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"Bebo vinho só porque faz bem à saúde"

De família tradicional portuguesa, a professora aposentada Geni Isabele Rebello, 57 anos, nunca gostou de bebida alcóolica. Só se permite beber um cálice de vinho, por suas propriedades terapêuticas. "Sempre ouvi falar que o vinho tinto faz bem para a saúde", comenta. Geni ilustra a situação da maioria dos curitibanos, que afirma não beber com freqüência, segundo apontou a pesquisa do Ministério da Saúde.

Mas a preocupação de Geni com a saúde não se resume às restrições ao consumo de álcool. Ela faz caminhadas, exercícios de ioga, alongamento e também se preocupa em oferecer à família um cardápio balanceado. "Há 10 anos não como carne. Muitas verduras e legumes, fazem parte do nosso cardápio diário. A alimentação saudável é primordial para o equilíbrio."

O controle no consumo da bebida alcoólica foi algo aprendido por Geni desde a infância. O pai dela, descendente de portugueses, só permitia aos 11 filhos a ingestão de meio cálice de vinho tinto, em dias de festa. Ela recorda que a sua irmã mais velha, Lia Rosa, aos 13 anos resolveu exceder o limite festivo e ingerir um copo, escondido do pai. "Ficou alegre, dando risada à toa, o que causou a estranheza do pai. Quando ele soube, a proibiu de beber para o resto da vida. Não sei se isso a influenciou, mas até hoje ela não bebe nada", recorda.

Depois do casamento, com um português nato, a tradição se manteve. Seus dois filhos sempre se espelharam nos hábitos da família. Eric Rebello, 30 anos, mora há cinco anos na Alemanha e, segundo ela, não cedeu aos encantos do país da cerveja. O filho caçula, Lucas, bebe socialmente, mas sem exageros. "Como estudante de Medicina, ele sabe que o consumo moderado e a alimentação balanceada são importantes para se manter uma vida mais saudável."

Aline Peres

Os curitibanos, em comparação com os habitantes das outras capitais brasileiras, estão entre os que menos consomem bebidas alcóolicas. Assim como os paulistanos, apenas 12% da população afirma consumir álcool freqüentemente. Os homens bebem mais que as mulheres: 20% deles dizem consumir bebidas alcoólicas com freqüência, índice que cai para 4% entre as curitibanas. Em contrapartida, elas ocupam a terceira posição no ranking do tabagismo, o que coloca Curitiba como a quarta capital com o maior número de fumantes.

Os dados fazem parte do primeiro levantamento de vigilância de fatores de risco à saúde feito pelo governo federal. A pesquisa, divulgada na quarta-feira pelo Ministério da Saúde, também apontou os homens curitibanos como os maiores consumidores de hortaliças e leite integral. O levantamento, denominado Vigitel, foi feito por telefone entre agosto de 2006 e janeiro deste ano e entrevistou 54.396 pessoas nas 27 capitais brasileiras. Em Curitiba, foram ouvidas 2.011 pessoas – 771 homens e 1.240 mulheres.

Para a coordenadora-geral do setor de doenças não-transmissíveis do Ministério da Saúde, Déborah Malta, o levantamento, apesar de não ter supreendido, apontou alguns índices preocupantes. Segundo a pesquisa, 29% dos adultos brasileiros não praticam nenhum tipo de atividade física, 43% deles estão acima do peso e 11% já podem ser considerados obesos. Em Curitiba, apenas 16% da população tem o hábito de se exercitar e a obesidade já atinge cerca de 12% dos habitantes. "Esses dados vieram para confirmar uma tendência que a gente já vinha monitorando, mas mesmo assim trazem preocupação. Eles servirão de guia para a criação de políticas públicas e ações de promoção da saúde, visando principalmente ao incentivo a uma alimentação saudável, a prática de atividades físicas e a prevenção ao uso do álcool e ao tabagismo", afirma. Segundo ela, o principal objetivo está em traçar metas para conter o avanço das chamadas doenças crônicas não-transmissíveis, como diabete e hipertensão. Somente no ano de 2004, elas foram responsáveis por 1.858.370 mortes em todo o país, o que representa 61,8% do total de mortes registradas no período.

O presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso), Henrique Suplicy, ressalta que a obesidade é um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares. Segundo ele, o aumento no número de obesos se deve principalmente à combinação de maus hábitos alimentares com a falta de atividade física. Na opinião de Déborah, para reverter essa situação é fundamental que a população tenha acesso a escolhas mais saudáveis. "O custo dos alimentos saudáveis precisa ser reduzido e a população precisa ter acesso a espaços propícios para a prática de exercícios", afirma.

A médica sanitarista e membro do Departamento de Saúde Comunitária do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Eleusis Nazareno, compartilha da mesma opinião. Para ela, diversos fatores acabam impedindo que a população se exercite. "Além da falta de tempo, não são todas as pessoas que têm acesso a locais adequados para praticar atividades físicas", afirma.

A diretora do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde, Karin Luhm, reconhece que o incentivo à prática de esportes ainda é um desafio. Segundo ela, a secretaria vem desenvolvendo um trabalho não apenas de atendimento a doenças, mas focando também a promoção da saúde. "Já desenvolvemos um trabalho de realização de atividades em espaços públicos como parques e praças e estamos investindo em ações de prevenção ao uso de álcool e ao tabagismo", afirma. De acordo com Karin, o trabalho no tratamento e na prevenção à dependência alcoólica também vem mostrando bons resultados. Em 8 anos, foram feitas 15.446 desintoxicações nas unidades básicas de saúde. Segundo ela, outro foco é a criação de espaços livres do cigarro, como escolas, creches e prédios públicos.

Para a epidemiologista e professora do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Denise Peniche, o trabalho de prevenção ao fumo junto à população jovem é fundamental. "Se quisermos reduzir esses índices de tabagismo, temos de atuar principalmente junto à população jovem. Pesquisas mostram que é por volta dos 12 anos que a maioria dos adolescentes tem o primeiro contato com o cigarro", alerta.

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