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Segunda-feira, 9 da manhã. Assim como a maioria dos brasileiros, Maria da Graça está começando mais uma semana dura de trabalho. Ruma junto a mais 60 pessoas para a prefeitura de Pinhais. Lá, porém, não vai bater cartão nem ficar dentro de um escritório. Sua missão é outra. Pretende fazer barulho em frente ao prédio até que o prefeito apareça. Quando ele chegar, a ideia é pedir atenção ao problema de moradia da cidade. "São 150 pessoas na fila e não há expectativa de casas", conta ela.

Desde 2003, quando participou da ocupação do Banestado, a vida de Maria da Graça mudou. Antes, ela nem sabia o que era um movimento social. Durante dois anos, participou da luta pela própria casa. Agora, já instalada no Sambaqui, decidiu continuar na peleja. Virou líder comunitária, entrou em movimentos sociais e hoje é coordenadora da União Nacional por Moradia Popular.

Passado

A história de Maria começa em Jacobina, no interior da Bahia – a famosa cidade em que Lampião jamais ousou entrar por não oferecer uma boa rota de fuga. Viveu lá até os 12 anos, trabalhando na roça e garimpando ouro. Vendo que a mãe não tinha dinheiro nem para a feira, decidiu fugir com uma irmã mais velha. Foram trabalhar como diaristas em Salvador. Quando conseguiu o primeiro dinheiro, mandou para a mãe. "Não pus o endereço, mas ela me achou imediatamente, não sei como. Coisa de mãe", lembra.

Aos 14, Maria já estava casada. Com o marido, veio para Curitiba, onde teve três filhos. Levou a vida normalmente, sempre trabalhando e algumas vezes sem ter o dinheiro para pagar o aluguel. Em 2003, quando um sujeito de boina convidou Maria para ir a uma ocupação, ela decidiu arriscar. E dentro do prédio do Banestado, logo mostrou que tinha o que dizer. No fim das contas acabou liderando o movimento de dissidência que separou os sem-teto da ONG que iniciou a ocupação.

"Descobrimos algumas intenções deles que não agradaram à gente. E resolvemos fazer outro caminho", conta. Hoje, Maria já tem sua casa própria. Na verdade, a primeira que construiu no terreno cedido pela prefeitura já está sendo deixada para trás. Ela e o marido estão construindo uma melhor, de alvenaria no mesmo local. Terá dois andares. Nem por isso Maria deixou a luta. Pelo contrário. Continua incentivando pessoas na cidade toda a lutar pela sua casa e pelos seus direitos. Afinal, é como ela mesma sempre diz. "Quem peleja não está morto", fala sorrindo. (RWG)

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