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"Cursinhos têm conteúdo didático superficial e enlatado." A declaração do reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Carlos Augusto Moreira Júnior, quando questionado sobre o aumento do número de candidatos sem preparação especial para o concurso da UFPR, levantou a polêmica sobre o papel dos pré-vestibulares.

De acordo com o diretor do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe), Jacir Venturi, só em Curitiba 14 mil alunos freqüentam os cursinhos pré-vestibulares. "Eles revisam conteúdos, aprofundam-os. Muitas vezes o aluno entra sem base alguma e o cursinho o leva para a universidade", afirma. Venturi classifica os cursinhos como "um mal necessário". Tanto que a sua didática intensiva está sendo adotada por escolas regulares. É o chamado terceirão, no qual o aluno revisa o conteúdo dos primeiros anos do Ensino Médio e ainda aprofunda o conhecimento em outros assuntos. "O nível exigido pelas universidades é alto. Com a melhoria do ensino público, com certeza haveria uma diminuição na corrida pelo cursinho", afirma.

A relação da qualidade do ensino público de base com a função dos cursos pré-vestibulares é unanimidade entre profissionais de educação. A discórdia está na forma como isso acontece. Para o diretor-superintendente de Ensino do Colégio Positivo, Renato Ribas Vaz, o cursinho vai suprir as deficiências do ensino regular. "O conteúdo é extenso e o aluno às vezes vê o conteúdo de uma forma e precisa relembrar", explica.

De acordo com a professora de Letras da PUCPR, Ângela Gusso, o cursinho cobre parte da falta de estrutura no ensino de base. "O cursinho não chega a disfarçar a deficiência e é uma mera ilusão de que aquilo que não se aprendeu vai ser aprendido com macetes e em um ano, especialmente no que diz respeito à leitura e escrita", afirma.

A idéia é compartilhada pela lingüista da PUCPR Deise Link. Segundo ela, o ensino regular, público e privado, deixa a desejar. "No cursinho e no terceirão o aluno fica maravilhado com o novo. Isso pode significar que as escolas regulares estão sinalizando que durante todo o processo tem falhas", aponta.

Para o diretor do curso pré-vestibular Dom Bosco, Ari Herculano de Souza, a proposta inicial do cursinho é "relembrar" e aprender conteúdos não vistos, o que remete ao problema conjuntural na educação brasileira. "No ensino fundamental o aluno estuda para passar de ano. Somente quando chega ao terceiro ano do ensino médio, a sua realidade muda e ele precisa estudar para algo maior", afirma.

O reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira Junior, concorda com o diretor. "Se a gente achar que o cursinho vai resolver todos os problemas, vamos continuar com uma grande deficiência, porque em um ano é impossível uma pessoa acumular tudo", aponta. Segundo Moreira Junior, o cursinho foi criado pelas próprias universidades estaduais, que desvirtuaram o processo seletivo. "Mas estamos caminhando para um vestibular mais inclusivo e democrático, que vai pedir um estudo mais consolidado e não aquela pergunta tipo ‘olha aquele macetinho’ ", disse.

Com a mudança de formato das provas aplicadas no vestibular, os cursinhos viram a necessidade de mudar a forma como é dado o conteúdo. "O vestibular passou a ter questões interpretativas. O aluno precisa ter consciência do que está estudando, tanto em matérias técnicas como as mais subjetivas. Se o conteúdo do cursinho fosse superficial, não teria como o aluno passar", defende Vaz.

A prova de História da UFPR foi um exemplo da necessidade de interpretação, afirma o estudante Jorge Henrique Brasil, 18 anos. "Foi uma prova interpretativa, não precisava ter aprendido", afirmou, contrariando a necessidade do cursinho. Nas outras matérias, porém, o cursinho foi fundamental. "Aprendi muito", disse.

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