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Curitiba registra 40 homicídios por 100 mil
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Curitiba registra 40 homicídios por 100 mil habitantes. Veja| Foto:

Assassinatos

Reduzir as mortes deve ser meta nº 1

Na avaliação do ex-comandante da Polícia Militar de São Paulo, coronel Rui César Melo, está na hora de o Paraná estabelecer uma estratégia de segurança pública e, aproveitando o exemplo de outras cidades, eleger o crime de homicídio como inimigo número um do estado. "Decidimos, em 1999, que o homicídio seria o principal crime a ser combatido em São Paulo. Percebemos que esse crime ocorria mais nas regiões periféricas e distribuímos melhor o efetivo, criando batalhões e companhias nesses locais. É vital o comprometimento de todos para resolver o problema", explica. Além disso, lembra que o Estado combateu fortemente o porte ilegal de arma e concentrou recursos especiais nos locais mais problemáticos apontados pelo mapeamento da criminalidade. "Foi uma ação extremamente integrada com a Polícia Civil. Não só diminuiu os homicídios como outros crimes também".

Em abril deste ano, pela primeira vez, o estado de São Paulo anunciou uma taxa de homicídios de 9,52 a cada 100 mil habitantes no primeiro trimestre do ano, cumprindo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) que estabelece como índice aceitável no máximo 10 a cada 100 mil.

Vizinhança mobilizada faz a diferença no Jardim das Américas

O Jardim das Américas tem sido um bom exemplo de mobilização para tentar inibir o avanço da criminalidade em Curitiba. O bairro não registrou nenhum homicídio nesse primeiro semestre, mas, se aparecer qualquer suspeito, a vizinhança está preparada. Com um Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) atuante desde 2001, os moradores conseguiram manter um hábito que virou um programa: "Vizinho solidário em alerta".

Segundo o presidente do Conseg, Pedro Forcadel, um voluntário é responsável por recolher os telefones de todos os moradores e atualizá-los. Assim, quando há qualquer movimentação suspeita, eles avisam um ao outro e alertam a polícia. De acordo com Forcadel, outra melhoria na região para combater o crime foi a construção da 2.ª Com­panhia do 20.º Batalhão da Polícia Militar. "A ação da polícia tem feito a diferença", afirma.

Curitiba fechou o primeiro semestre deste ano com uma taxa epidêmica de homicídios. Foram 357 assassinatos, o equivalente a 40 casos a cada 100 mil habitantes – média três vezes maior do que a aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A cidade de São Paulo, por exemplo, tem um índice de 10,8 homicídios por 100 mil. Já Porto Alegre tem quase a metade da taxa curitibana: 22 por 100 mil. Apesar da gravidade, o índice da capital paranaense caiu quase três pontos em relação à média do ano passado. Em 2010, o ano fechou com 42,9 homicídios por 100 mil.

Quatro dos 75 bairros de Curitiba concentraram 40,6% dos assassinatos entre janeiro e junho deste ano. Cidade Industrial (CIC), Uberaba, Sítio Cercado e Cajuru (localizados no hemisfério sul da cidade) somaram 145 homicídios no período. Em números absolutos, o CIC aparece no topo da lista, com 56 mortes. Em contrapartida, 17 bairros – como Ahú, Alto da XV, Mercês, Jardim Social e Jardim das Américas – não tiveram sequer um registro de homicídio. Todos estão situados nas regiões norte e central da capital.

Para quem vive a realidade da violência, o alto índice de homicídios está diretamente relacionado ao tráfico de drogas e à condição socioeconômica desfavorável da população onde os crimes ocorrem. "A violência aparece mais no sul porque essa região ainda não foi totalmente inserida no processo de desenvolvimento da cidade. Os moradores vivem em condições vulneráveis e acabam sendo cooptados pela criminalidade", analisa o sociólogo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Lindomar Boneti.

Segundo especialistas, é possível dividir o "mapa do crime" em duas áreas geográficas: a região norte-central, com mais acesso a infraestrutura e de maior poder aquisitivo, e a região sul-periférica, mais vulnerável a fatores sociais e onde o comércio de drogas se faz mais presente. "São duas cidades distintas dentro da mesma Curi­tiba. No sul, falta a presença do Estado como um todo, não só de policiamento. É uma violência social mesmo", define o professor de Direito Penal da UniBrasil, Ledo Paulo Guimarães Santos.

A delegada Maritza Haisi, chefe da Delegacia de Ho­­mi­cídios (DH) de Curitiba, concorda que o fator socioeconômico é determinante na análise dos números da violência e revela que nas regiões mais abastadas os assassinatos têm outra motivação. "Onde há mais acesso a serviços e estrutura, os homicídios são pontuais. São mais comuns casos como crimes passionais e brigas, por exemplo, que são casos difíceis de serem evitados com trabalho preventivo", explica.

Guerra do tráfico

Além da ausência do Estado, o tráfico de drogas é considerado o principal responsável pelos assassinatos. O delegado Jaime da Luz, responsável por investigar homicídios no Uberaba e no Cajuru, estima que 95% das mortes nesses bairros estão relacionadas às drogas. Segundo ele, a polícia revisou 150 inquéritos neste semestre e descobriu que existem vários crimes relacionados, com os mesmos "autores".

Neste ano, a Delegacia de Homicídios fez operações na CIC e no Novo Mundo, onde quadrilhas mantêm permanente disputa pelo controle do tráfico. A última ação terminou com a prisão de 11 pessoas, na Vila Nossa Senhora da Luz. No primeiro semestre, a delegacia efetuou 41 prisões, de acordo com os números oficiais.

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