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O uso de animais em laboratório é controvertido e divide opiniões. Não são poucos os estudantes que se recusam a dissecar bichos | Antônio More / Agência de notícias Gazeta do Povo
O uso de animais em laboratório é controvertido e divide opiniões. Não são poucos os estudantes que se recusam a dissecar bichos| Foto: Antônio More / Agência de notícias Gazeta do Povo

Alternativa

Substâncias químicas podem substituir animais de laboratório

Róber Bachinski avalia que atualmente há condições de garantir a segurança dos humanos sem usar animais. "Com testes de células, eu já consigo mostrar se a substância é tóxica ou não, por exemplo. Além disso, os animais sentem dor, tem necessidade de liberdade e de interação com o meio social. Eles não são seres éticos, mas nós somos. Os testes com animais não foram uma tentativa errada, à época que começaram. Mas hoje, precisamos avançar", avalia.

Assim como na gestão de lixo, também no meio da pesquisa científico existem os chamados 3Rs: reduzir, que é limitar o uso de animais em testes, refinar, que significa melhorar as condições em que esses teste são realizados, e substituir (do inglês, replacement), mas esse último ainda não tem muitos investimentos. Para o pesquisador, é a substituição que vai dar o avanço no plano moral e tecnológico.

Doutorando em biotecnologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Róber Freitas Bachinski se tornou o primeiro brasileiro a receber o Lush Prize, láurea internacional que distribui anualmente cerca de R$ 1 milhão a projetos e pesquisas contra o uso de bichos como cobaias. Hoje com 28 anos, o gaúcho ficou conhecido em junho de 2007, ao ganhar na Justiça o direito de frequentar aulas do curso de Ciência Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) sem sacrificar ou dissecar animais.

Ele foi o único não europeu reconhecido na categoria Jovem Pesquisador. Como prêmio, além de uma lebre em cerâmica criada pelo escultor Nichola Theakston, recebeu cerca de R$ 30 mil, que serão investidos em um projeto focado no uso de métodos alternativos de testes nas universidades.

Em 2006, ao saber que os ratos de laboratório da UFRGS eram mortos após as pesquisas, Bachinski não pensou duas vezes: com o consentimento de uma técnica de laboratório e a ajuda de uma amiga, colocou 14 deles em duas caixas de sapato e tomou um ônibus para bem longe da universidade. Como se não bastasse, reivindicou judicialmente o direito de não frequentar as aulas de Bioquímica II e Fisiologia Animal B, que incluíam testes com animais. Após idas e vindas na Justiça, formou-se, em 2009, sem encostar em bichos nessas disciplinas. Deixou a instituição gaúcha assim que pegou o diploma: foi cursar mestrado na UFF.

Vegetariano

Natural de Santa Maria, mas criado na pequena São Vicente do Sul – município da região central gaúcha com pouco mais de 8 mil habitantes –, ele vive sua filosofia há 12 anos: não consome carne, ovos, leite ou qualquer alimento derivado de animais, nem produtos que tenham exigido algum sacrifício animal.

"Porto Alegre teve uma boa influência na minha vida. Foi onde eu comecei a ver que havia mais pessoas parecidas comigo. Lembro da primeira vez em que fui à feira orgânica da Avenida José Bonifácio e encontrei a banca da Sociedade Vegetariana Brasileira. Foi um choque ver que existia gente igual a mim, foi muito inspirador", recorda.

Recém-chegado de Londres, na Grã-Bretanha, onde ocorreu a premiação, comentou que acredita, sim no ensino de biologia sem o uso de animais. "Só se utiliza quando o professor não sabe como substituir. Há várias possibilidades. Para a bioquímica, pode-se usar enzimas. Existem métodos alternativos que trabalham com o cultivo celular para aulas práticas. Fora das universidades, ainda existe um histórico de problemas éticos e não temos tecnologia para tudo. Mas, daqui a 20 anos, vai haver uma revolução na ciência, os Estados Unidos não vão mais usar animais", acredita.

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