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Pesquisadores já visitaram 12 parques da capital. Árvores escolhidas são identificadas para nova medição em cinco anos | Priscila Forone/Gazeta do Povo
Pesquisadores já visitaram 12 parques da capital. Árvores escolhidas são identificadas para nova medição em cinco anos| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

Fenômeno do bem virou do mal

O efeito estufa é um fenômeno natural e é ele que permite a vida no planeta. A Terra é protegida por uma camada de gases – nitrogênio (78%), oxigênio (21%) vapor d’água (1%), dióxido de carbono (0,04%) e outros em menor quantidade – que a mantém aquecida. Sem ela, o planeta seria coberto de gelo. No entanto, desde a Revolução Industrial a concentração desses gases na atmosfera tem aumentado e, nos útlimos anos, em ritmo bem acelerado. O aumento da emissão de gases "segura" mais calor próximo à superfície.

Segundo cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC), a principal causa desse aumento é a queima de combustíveis fósseis usados para gerar energia e para a produção de bens de consumo. No Brasil, essas emissões estão amplamente ligadas ao desmatamento, principalmente da Floresta Amazônica. As árvores, no processo da fotossíntese, absorvem e estocam o carbono da atmosfera.

Atualmente são seis os gases considerados como causadores do efeito estufa, sendo que o dióxido de carbono (CO2) é o principal culpado pelo aquecimento global. Esse é o gás mais emitido (aproximadamente 77%) pelas atividades humanas. Certificados podem ser vendidos para países ou indústrias que não conseguem atingir as metas de reduções de emissões, estabelecidas no Protocolo de Kyoto.

Até o fim de dezembro, a prefeitura de Curitiba vai ter em mãos os números que vão apontar qual é a capacidade que a cidade tem de absorver carbono. O levantamento está sendo feito pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem (SPVS), a partir de um convênio firmado com a administração municipal. A bióloga Marília Borgo, pesquisadora da SPVS, explica que as equipes estão em campo de segunda a quinta, desde o dia 23 de outubro, e na sexta-feira os dados são analisados e feitos os cálculos.

José Antônio Andreguetto, secretário de Meio Ambiente de Curitiba, diz que os números que serão fornecidos pela SPVS vão ser usados para que a prefeitura possa confrontar os dados com as informações referentes à emissão de gases do efeito estufa. "O objetivo é ter um inventário, saber qual é o déficit ou o superávit, para daí podermos trabalhar no projeto de Cidade Carbono Neutro", completa Andreguetto.

Segundo ele, esse levantamento completo deverá ser concluído no prazo de um ano. O secretário explica que a partir do momento que a cidade tiver essas informações será possível saber, a cada ação, o que foi gerado de emissão de gases ou compensado. O mais importante, de acordo com o secretário, é fazer com que as pessoas e a comunidade assimilem isso.

O trabalho

Marília Borgo conta que o trabalho está sendo feito, inicialmente, nos parques públicos. Os pesquisadores visitaram, até agora, 12 parques da cidade. Ela afirma que se forem identificadas áreas particulares relevantes (em tamanho – no mínimo dois hectares – e qualidade), as equipes da SPVS vão conversar com os proprietários e avaliar a possibilidade de fazer o levantamento nesses locais.

O trabalho dos pesquisadores consiste em escolher uma parcela (área relevante) de floresta e selecionar uma árvore. A partir desse ponto é considerado um raio de dez metros. Então é feito o levantamento de algumas características dessa árvore e depois os dados são lançados em uma planilha. Segundo Marília, as árvores usadas para o levantamento são identificadas com uma plaqueta e a idéia é que essa medição ocorra a cada cinco anos.

Com as pequenas amostras avaliadas, a SPVS calcula quanto de biomassa (peso das árvores, nesse caso) tem na área. A pesquisadora diz que 50% do peso da árvore é carbono. O cálculo, então, vai dizer o volume que pode ser absorvido ali e que, portanto, não estará contribuindo para o efeito estufa. Em seguida, os números serão projetados para toda a cidade.

No caminho

Mauricio Roberto Maruca, especialista em administração de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e Protocolo de Quioto, diz que Curitiba está no caminho certo. O empresário, sócio-fundador da Araúna Energia e Gestão Ambiental, em São Paulo, lembra que "não adianta pensar que o aquecimento global não vai acontecer porque já está acontecendo". Mas o importante, de acordo com ele, é que os dirigentes não devem fazer só marketing, mas adotar ações reais para o controle do problema.

E de quem é a responsabilidade? Para Maruca, algumas atitudes têm de partir dos governos, mas quem deve agir efetivamente é a iniciativa privada. "Os municípios devem ser os gestores e fiscalizadores", completa. Mas sem lucro não deve haver investimento, lembra o empresário, e uma das formas para solucionar essa equação é gerar créditos de carbono e fazer sua comercialização. "Lucro é bom, desde que seja com responsabilidade."

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