "Depois disso me convenci que era hora de parar." Para vencer a tentação, ele conta que mudou seus hábitos. Já não sai de casa com a carteira de cigarro no bolso, diminuiu a quantidade de café e tem tomado muita água.

Para a médica Paola Pedruzzi, do serviço de Cabeça e Pescoço do Hospital Erasto Gaertner, a maioria das pessoas abandona o vício somente depois de sofrer algum problema grave de saúde ou quando algum familiar próximo é vitimado por uma doença relacionada ao tabaco. "O importante é que as pessoas compreendam que não existe idade para o abandono do vício, pois sempre haverá uma melhora da qualidade e da expectativa de vida", afirma.

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