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O delegado Reinaldo Lobo, da 29ª DP, no Riacho Fundo, a 18 quilômetros de Brasília, surpreendeu a Corregedoria da Polícia Civil ao registrar, no dia 26 de julho, um crime em forma de poesia. O relatório, documento que faz parte do inquérito policial, não foi aprovado e teve que ser refeito.

O relatório dizia respeito a um crime de receptação, ocorrido na noite de 22 de julho, quando um homem foi flagrado por policiais militares na garupa de uma motocileta roubada.

"O preso pediu desculpa/disse que não tinha culpa/pois estava só na garupa/foi checada a situação/ele é mesmo sem noção/estava preso na domiciliar/não conseguiu mais se explicar", escreveu o delegado sobre a abordagem ao suspeito.

Mais adiante, o delegado prossegue: "Se na garupa ou no volante/sei que fiz esse flagrante/desse cara petulante/que no crime não é estreante".

A vontade de fazer um trabalho diferente motivou a redação do poema, disse o delegado. "O nosso trabalho é um pouco de idealismo. Apesar de muito árduo, ele é um pouco de fantasia, de você lutar pela reconstrução e pela melhora do mundo. Acho que isso traz muita realização e eu quis transformar isso em arte, daí a ideia da poesia."

No relatório em forma de poema, o delegado explica a inovação: "Resolvi fazê-lo em poesia/pois carrego no peito a magia/de quem ama a fantasia/de lutar pela paz contra qualquer covardia".

Lobo disse ao G1 que sua intenção era chamar a atenção de quem fosse ler o inquérito, afirmou. "Nos deparamos com situações difíceis. Naquela noite, tive vontade de transmitir uma mensagem a quem fosse ler aquele inquérito."

Apesar da criatividade, o relatório retornou da Corregedoria com o pedido de que fosse escrito nos padrões da polícia. Lobo achou melhor solicitar o ajuste a outro delegado. "Não existe nada que regre a redação oficial de um relatório. O Código de Processo Penal só exige que se narre o caso e se citem as informações importantes. O delegado deve ter liberdade de fazer isso", defende.

Esta foi a primeira vez que Reinaldo Lobo escreveu um relatório em poesia. Apesar de o formato não ter sido aceito pela Corregedoria, não houve nenhum tipo de punição ao delegado, que não abandonou completamente a ideia.

"Vou tentar um diálogo com a Corregedoria para tentar ver o que é possível fazer em harmonia", afirmou o delegado, fazendo rima.

A Corregedoria da Polícia Civil não se pronunciou sobre o caso até o fim da manhã desta quarta-feira.

O homem que estava na garupa da motocicleta roubada foi autuado em flagrante por receptação. Até o envio do relatório, informa Lobo, o rapaz permanecia preso no sistema penitenciário, porque, como escreveu em seu inquérito-poema, "a fiança foi fixada/e claro não foi paga".

Veja a íntegra do relatório do delegado"Já era quase madrugadaNeste querido Riacho FundoCidade muito amadaQue arranca elogios de todo mundo

O plantão estava tranqüiloAté que de longe se escuta um zunidoE todos passam a esperarA chegada da Polícia Militar

Logo surge a viaturaDesce um policial fardadoQue sem nenhuma frescuraTraz preso um sujeito folgado

Procura pela AutoridadeNarra a ele a sua verdadeQue o prendeu sem piedadePois sem nenhuma autorizaçãoPelas ruas ermas todo tranquilãoEstava em uma motocicleta com restrição

A Autoridade desconfiadaJá iniciou o seu sermãoMostrou ao preso a papeladaQue a sua ficha era do cãoIa checar sua situação

O preso pediu desculpaDisse que não tinha culpaPois só estava na garupa

Foi checada a situaçãoEle é mesmo sem noçãoEstava preso na domiciliarNão conseguiu mais se explicarA motocicleta era roubadaA sua boa fé era furada

Se na garupa ou no volanteSei que fiz esse flagranteDesse cara petulanteQue no crime não é estreante

Foi lavrado o flagrantePelo crime de receptaçãoPois só com a polícia atuanteProtegeremos a população

A fiança foi fixadaE claro não foi pagaE enquanto não vier a cutucadaManteremos assim preso qualquer pessoa má afamada

Já hoje aqui esteve pra testemunháA vítima, meu quase charáCuja felicidade do seu gargalhoNos fez compensar todo o trabalho

As diligências foram concluídasO inquérito me vem pra relatarMas como nesta satélite acabamos de chegarE não trouxemos os modelos pra usarResta-nos apenas inovar

Resolvi fazê-lo em poesiaPois carrego no peito a magiaDe quem ama a fantasiaDe lutar pela Paz ou contra qualquer covardia

Assim seguimos em mais um plantãoEsperando a próxima situaçãoDe terno, distintivo, pistola e caneta na mãoNo cumprimento da fé de nossa missão

Riacho Fundo, 26 de Julho de 2011

Del REINALDO LOBO63.904-4"

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