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A análise da quantidade de chuva que atingiu Curitiba no mês de agosto acaba de confirmar o que todo mundo já desconfiava. A estiagem que instituiu o rodízio no fornecimento de água tratada na capital e região metropolitana, há cerca de um mês, é a pior dos últimos 43 anos, segundo estudo do Departamento de Hidrologia da Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa), ligada à Secretaria de Estado do Meio Ambiente.

A seca atual é também a segunda mais grave desde o fim do século 19 em Curitiba. Fica atrás apenas da estiagem de 1963, cujo mês mais crítico (agosto) registrou 25 milímetros (mm) de precipitação. Em agosto passado, a capital registrou 32 mm, de acordo com a média móvel obtida a partir da soma do volume de chuva dos cinco meses anteriores e dividida por cinco.

O levantamento identificou 14 períodos de estiagem, desde 1889, onde o volume de chuva ficou abaixo da média histórica, principalmente nos meses mais críticos, de junho a setembro. "Conseguimos ampliar o período de estudo, que antes estava limitado a 85 anos, para 117 anos, porque percebemos que apesar da falta de dados em alguns meses anteriores a 1922 era possível fazer a avaliação dos ciclos de chuvas sem prejuízo ao resultado final", explica o geógrafo Nílson Antônio de Morais, autor do estudo.

Ele utilizou os dados históricos coletados pela Estação Pluviométrica do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e do Instituto Tecnológico Simepar, localizada no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, uma das mais antigas em operação no Brasil.

Morais classificou quatro ciclos com tendências de chuva distintas, segundo a média anual histórica obtida desde 1889, que foi de 1.427 mm. O primeiro vai de 1889 a 1905 (média de 1.446 mm); o segundo de 1906 a 1945 (1.330 mm, 7% abaixo da média); o terceiro de 1946 a 1992 (1.438 mm); e o quarto de 1993 a 2003 (1.713 mm, 20% superior à média histórica). "Muita coisa ocorreu nesse tempo todo, mas sem dúvida o aquecimento global, o crescimento da população e as mudanças no ciclo hidrológico influenciaram as variações climáticas", afirma.

O geógrafo explica que a pesquisa não é conclusiva, mas um quinto ciclo pode estar se iniciando, já que a partir de 2004 houve uma tendência de queda no volume de chuva. Segundo Morais, a média de 2004 e 2005 foi de 1.388 mm, aproximadamente 19% menor que o período anterior. "As informações são insuficientes para afirmar com certeza que se trata de um novo ciclo, mas a estiagem deste ano pode ser mais um indício", diz.

Embora defina os períodos de estiagem apenas de Curitiba, Morais explica que é fácil perceber que o fenômeno da seca não se restringia apenas à região da capital nos 14 anos identificados pelo levantamento. Basta analisar os relatórios históricos sobre a vazão da água nos principais rios do Paraná. "A mínima histórica registrada na estação que mede a vazão do Rio Iguaçu em União da Vitória era de 52,29 metros cúbicos por segundo e ocorreu nos anos de 1944, 1951 e 1963, períodos de estiagem", lembra Morais. Em 20 de junho passado, um novo recorde: a vazão chegou a 43,90 m3/s. Na última medição, 31 de agosto, a vazão era de 79 m3/s.

Outra conclusão interessante do estudo da Suderhsa é que a floresta tem um papel fundamental na manutenção do ciclo da água (precipitação, infiltração, escoamento e evaporação), mas não é determinante para a ocorrência ou não de secas. "A gente percebe períodos de estiagem do início do século passado até a década de 60, quando a cobertura florestal no Paraná era grande, ou seja, o desmatamento agrava, mas a seca não ocorre por causa disso. A variação climática sempre vai ocorrer", afirma Morais.

O professor de Engenharia Ambiental da UFPR, Eduardo Gobbi, explica que a preservação das florestas e o uso adequado do solo permite maior infiltração da água. "Em períodos de seca, como agora, é a água dos lençóis subterrâneos que abastece os rios. Mas quando não há uma infiltração adequada, a chuva não alimenta os lençóis e o nível dos rios baixa rapidamente", diz Gobbi, lembrando que a situação de Curitiba é agravada porque há muita gente vivendo em uma área de nascentes de rios. "Se Curitiba estivesse localizada em Foz do Iguaçu, a falta de água não seria assim tão grave", opina.

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