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Direito Digital

Debate no Senado escancara “censura” a perfis de direita

Debatedores atribuem queda de audiência em canais de direita a "censura". (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

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A Comissão de Comunicação e Direito Digital do Senado realizou nesta quinta-feira (15) um debate sobre violações à liberdade de expressão e comunicação no Brasil.

O debate, solicitado pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE), contou com a participação de jornalistas que já foram censurados nas redes sociais ou que tiveram uma queda no alcance de conteúdos nas redes sociais.

Durante a audiência, os participantes criticaram decisões de cortes superiores, incluindo o Supremo Tribunal Federal (STF), e alertaram para ações do Judiciário que, segundo eles, se caracterizam como autoritárias. 

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"Tivemos acesso a documentos e informações -com indícios fortes- de boicote a canais com posicionamentos políticos conservadores. Muitos foram desmonetizados e tiveram restrição no alcances de seus conteúdos, o que viola a Constituição Federal e leis infraconstitucionais, em seus princípios, agredindo a democracia e a dignidade do cidadão livre. Tomaremos medidas cabíveis na Casa Revisora da República a partir do que tomamos conhecimento", ressaltou o senador Eduardo Girão.

Os representantes das bigs techs também foram convidados para o debate, mas não compareceram. "Eles faltaram solenemente à sessão gerando mais dúvidas ainda sobre a sua atuação parcial e injusta nas políticas de monitoramento de conteúdos nas redes sociais dos brasileiros", mencionou Girão.

Integrantes do Tiktok, Meta e YouTube enviaram comunicados justificando a ausência. Algumas explicaram que não poderiam estar presentes em razão de agendas marcadas previamente, enquanto o YouTube mandou mensagem se negando a participar do debate.

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Censura aos conteúdos

O jornalista Alexandre Garcia, que tem canal no YouTube com quase três milhões de inscritos e é colunista da Gazeta do Povo, participou do debate no Senado. Ele disse que qualquer coisa acima da Constituição é arbítrio e criticou a censura que vem sendo imposta pelo Judiciário a alguns conteúdos.

"Não procurem responsabilizar outros, a não ser o próprio Senado. Porque a origem disso tudo está na passividade do Senado. Único órgão capaz de corrigir esse desvio da Constituição. E desvio da Constituição é gravíssimo", reforçou Garcia.

De acordo com Garcia, as redes sociais são como uma "ferramenta acessível para propagar voz e pensamentos, sem a necessidade de tutor para escolher qual conteúdo se deve consumir". 

Para o senador Marcos Pontes (PL-SP), o Congresso tem a responsabilidade de assegurar a livre manifestação, evitando que se imponha medo aos cidadãos.

"O que está por trás de tudo isso é o medo. É o medo das pessoas de se expressarem, o medo de omitir opinião, o medo das empresas de serem culpadas, é o medo que se impõe através de uma ditadura disfarçada de democracia", disse. 

O jornalista Paulo Figueiredo, que teve contas nas redes sociais e bancárias bloqueadas pela investigação no inquérito das fake news, do STF, disse que a censura está ressurgindo e escalando no mundo inteiro, com o objetivo de “sufocar as vozes dissidentes e controlar a narrativa” para levar a uma forma autoritária de poder.

Segundo Figueiredo, o Brasil, por meio do STF, tem instrumentalizado a censura para suprimir a liberdade de expressão. O jornalista levantou a hipótese de haver uma cooperação entre plataformas, cortes superiores e o governo para promover mudanças nas políticas de moderação de conteúdo. 

"A minha suspeita é que haja um expediente clandestino de cooperação entre as redes sociais, especialmente entre o YouTube e a Meta, e o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral, e até mesmo o governo Lula. E isso é grave e criminoso. Não só do lado das autoridades, mas das empresas que concordam em agir à margem da lei sob qualquer tipo de incentivo ou de pensão. Isso configura, sim, crime de corrupção", declarou Figueiredo.

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Queda no algoritmo

Um dos exemplos de queda no algoritmo apresentados na audiência foi o da Rádio Auri Verde. O locutor e apresentador do canal, Alexandre Pittoli, informou que, a partir das eleições de 2022, o perfil da emissora no YouTube teve o número de visualização severamente reduzido. Conforme dados apresentados por ele, a página passou de 2,9 milhões de visualizações para 116 mil, sem que houvesse explicação.

"Isso vem impactando financeiramente a emissora. Quem tem que decidir se não vai assistir mais é quem assiste e não a plataforma, que tem que entregar o conteúdo", disse. 

Pittoli também acusou as empresas de terem uma "black list" de termos que provocariam censura pelos algorítimos, como “ditadura da toga”, “voto impresso” e “maconha”. Os senadores Girão e Carlos Portinho (PL-RJ) apoiaram Pitolli, revelando que já tiveram conteúdos bloqueados e foram orientados a evitar certos termos.

Na avaliação de Portinho, "a expressão é livre, seja por qualquer meio, se é por televisão, por carta de papel, por jornal impresso, se é por rede social".

"Não pode haver essas restrições algorítmicas. Aquele que ofender, ultrapassar, agredir, extrapolar o seu direito que termina quando começa o do outro, ele tem o devido processo legal, isso é, numa democracia. E a gente tem que recuperar a normalidade democrática", declarou.

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Críticas ao Alexandre de Moraes

Na audiência, os participantes e parlamentares não pouparam críticas ao ministro Alexandre de Moraes. Eles acusaram o magistrado de ser um dos responsáveis por “impor” decisões “autoritárias” às plataformas, como a restrição de conteúdos, banimento de perfis e até mesmo a redução do alcance das informações de ideologia de direita ou de extrema direita. 

A série de matérias divulgadas pelo jornal Folha de S. Paulo, desde a última terça-feira (13), sobre a perseguição de Moraes aos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro também foram citadas no evento.

Trocas de mensagens entre servidores do STF e do TSE, obtidas pela Folha, mostraram que o gabinete de Alexandre de Moraes teria ordenado informalmente à Justiça Eleitoral a produção de relatórios contra apoiadores de Bolsonaro e comentaristas de direita para embasar decisões do ministro em inquéritos em andamento na Suprema Corte.

A troca de mensagens sugere que houve supostamente adulteração de documentos, prática de pesca probatória, abuso de autoridade e possíveis fraudes de provas. 

Os alvos escolhidos sofreram bloqueios de seus perfis nas redes sociais, apreensão de passaportes, intimações para depoimento à PF, entre outras medidas. Todos os pedidos para investigação e produção de relatórios eram feitos via WhatsApp, sem registros formais. 

Diante das novas revelações e de todos os relatos contra Moraes, os participantes cobraram uma "atitude" do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, em relação aos pedidos de impeachment do ministro. *Com informações da Agência Senado.

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