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Uma ação simultânea, deflagrada na manhã de ontem em oito cidades dos três estados da Região Sul do país, desarticulou um grupo acusado de aplicar golpes pela internet e clonar cartões bancários. A organização pode ter desviado cerca de R$ 10 milhões nos últimos dois anos. Em Curitiba, foram detidos dois homens apontados como "líderes intelectuais" do esquema. No total, 20 pessoas foram presas, três no Paraná. "Essa é a quadrilha mais sofisticada que já pegamos. A cabeça do grupo estava no Paraná e a cauda em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul", afirma o responsável pela operação, o promotor Ricardo Herbstrith, do Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul.

R. C. B., 22 anos (que foi preso na operação Ponto Com, da Polícia Federal, em dezembro de 2005, mas que estava solto), foi encontrado em casa, por volta das 7h30, em um condomínio fechado, na Rua Inocêncio Milani, no bairro São Braz, em Curitiba.

A poucas quadras dali, na Rua Verônica Szeremeta, a polícia chegou a M. S. C., 29 anos. Foi onde os agentes descobriram que o grupo não fazia apenas transferências ilegais pela internet, mas também atuava na clonagem de cartões bancários. "Aqui caiu o mundo. Nem a gente esperava que tivesse tanta coisa", conta o promotor Herbstrith. "É uma outra vertente. Não sabíamos que eles estavam migrando para esse tipo de crime." Dentro da casa havia computadores e equipamentos que roubam informações de cartões e as reproduzem.

Uma terceira residência da região foi vistoriada. Após as buscas nos três locais, foram apreendidos cinco automóveis (Stilo, Golf, Cross Fox, Palio Adventure e Zafira), uma moto Yamaha avaliada em R$ 75 mil, um revólver com a identificação raspada, dez laptops, documentos, dois "chupa-cabras" (equipamento que grava dados bancários) e uma pilha de cartões magnéticos em branco. Segundo Herbstrith, R. C. B. era responsável pelas ações via internet, enquanto M. S. C. clonava os cartões.

Vizinhos contam que os dois tinham se mudado para o bairro há cerca de três meses. O grande movimento de pessoas e veículos chamava a atenção dos moradores. "A única coisa que levantava suspeita era o movimento fora do normal de carros novos e importados", lembra Wellington de Oliveira. "A vida deles era noturna. Chegavam de madrugada, em carros diferentes, e não se identificavam", relata uma mulher que não quis ser identificada.

"A grande dificuldade deles era não ter contas disponíveis para onde passar o dinheiro. Eles precisavam sacar sem chamar a atenção", afirma Herbstrith. Para isso, eram cooptadas pessoas que forneciam suas contas bancárias e sacavam em caixas o dinheiro transferido. "Essas pessoas não são laranjas porque sabiam o que estavam fazendo, sabiam a origem do dinheiro e ganhavam para isso", explica o promotor.

Entre esses sacadores estava R. C., 47 anos. Ela foi presa em Maringá. Na cidade, ainda foram seqüestradas duas coberturas de R$ 160 mil compradas recentemente. Outras 17 pessoas que tinham participação semelhante à de R. C. foram detidas em Florianópolis (SC) e nas cidades gaúchas de Quaraí, Santana do Livramento, Porto Alegre, Tapiranga e Monte Negro. Dez pessoas ainda são procuradas no Rio Grande do Sul.

As investigações começaram em dezembro de 2006, a partir de queixas de vários bancos sobre transferências irregulares. As vítimas preferidas eram empresas, que possuem limites de transferências bancárias mais altos que os de pessoas físicas. A partir de então, o MP gaúcho passou a monitorar conversas telefônicas de todos os envolvidos.

A ação teve apoio dos MPs do Paraná e de Santa Catarina, da Polícia Militar paranaense e da Polícia Civil gaúcha. Os acusados responderão pelos crimes de furto mediante fraude, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, e podem ser condenados a uma pena que varia de seis a 21 anos de prisão.

Há pistas de que existem outros núcleos de saque em outras regiões do país. "Trabalhamos somente na conexão Sul. Mais adiante, podemos chegar a outras participações, em outros estados", conclui Herbstrith.

Bastidores - MP gaúcho anuncia operação Nerd II
Ao contrário do que normalmente ocorre em ações policiais realizadas no Paraná, o Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul inovou e adiantou para a imprensa passos importantes da operação Nerd II. Desde quarta-feira, os repórteres puderam acompanhar o desenrolar da ação e o planejamento das prisões em Curitiba. Por sorte, os acusados não tiveram acesso a uma informação precipitada divulgada no blog do jornalista Ângelo Rigon, de Maringá, um dia antes da operação. "Graças ao blog, eu gelei", conta o promotor Ricardo Herbstrith, que tinha achado que os nove meses de trabalho tinham ido por água abaixo.

Antecedentes - Acusados já foram presos em outras operações
Segundo o Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul, o grupo desestruturado ontem durante a Operação Nerd II era formado por pessoas de outras organizações desarticuladas anteriormente pelas operações Ponto Com (da Polícia Federal, em dezembro de 2005) e Nerd (do MP gaúcho, em novembro de 2004). No total, 45 pessoas haviam sido presas por participação em esquemas de desvio de dinheiro pela internet. "É um pessoal remanescente desses dois grupos que acabaram se juntando", explica o promotor Ricardo Herbstrith.

R. C. B., apontado como líder da organização, chegou a ser preso pela PF, mas estava em liberdade por determinação da justiça. Um outro homem, preso em Santana do Livramento (RS), também já havia escapado do MP em 2004. Ele seria o responsável por recrutar sacadores que forneciam suas contas bancárias para receber parte do dinheiro transferido ilegalmente. A ação de ontem foi a segunda deste tipo no Paraná neste ano. Em junho, uma outra quadrilha foi desarticulada pelo Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) durante a operação Anti-Spam. Ao todo, foram 41 presos em Apucarana, Londrina e Guaratuba. O golpe foi estimado em R$ 3 milhões.

Matéria atualizada em 28/03/2024 para substituição dos nomes dos envolvidos por suas iniciais. No julgamento de recurso, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul absolveu os acusados. A decisão transitou em julgado e o processo foi encerrado.

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